A dieta paleo original provavelmente era tóxica – ao menos na Escandinávia
Análises em restos de alimentos da época revelaram níveis de metais pesados até 20 vezes maiores que o recomendado.
A dieta paleolítica é um estilo de vida moderno que prega alimentação restrita a carnes, vegetais e frutos – parecida com a dos humanos do paleolítico, que, sem dominar a agricultura, comiam apenas o que podiam caçar ou coletar diretamente na natureza. A ideia é que, se a humanidade passou milênios dessa forma, nosso corpo está mais adaptado para esse tipo de alimentação do que para os relativamente recentes alimentos da agricultura e pecuária, como grãos ou leite.
Ela é uma tendência relativamente recente, que vem ganhando força e adeptos nas últimas décadas. Mas não é consenso entre nutricionistas – muitos argumentam que é restritiva demais e que alimentos vindos da agricultura também podem ser muito saudáveis e necessários. Enquanto o debate moderno ainda se desenvolve, um novo estudo descobriu algo inesperado: a dieta paleolítica original pode ter sido extremamente tóxica para quem a degustava, pelo menos em regiões da Escandinávia.
A descoberta vem de análises feitas por cientistas em oito sítios arqueológicos na Noruega, com idades que variam entre 6.300 e 3.800 anos. Nos locais, encontraram restos de focas e bacalhaus cortados de forma que indica que eles viraram refeição dos humanos paleolíticos. As amostras foram analisadas em laboratório e revelaram níveis altíssimos de metais pesados, como chumbo e mercúrio.
Os ossos dos bacalhaus continham mais de 20 vezes o nível máximo de cádmio e 4 vezes a quantidade de chumbo máxima estabelecidos pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar. Os restos de foca encontrados tinham até 15 vezes o nível de segurança de cádmio e também quatro vezes mais chumbo do que o considerado seguro. Em ambos os animais, o mercúrio encontrado também foi acima do desejável, embora em níveis menos alarmantes.
Metais como esses são tóxicos ao organismo quando em alta quantidade, podendo causar danos ao cérebro, rins, fígado e outros órgãos. De fato, eles existem na nossa alimentação há muito tempo: como estão presentes naturalmente na superfície terrestre, podem acabar chegando na água, onde são absorvidos pelas criaturas marinhas e finalmente chegam até nós via alimentação. Se o nível do mar aumenta por conta de mudanças climáticas, a concentração de metais nos oceanos também aumenta. E os cientistas acreditam que os níveis sejam tão altos exatamente porque, na época, o nível do mar estava aumentando.
Vale lembrar que as amostras são restritas a sítios da Noruega, onde a alimentação dos povos paleolíticos realmente dependia muito de peixes e criaturas do mar, porque o clima nórdico não é lá o melhor para uma fauna e flora muito diversa. Dessa forma, os resultados não podem ser generalizados para todas as populações paleolíticas.
E mesmo essas antigas populações talvez nem tenham sofrido tanto com isso. Também há pistas de outros estudos que mostram que eles variavam um pouco a dieta com algumas frutas e carne de animais terrestres, como coelhos. Além disso, é possível que a intoxicação por metais fosse o menor dos problemas dos nossos ancestrais. A vida no paleolítico não era das mais confortáveis, e a maioria morria jovem. Provavelmente nem viviam o suficiente para sentir a acumulação de metais causando doenças.
E, obviamente, não era uma época de fartura e luxo: era melhor comer carne contaminada mesmo do que morrer de fome.