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Animais marinhos: vizinhos da pesada

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h11 - Publicado em 30 jun 1998, 22h00

Alexandre Mansur, do Rio de Janeiro

Boas notícias. Doze anos depois da proibição da caça aos cetáceos no país, nunca tantas baleias e tantos golfinhos foram vistos nas costas do Brasil. Animais como a baleia-franca, a jubarte e a orca têm aparecido nadando até diante das praias do Rio de Janeiro. Com o mar cheio, biólogos e oceanógrafos de vários Estados reuniram informação suficiente para decifrar o local de moradia e as rotas de migração de quase todas as 34 espécies que passam ou residem por aqui.

Apesar de volumosos, os bichões não são nada fáceis de acompanhar no meio de tanto mar. Para detectá-los, os pesquisadores usam todos os meios disponíveis: desde aviões que sobrevoam o oceano até a observação de encalhes ou capturas acidentais em redes de pescadores. Mesmo assim, os seis animais mais ariscos (quatro tipos de baleia e dois de golfinho) ainda não foram localizados com precisão. Cruzando as informações existentes, a SUPER montou um quadro geral do que já se sabe. Com vocês, pela primeira vez, o mapa de onde residem ou viajam os nossos, às vezes pesados mas quase sempre simpáticos, vizinhos.

Abram alas que elas querem passar

Desde 1986, quando o Brasil proibiu a caça aos golfinhos, e de 1987, quando a proibição foi estendida às baleias, a turma da pesada vem aumentando. Mas como se sabe isso se ninguém, afinal, fez um censo dos cetáceos? “A resposta exige paciência de monge”, diz o oceanógrafo Alexandre Zerbini, do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo. Para inventariar as espécies, os pesquisadores percorrem o litoral de navio, sobrevoam mar aberto, acompanham encalhes e investigam capturas involuntárias de pescadores. O contato visual com o animal, a chamada avistagem, é fundamental. Cada notícia sobre aparecimento de baleias, relatórios de pesca ou observação de navegantes ajuda a montar o mapa. Entre 1975 e 1984 houve cinco encalhes de jubarte em praias brasileiras. Entre 1985 e 1994, o número pulou para trinta. “Esse é um forte indício de que as populações estão se recuperando”, explica o biólogo Salvatore Siciliano, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Das baleias que encalham no Brasil, 31% são jubartes, 30% minkes, 24% francas e 12% brydes.

Grandes indícios

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“A quantidade de avistagens no mar também aumentou”, diz Márcio Martins, pesquisador do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars), que uma vez por mês percorre a costa daquele Estado procurando carcaças na praia. “As baleias francas estão indo mais para o norte, expandindo a área de reprodução”, afirma. Recentemente, o Gemars descobriu dois filhotes de franca mortos e encalhados na areia. Tinham cordão umbelical e apenas 5 metros de comprimento. “Eram bebês. Isso indica que mais filhotes estão nascendo na temporada reprodutiva.”

Com exceção da baleia bryde, as baleias misticetas (com barbatanas em lugar de dentes), como a azul, a jubarte e a franca, migram, todo ano. Elas passam o verão austral, de novembro a junho, comendo krill, um pequeno crustáceo da Antártida, enquanto o sol ilumina o Pólo Sul. Quando chega o inverno, buscam águas quentes e rasas para se reproduzir. As jubartes e francas, freqüentemente solitárias, preferem o litoral de Santa Catarina e o Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, enquanto a azul, a sei, a fin e a minke nadam em alto-mar. Por isso, os encalhes das espécies de alto-mar nas praias são bem mais raros.

O raro e o comum

Em geral, as baleias e golfinhos odontocetos (com dentes) não migram. São gregários e circulam em grupos, viajando grandes distâncias atrás de cardumes, mas voltando à região de origem. Quando são litorâneos, ocupam áreas restritas, como a já famosa Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha. Não dá para arriscar um palpite sobre a população de golfinhos. “Eles são muitos e estão por toda parte. Precisaria de um estudo mais aprofundado”, diz Ignácio Moreno, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Há apenas dois tipos de golfinhos de água doce no Brasil: o boto-cor-de-rosa e o boto-cinza ou boto-tucuxi. Ambos vivem na bacia amazônica. “Embora tenha fama de ameaçado, o boto-cor-de-rosa está seguro por enquanto. Sua população é estável”, garante a bióloga Vera da Silva, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), em Manaus.

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Os pesquisadores sofrem, mesmo, é com as espécies misteriosas. O golfinho pontopória é tão arisco que, embora freqüente em águas rasas, quase nunca é visto. “Ele tem a cor do mar, preferem regiões turvas, não salta e se alimenta de peixes no fundo”, lamenta-se o biólogo Eduardo Secchi, do Laboratório de Mamíferos Marinhos do Museu Oceanográfico Professor Eliezer Rios, em Rio Grande (RS). O pesquisador que o avista vibra como um acertador da loteria.

Da terra para o mar

Como mamíferos terrestres viraram baleias e golfinhos.

Há 65 milhões de anos

Com o fim dos dinossauros, os mamíferos proliferaram. Um bicho como este, da ordem condylarthtra, foi o ancestral dos cetáceos (baleias e golfinhos), artiodáctilos (hipopótamos e vacas), perissodáctilos (cavalos), probossídeos (elefantes) e sirênios (peixes-boi). Um verdadeiro curinga da Evolução.

Há 50 milhões de anos

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Os mesonichideos, descendentes dos condylarthtra, perderam os pêlos e adaptaram o corpo para caçar peixes em rios e lagos. Ao nadar para o mar, viraram archaeocetos. Tinham dentes, como mamíferos terrestres, e narinas no topo da cabeça. O rabo virou uma potente nadadeira.

Há 28 milhões de anos

Surgiram os cetáceos modernos, divididos em duas subordens: os misticetos (que têm barbatanas em vez de dentes) e os odontocetos (com dentes).

O primo ágil

Cachalotes (baleias com dentes) e golfinhos (também conhecidos como botos) são odontocetos. Sua principal característica é o tamanho pequeno e a extrema agilidade.

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Pane no sonar

Por que baleias e golfinhos encalham nas praias?

Além de emitir sons para se comunicar – estalos, assobios e cliques – os cetáceos usam-nos para ecolocação: os sons refletem em objetos e retornam como eco, orientando a rota. Têm, também, a capacidade de detectar o campo magnético da Terra, deduzindo a direção norte-sul para migrações. Os encalhes em massa não são suicídios coletivos. Resultam de falhas no sistema de eco, que geram erros fatais de navegação. Pôster

O mar dos mamíferos

Os 7 400 quilômetros da costa do Brasil são habitados por 32 espécies de cetáceos – baleias, golfinhos, todos mamíferos. Além dessas, há mais duas espécies de golfinhos fluviais, que são os botos da bacia amazônica. Neste pôster inédito, preparado com exclusividade pela SUPER, você pode conhecer todas. A área exata do hábitat de cada espécie está indicada nos mapas menores. Acompanhe também o roteiro anual das baleias migratórias.

Golfinho-comum (Delphinus delphis)

Tamanho: 2,3 metros

Peso: 75 quilos

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Boto-cinza (Tucuxi) (Sotalia fluviatilis)

Tamanho: 1,7 metros

Peso: 40 quilos

Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis)

Tamanho: 2 metros

Peso: 140 quilos

Baleia-de-bryde (Balaenoptera edeni)

Tamanho: 13,7 metros

Peso: 18 toneladas

Golfinho-cabeça-de-melão (Peponocephala electra)

Tamanho: 2,4 metros

Peso: 160 quilos

Golfinho-flíper (Tursiops truncatus)

Tamanho: 2,5 metros

Peso: 300 quilos

Boto-cinza marinho (Sotalia fluviatilis)

Tamanho: 1,7 metros

Peso: 40 quilos

Falsa-orca (Pseudorca crassidens)

Tamanho: 5 metros

Peso: 2 toneladas

Golfinho-pintado-do-atlântico (Stelenna frontalis)

Tamanho: 2 metros

Peso: 90 quilos

Golfinho-pontopória (Pontoporia blainvillei)

Tamanho: 1,3 metro

Peso: 45 quilos

Orca (Orcinus orca)

Tamanho: 8 metros

Peso: 7 toneladas

Boto-de-burmeister (Phocoena spinipinnis)

Tamanho: 1,5 metro

Peso: 60 quilos

Golfinho-rotador (Stenella longirostris)

Tamanho: 2 metros

Peso: 75 quilos

Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis)

Tamanho: 2,4 metros

Peso: 140 quilos

Baleia-piloto-de-aleta-longa (Globicephala melas)

Tamanho: 6 metros

Peso: 3,5 toneladas

Baleia-bicuda-de-cabeça-plana-do-sul (Hyperoodon planifrons)

Tamanho: 7 metros

Peso: 3,5 toneladas

Cachalote-anão (Kogia simus)

Tamanho: 2,3 metros

Peso: 200 quilos

Golfinho-clímene (Stenella clymene)

Tamanho: 2 metros

Peso: 79 quilos

Baleia-piloto-de-aleta-curta (Globicephala macrorhynchus)

Tamanho: 5,5 metros

Peso: 3 toneladas

Golfinho-de-risso (Grampus griseus)

Tamanho: 3 metros

Peso: 600 quilos

Cachalote (Physeter macrocephalus)

Tamanho: 16 metros

Peso: 45 toneladas

Cachalote-pigmeu (Kogia breviceps)

Tamanho: 2,7 metros

Peso: 300 quilos

Baleia-bicuda-de-cuvier (Ziphius cavirostris)

Tamanho: 7 metros

Peso: 3 toneladas

Baleia-bicuda-de-gray (Mesoplodon grayi)

Tamanho: 4,5 metros

Peso: 1 tonelada

Baleia-bicuda-de-blainville (Mesoplon densirostris)

Tamanho: 4 metros

Peso: 1 tonelada

Golfinho-pintado-tropical (Stenella attenuata)

Tamanho: 2 metros

Peso: 100 quilos

Golfinho-listrado (Stenella coeruleoalba)

Tamanho: 2,3 metros

Peso: 120 quilos

Golfinho-de-fraser (Lagenodelphis hosei)

Tamanho: 2 metros

Peso: 170 quilos

As migrações

As baleias franca e jubarte passam o verão na Antártida e o inverno nas costas de Santa Catarina e do Nordeste. As baleias azul, fin, sei e minke também saem da Antártida, no inverno, em busca de águas mais quentes, mas nadam no meio do Oceano Atlântico.

Baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae)

Tamanho: 14 metros

Peso: 30 toneladas

Baleia-franca (Eubalaena australis)

Tamanho: 15 metros

Peso: 100 toneladas

Baleia-azul (Balaenoptera musculus)

Tamanho: 30 metros

Peso: 140 toneladas

Baleia-minke (Balaenoptera acutorostrata)

Tamanho: 8 metros

Peso: 8 toneladas

Baleia-sei (Balaenoptera borealis)

Tamanho: 17 metros

Peso: 25 toneladas

Baleia-fin (Balaenoptera physalus)

Tamanho: 22 metros

Peso: 75 toneladas

A SUPER usou dados e informações de vários institutos e pesquisadores para elaborar este mapa. Contribuíram para este trabalho: Alexandre Zerbini, do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo; Salvatore Siciliano, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Márcio Martins, do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul; Ignácio Moreno, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Vera da Silva, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia; Eduardo Secchi, do Laboratório de Mamíferos Marinhos do Museu Oceanográfico Professor Eliezer Rios, em Rio Grande (RS); Bia Hetzel e Liliane Lodi, autoras do livro Baleias, Botos e Golfinhos: Guia de Identificação para o Brasil (Editora Nova Fronteira, 1993). Ilustrações Newton Verlangieri.

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