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Estalagmites em caverna ajudam a explicar o colapso da civilização maia

Secas severas na América Central, registradas em rochas do México, contribuíram para o declínio deste povo há mil anos.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 5 set 2025, 17h17 - Publicado em 5 set 2025, 08h00

Há cerca de 1.200 anos, uma espécie de apocalipse se iniciou na América Central: a civilização maia, que por séculos dominou politicamente e culturalmente a região, entrou em crise. Ao longo de duzentos anos, as cidades conhecidas por suas pirâmides e templos foram abandonadas, dinastias reais chegaram ao fim, populações migraram para o norte e o poder político e cultural dos maia diminuiu drasticamente. O que aconteceu?

Historiadores elencam vários motivos que explicam este colapso – guerras, doenças, superpopulação e outros. Agora, um novo estudo reforça o papel de outra variável nesta história: a seca extrema. Analisando material mineral de cavernas no México, pesquisadores encontraram sinais de longos períodos sem chuva que provavelmente causaram uma crise na agricultura e fome generalizada.

O declínio em questão marcou o fim do chamado Período Clássico (250 d.C. – 900 d.C.), o auge desta civilização pré-colombiana. Os maias não desapareceram por completo depois disso – até hoje há pelo menos 10 milhões de seus descendentes vivendo na América Latina –, mas perderam muito de seu poder e influência. 

Os pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, analisaram a composição química de uma única estalagmite de uma caverna na península de Yucatán, no sul do México. Estalagmites são estruturas formadas no chão de cavernas quando a água goteja do teto – e, ao longo de décadas e séculos, os minerais presentes no líquido se acumulam em depósitos alongados. (Estalactites, por sua vez, crescem no teto, como as da foto acima.)

Analisar a composição química de cada camada de uma estalagmite fornece informações sobre como o clima e as condições ambientais foram mudando ao longo do tempo de formação da estrutura. No caso do novo estudo, publicado na revista Science Advances, a estalagmite examinada preservava dados que iam do ano 871 d.C. até 1021 d.C., segundo a datação radiométrica dos cientistas – justamente a fase final do Período Clássico maia.

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Verificando a quantidade de diferentes isótopos do oxigênio nas camadas da estalagmite, os pesquisadores descobriram que, durante o intervalo analisado, ocorreram pelo menos oito períodos de seca que duraram no mínimo três anos cada. A estiagem mais longa persistiu por chocantes 13 anos, entre 929 d.C. e 942 d.C. No total, os maias enfrentaram cerca de 44 anos não-consecutivos de falta de chuvas nos dois séculos que marcaram seu colapso.

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Este não é o primeiro estudo que elenca a estiagem como um dos motivos para o declínio da civilização – já se sabia desta relação há muito tempo, inclusive porque os próprios maias deixaram alguns registros climáticos por escrito. O que o artigo traz de inédito é a medição precisa das secas, com detalhamento na casa dos meses, o que permite comparar as informações climáticas com dados arqueológicos do mesmo período. Isso revela que, de fato, durante as secas a produção de monumentos, construções, textos e trabalhos artísticos caiu drasticamente entre os maias.

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Por exemplo: os períodos de seca identificados pelos pesquisadores coincidem com menos atividades na cidade de Chichén Itzá, um importante sítio arqueológico maia no sul do México (e relativamente próximo à caverna). 

“Isso não significa necessariamente que os maias abandonaram completamente Chichén Itzá durante esses períodos de seca severa”, explica Daniel James, pesquisador de Cambridge e um dos autores do estudo. “Mas é provável que eles tivessem coisas mais urgentes com que se preocupar do que construir monumentos, como cuidar das plantações.”

Curiosamente, os maias eram conhecidos por seus sistemas hidráulicos avançados, com a construção de redes complexas de canais para transportar a água e reservatórios grandes e cisternas subterrâneas para armazená-la. Mesmo isso não foi o suficiente para enfrentar as secas severas, no entanto. Muito dependentes da agricultura, com destaque para a plantação do milho – que é bastante sensível a mudanças no clima –, os maias tiveram que migrar para o Norte e viver em grupos menores e menos influentes. 

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Apesar de afetada, Chichén Itzá curiosamente foi uma das que conseguiu sobreviver a esse declínio e, após se adaptar, assumiu o protagonismo entre os centros urbanos maias no chamado período Pós-Clássico. Já as cidades mais ao sul, na América Central, enfrentam um colapso mais acentuado e algumas foram abandonadas para sempre, como Tikal, na Guatemala.

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