Código Morse: quem inventou e como funciona o sistema
Além de SOS: conheça a história por trás da invenção, entenda o funcionamento do aparelho e saiba como o código evoluiu.
• • • – – – • • •. Você conhece essa mensagem, embora não a identifique imediatamente. É a mais famosa em código Morse: SOS, um pedido de socorro. O que talvez você não saiba é que esse sistema que revolucionou a comunicação surgiu depois que um pintor e político americano se frustrou com um mensageiro e um bilhete de papel.
Seu nome era Samuel Finley Breese Morse. Ele nasceu na cidade de Charlestown (Massachusetts) em 1791 e, aos vinte anos, mudou-se para a Inglaterra com a missão de aprender os segredos da pintura. Quando voltou aos Estados Unidos, em 1815, percorreu a costa leste do país pintando retratos até se tornar um artista reconhecido.
Dez anos depois, ele morava em New Haven (Connecticut) com seus filhos e sua esposa grávida, quando recebeu uma encomenda: pintar o retrato do marquês de Lafayette, então considerado um herói da revolução francesa e da guerra de independência dos EUA. Para isso, teria de ir imediatamente para Washington (a 440 quilômetros dali). Ele topou – e deixou a esposa em casa, prestes a parir.
Quando Morse já estava hospedado em Washington, uma semana depois, um mensageiro chegou ao seu encontro, avisando-o de que sua esposa havia entrado em trabalho de parto e não estava bem. O pintor resolveu voltar – mas você deve imaginar que tal viagem a cavalo demorava um bocado. Não deu tempo: ela morreu antes.
Depois que sua esposa morreu, Morse fez o retrato de Lafayette, virou professor universitário de arte em Nova York, concorreu à prefeitura da cidade e… inventou o telégrafo, para enfim possibilitar a comunicação à distância – e, quem sabe, evitar histórias trágicas como a dele.
O telégrafo e o código Morse
O americano inventou o telégrafo entre 1832 e 1835, mas só patenteou o aparelho e se dedicou completamente a ele em 1837 – época em que outros inventores estavam trabalhando em bugigangas semelhantes. Morse então se juntou a dois amigos para desenvolver seu projeto. Foi com um deles, Alfred Vail, que ele desenvolveu o sistema de pontos e traços que ficaria conhecido mundialmente.
O telégrafo funcionava transmitindo mensagens com sinais elétricos entre dois aparelhos. O aparelho receptor continha um eletroímã, que movia uma estrutura quando recebia um pulso de eletricidade. Essa estrutura era conectada a um rolo de tinta, que podia marcar uma tira de papel com pontos e traços. (Teleimpressores, aparelhos telegráficos que imprimiam a mensagem recebida em caracteres normais, só surgiram bem depois: sua disseminação aconteceu na década de 1930.)
Em 1838, Morse e Vail criaram o sistema para representar letras do alfabeto e números – incluindo espaços para separar as letras, palavras e frases. Em 1843, Morse obteve apoio financeiro do Congresso americano para a construção da primeira linha telegráfica no país, de Baltimore a Washington (uma distância de 60 quilômetros). Ele enviou a primeira mensagem no ano seguinte: “What hath God wrought” (“O que Deus fez”, em tradução livre), uma frase do livro Números, da Bíblia.
Com o tempo, as linhas telegráficas se ampliaram nos Estados Unidos e na Europa. Para transmitir textos em outros idiomas que não o inglês, criou-se o código Morse internacional em 1851. Este usava traços de comprimentos constantes em vez de variáveis e incluiu sinais diacríticos, por exemplo.
Assim, o código Morse se disseminou ainda mais e não se restringiu aos sinais elétricos do telégrafo. É possível transmitir uma mensagem com uma fonte de luz, ligando-a repetidamente com intervalos diferentes, ou via ondas de rádio, por exemplo – sendo a radiotelegrafia inventada pelo italiano Guglielmo Marconi, no final do século 19.
Com a invenção do telefone, o sistema foi perdendo espaço na comunicação interpessoal, mas continuou forte entre embarcações. O código foi usado pela indústria naval e para a segurança marítima até o início da década de 1990. Em 1999, ele foi substituído pelo Sistema Global de Socorro e Segurança Marítima.
Consultamos o livro Palácio da Memória, de Nate DiMeo.