Dois ingleses e o Islã
Depois de ler os dois livros, talvez você nem ache tão difícil montar o quebra-cabeça dos conflitos políticos e religiosos de boa parte do mundo.
Leandro Sarmatz
Albert Hourani e Karen Armstrong são ingleses que conhecem como ninguém a história e a religião dos povos do Oriente Médio. Hourani, um historiador filho de imigrantes libaneses, é autor do clássico Uma História dos Povos Árabes (Companhia das Letras) – uma das obras mais ambiciosas e completas sobre os povos da região. Trata-se de uma espécie de história do mundo tendo os árabes – e não os europeus – como protagonistas. Não que Hourani seja um intelectual antiocidente. Ao contrário: foi um típico professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, até morrer, em 1993. O resultado é um texto equilibrado e preciso sobre a história do mundo antes e depois de Maomé até os conflitos entre Israel e Palestina na segunda metade do século XX. E transmitido numa prosa escorreita.
Karen Armstrong, ex-freira católica e uma das maiores especialistas mundiais em religião, é autora de Em Nome de Deus: O Fundamentalismo no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo (Companhia das Letras), uma bela e exaustiva pesquisa sobre a origem do fundamentalismo não somente no islamismo, mas também no cristianismo e no judaísmo. A estudiosa inglesa lembra que o fundamentalismo como o conhecemos não é uma herança do Islã, mas um fenômeno que remonta ao início do século XX – quando grupos de evangélicos americanos começaram a reivindicar uma leitura mais literal dos textos religiosos, uma volta aos “fundamentos” da religião.
Depois de ler os dois livros, talvez você nem ache tão difícil montar o quebra-cabeça dos conflitos políticos e religiosos de boa parte do mundo.
Rodrigo Cavalcante
lsarmatz@abril.com.br