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E se imposto não existisse?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h25 - Publicado em 25 Maio 2011, 22h00

Fernando Brito

Isso pode doer no coração e no bolso, mas a verdade é que não chegaríamos muito longe sem tributos. Grandes conquistas da civilização só foram possíveis graças à riqueza acumuladas com os impostos. Foi com dinheiro público que reis, imperadores e presidentes nos levaram a conquistas, desde as mais simples – como a construção de estradas – até as mais complexas – como a chegada do homem à Lua.

Até o próprio governo como o conhecemos só existe por causa dos impostos. Tudo começou como uma forma de reverência: nas primeiras civilizações, os tributos serviram como oferenda a reis que se consideravam divindades. Não eram revertidos em nenhum serviço à população. Tinham a função de diferenciar os senhores dos súditos. (Não à toa a palavra “tributo” serve tanto para imposto como para homenagem.) Era essa divisão que dava status e legitimidade aos líderes.

Se o imposto não tivesse surgido, os primeiros governantes seriam fracos. Fariam mandatos sem muitas realizações. Ainda que estivessem determinados a organizar a vida da comunidade, não teriam estímulo para tomar decisões importantes: não receberiam salário pela função nem contariam com caixa para financiar grandes empreitadas, como guerras ou reformas relevantes. Assim, o desenvolvimento da sociedade dependeria de iniciativas individuais ou de grupos organizados, que juntariam seus recursos e esforços para melhorar a vida.

Não teríamos ido muito além das tribos primitivas que ainda existem, como indígenas, esquimós e aborígenes. Democracia, direitos fundamentais, conhecimento tecnológico, tudo avançaria pouco. Nossa vida seria bem mais simples, como você vê a seguir.

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Privatização

Todos os serviços seriam cobrados, mesmo os mais básicos. Quer andar em rua pavimentada? Precisa pagar. Sua casa pegou fogo e os bombeiros apareceram? Prepare-se para receber a conta. O mesmo vale para educação, iluminação pública… Em compensação, só pagaríamos pelo que realmente usássemos.

Vida breve

Morre-se mais cedo em uma sociedade tribal. Entre os índios brasileiros, a expectativa de vida é de 46 anos, contra 73 na população em geral. Sem vacinação nem assistência públicas, até diarreia e sarampo podem matar. Uma grande população doente deixaria vulnerável até quem pagasse por serviço de saúde particular.

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Credos de sobra

Milhares de seitas conviveriam sem que nenhuma fé se impusesse. Religiões, historicamente, sempre se associaram ao Estado para se fortalecer. A católica, por exemplo, só se disseminou ao virar a religião oficial do Império Romano. Em alguns casos, fé e governo eram quase a mesma coisa – no Brasil, a separação entre Igreja e Estado veio com a proclamação da República.

Só na carroça.

A inovação viria de empresas, mas faltaria fôlego para grandes investimentos. E serviço que não desse lucro não seria explorado. Carros elétricos, por exemplo, rodam hoje graças a subsídios que os tornam acessíveis – sem ajuda governamental, os fabricantes não venderiam nada. Por isso, uma sociedade sem tributos seria menos desenvolvida.

Vida lôka

Sem dinheiro, o governo não teria como manter polícia ou Poder Judiciário. Teríamos menos segurança nas ruas. (Até porque nem iluminação pública existiria.) E o pessoal faria justiça com as próprias mãos. Pena de morte e castigos físicos seriam corriqueiros, já que faltaria dinheiro para manter cadeias.


Fonte Henrique Oliveira, advogado tributarista do escritório Trigueiro Fontes; Departamento do Tesouro dos EUA; Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; Fundação Heritage; Banco Mundial; Chutando a Escada, Ha-Joon Chang.

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