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A vingança dos faraós negros

Durante séculos, os reis do Egito escravizaram os negros da civilização cush. Mas um dia eles revidaram. Tomaram o poder e viraram faraós. Agora, seu reinado acaba de ser reconstituído pela arqueologia. E pela informática.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h14 - Publicado em 31 ago 1997, 22h00

Escravos que viraram senhores

No ano de 715 a.C., o rei negro Shabaka, do povo cush do sul do Nilo, invadiu o Egito, derrotou os inimigos e corou-se faraó (como eram chamados os soberanos egípcios) na capital, Tebas. Começava ali a 25ª dinastia dos faraós – a dinastia cushita –, que iria durar 52 anos. Nada mau para quem foi escravo durante dois milênios.

Os gregos chamavam os cush de ethiope, que quer dizer “rosto tisnado”. Eles eram negros africanos que absorveram a cultura egípcia, misturaram com a sua e retomaram, com estilo próprio, a construção de pirâmides, mil anos depois de elas terem sido abandonadas pelos egípcios. Napata, a capital cush no pé da montanha sagrada de Gebel Barkal, chegou a ter 94 pirâmides.

Os faraós negros governaram o Egito da cidade de Tebas, até o ano 663 a.C. Mas a cidade de Meroe, no sul do Nilo, o centro econômico do império cush, durou 900 anos. Foi tão influente que deu origem à cultura meroíta (de Meroe), como prolongamento da civilização cush. Só foi destruída no sé-culo III da nossa era, pelos vizinhos da Núbia. Os cush viraram núbios. No século III, os romanos incorporaram e cristianizaram todos os povos da região. Depois, no século XIV, os núbios foram convertidos ao islamismo.

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Sabe-se pouquíssimo sobre essa cultura ancestral, que evoluiu paralelamente à egípcia. O inglês F. L. Griffith descobriu os hieróglifos cush em 1911. E as ruínas de Gebel Barkal só foram encontradas em 1923, pelo arqueólogo inglês G.A. Reisner. Mas há dois anos, pesquisadores espanhóis da Fundação Jordi Clos, de Barcelona, começaram a escavar no local e desenterraram vestígios sensacionais.

Novas descobertas

“Procuramos túmulos em toda a área perto da montanha”, diz a arqueóloga Francesca Berenger, “e não apenas nas pirâmides.” Em 1996, a equipe localizou o túmulo, magnificamente decorado, de um faraó desconhecido, Semesu Uhemu. Em janeiro passado, achou o de uma rainha. “É cedo para especular”, diz Francesca, “mas a área no pé da montanha tem dúzias de túmulos não descobertos que vão revelar muita coisa.”

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Os computadores têm ajudado os arqueólogos na reconstrução das ruínas. Baseados em gravuras e desenhos antigos, ou cópias de estátuas, os pesquisadores produziram perfeitas “fotos do passado” em estúdios de computação gráfica. Os desenhos das pirâmides de Gebel Barkal, feitos pelo francês Fréderic Caillaud no século XIX, orientaram a reconstrução integral dos monumentos (veja a página 63). Os computadores também ajudam a decifrar os hieróglifos cush comparando-os com as escrituras de outros mausoléus.

Uma outra arquitetura de pirâmides

Durante a dinastia cushita, os faraós reinaram em Mênfis e Tebas, mas construíram seus túmulos em Napata, a capital de origem. A cidade ganhou um Templo de Amon, além de monumentos e estátuas.

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As pirâmides cush tinham, em média, 12 metros de largura por 15 de altura. Eram bem menores que as egípcias: Quéops, a maior de todas, tem 230 metros de largura por 147 de altura. Os mausoléus cushitas eram mais pontudos, com 68 graus de inclinacão (contra 51 graus de Quéops). Além disso, tinham uma capela, anexa, com porta de entrada.

Os cush cultuavam deuses egípcios e africanos, como Apedemek, o deus-leão. Napata foi sempre a capital religiosa, mas Meroe prosperou como pólo econômico. Eles eram fazendeiros, comerciantes e tinham uma avançada metalurgia alimentada a lenha.

No começo da era cristã, rainhas poderosas marcaram a cultura meroíta – as kandake. Em afrescos, elas são retratadas como mulheres grandes e agressivas, que arrastavam inimigos pelos cabelos. No ano 23 d.C., o prefeito romano no Egito invadiu Napata e recebeu uma delegação meroíta chefiada por uma kandake. Contou que ela tinha “seios maiores que bebês gordos”.

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Muita coisa se desconhece. A começar pelos hieróglifos. “Pusemos mil inscrições no computador”, diz o lingüista Jean Leclant. “São nomes de reis e seus familiares. Mas não sabemos o que dizem. Para entender o alfabeto, precisaríamos comparar dois textos idênticos, um em egípcio e outro em meroíta”. Restam ainda muitos capítulos inéditos da história dos faraós negros.

Para saber mais

À Procura dos Mundos Perdidos. Henri-Paul Eydoux. São Paulo, Melhoramentos, 1967.

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As Primeiras Civilizações. Os Impérios de Bronze. Pierre Lèvêque. São Paulo, Edições 70, 1990.

A herança opulenta

Os cush absorveram a influência egípcia e renovaram a sua cultura.

Em 4 000 anos de história egípcia, de 4500 a.C. a 332 a.C, 31 dinastias se sucederam. Desde a primeira, os faraós já escravizavam os povos negros do sul. Os cushitas carregaram muita pedra para as pirâmides.

Em 1915 a.C., o faraó Sesostris dominou toda a região ao sul da segunda catarata do Nilo (veja mapa na página 62). Houve várias rebeliões. Em 1514 a.C., Amenhotep, de Tebas, sufocou os últimos revoltosos. A região virou uma colônia até que, com as guerras civis egípcias, em 1075 a.C, os cushitas reconquistaram a independência.

No ano 800 a.C., um poderoso reino cush começou a florescer. A partir de 730 a.C, os reis Kashta e, depois, Piankhi invadiram e conquistaram o Egito. Em 715 a.C., Shabaka completou a conquista e fundou a 25ª- dinastia.

Devotos do deus Amon, os cushitas identificavam-se com a opulência de Tebas e consideravam os egípcios do norte como degenerados. Uma invasão síria, em 663 a.C, acabou com o império dos faraós negros.

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