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Freud explicou

A Psicanálise já se incorporou ao nosso dia-a-dia. Palavras como inconsciente, líbido, ou neurose viraram de uso comum, embora nem sempre se saiba o ue querem dizer. Quando surgiu, porém, no final do século passado, essa teoria foi combatida ferozmente e seu autor, Sigmund Freud, submetido a pesadas acusações. Mas não desanimou. O que o movia era a vontade de explicar, antes de tudo, a si mesmo e vencer os demônios que o atormentavam

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h13 - Publicado em 30 nov 1987, 22h00

José Tadeu Arantes

Quando tinha 7 anos, Sigmund Freud ouviu o pai dizer num momento de mau humor: “Esse menino nunca vai ser nada na vida”. Ele só tornaria a lembrar essa frase, a muito custo, aos 41 anos. Então, naquele finzinho do século XIX, era um médico brilhante em Viena, a celebrada capital do Império Austro-Húngaro. Era também um cientista fascinado pelos mistérios do psiquismo humano e isso o levou a empreender uma longa e dolorosa viagem ao interior de si mesmo.

Essa busca do autoconhecimento consumiu-lhe três anos e permitiu que libertasse do porão da memória episódios traumáticos da infância como a morte do irmão menor e a culpa que isso lhe provocou ou a perturbadora visão da mãe nua. Para defender-se dos fantasmas do passado, ele havia transformado a própria infância numa paisagem nublada, quase irreconhecível. Mas ao dissipar-se a névoa, graças ao extraordinário esforço para reconstituir o tempo esquecido, percebeu que, sem saber, passara a vida tratando de impedir que aquilo que lhe pareceu uma profecia paterna se cumprisse. Conseguiu, como se sabe. Fundador da Psicanálise, um dos mais originais pensadores dos tempos modernos, Sigmund Freud a tal ponto marcou a ciência, a cultura, a arte e a vida das pessoas que já nem se pode imaginar o século XX sem ele. Afinal, como se diz no Brasil, Freud explica.

Seu interesse pela mente humana manifestara-se anos antes da autoanálise que acabaria abrindo as portas para um novo território do conhecimento—com certeza em 1882, quando era médico-residente no Hospital Geral de Viena e tornou-se assistente do anatomista Theodor Meynert, o todo-poderoso chefe do Departamento de Neuropatologia. A trajetória de Freud havia sido, até ali, uma seqüência de brilhantes sucessos.

Com apenas 9 anos, ingressara no ginásio, para logo se tornar o primeiro da classe e se graduar “com louvor”. Aos 17 anos, já estava na Universidade de Viena, como estudante de Medicina, movido por uma enorme vontade de saber. Não fora fácil escolher a Faculdade de Medicina: seus interesses intelectuais puxavam-no para vários lados. Também dentro da faculdade foi difícil escolher uma especialização. Decidiu-se finalmente pelo curso de Fisiologia, de Ernst von Brücke.

Brücke, como Meynert, era um ardoroso partidário da opinião do físico alemão Hermann von Helmholtz (1821-1894) de que “nenhuma outra força além das conhecidas forças físico-químicas é ativa no organismo”. Para eles, a Biologia e conseqüentemente. a Medicina não eram mais ue extensões da Física. Essas idéias, que as investigações psicanalíticas de Freud o forçaram a abandonar anos mais tarde, não deixaram, porém, de influenciar o seu pensamento.

Freud concluiu o curso de Medicina com excelentes notas. e tudo parecia encaminhá-lo para a pesquisa científica, atividade em que já havia dado mostras de grande talento nos tempos de estudante. Absolutamente convencido de que estava destinado a ser um grande homem, a cada passo pensava o que seus futuros biógrafos escreveriam a respeito. Sua fantasia correspondia plenamente aos desejos dos pais, comerciante de lã Jakob Freud e sua mulher, Amalie Nathansohn.

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Quando Sigmund nasceu, no dia 6 de maio de 1856, na cidadezinha de Freiberg, Morávia (hoje Pribor, Tchecoslováquia), primeiro dos seis filhos do casal Freud—dois homens e quatro mulheres—, um fato deu ao comerciante Jakob a sensação de que estava diante de um acontecimento excepcional. O menino veio ao mundo envolvido na membrana amniótica, e isso foi interpretado como augúrio de um futuro brilhante. Seus pais nunca abandonaram essa perspectiva dando-lhe um tratamento privilegiado em relação aos irmãos: o melhor quarto da casa era dele; uma irmã foi proibida de tocar piano, porque isso perturbava os seus estudos.

Outro fator influenciava também a ambição do jovem Freud. A consciência de ser judeu num mundo anti-semita. Isso era sinônimo de um esforço sem trégua: se o judeu não pudesse provar que estava entre os melhores, diriam automaticamente que era o pior. Mas, quando concluiu o curso de Medicina, aos 22 anos, em 1882, um fato veio alterar os planos que tinha traçado para si mesmo: a súbita paixão e a perspectiva de casamento com Martha Bernays — seu único relacionamento amoroso conhecido. A necessidade de fazer dinheiro rapidamente para sustentar uma futura família o levou a trocar a pesquisa científica pela residência médica, com vistas a montar uma clínica particular.

O noivado com Martha foi uma experiência turbulenta. Como ela morasse em outra cidade eles se viam pouco, mas Freud lhe escreveu nada menos que novecentas cartas, algumas ardentemente apaixonadas. Quando se encontravam porém, a possessividade e o ciúme doentio de Freud quase punham tudo a perder. A falta de dinheiro, de qualquer forma, foi adiando o casamento, sucessivamente, até 1886. Depois que se casaram, a relação tornou-se morna e rotineira. Mas eles nunca se separaram.

Nesse meio tempo. a vontade de saber e o desejo de notoriedade voltaram a empurrar Freud para os braços da ciência. Como assistente de Meynert e logo livre-docente em Neuropatologia, fez importantes pesquisas sobre a medula e também sobre os efeitos do uso da cocaína. Freud contava com a própria experiência: numa época em que a droga não era proibida nem sofria qualquer tipo de interdição, ele era um consumidor habitual.

Por influência de Brücke e para desapontamento de Meynert, Freud obteve da universidade uma bolsa de estudos para um estágio de alguns meses em Paris, para estudar com o célebre Jean-Martin Charcot, no hospital da Salpêtrière. Antes de partir, queimou um diário intimo que cobria nada menos que catorze anos de vida.

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Freud, então, estava intensamente interessado no fenômeno da histeria, área em que Charcot vinha realizando experiências pioneiras e absolutamente espetaculares mediante o uso da hipnose. Para Meynert, como aliás para toda a Psiquiatria ortodoxa da época, a histeria era simplesmente uma falsa doença.

As mulheres histéricas (a histeria era considerada algo que só afetava as mulheres) eram vistas como meras fingidoras e Charcot, como charlatão.

Um dos grandes méritos de Freud foi ter levado a histeria a sério, dispondo-se a ouvir as pacientes com atenção e respeito. Por alguma estranha intuição, ele sabia que o desvendamento dos conflitos íntimos que atormentavam a si próprio dependia da compreensão do que se passava com aquelas infelizes mulheres. Quando decidiu mergulhar de cabeça no estudo da mente humana, adotou como lema a célebre inscrição gravada no pórtico do templo de Apolo em Delfos, Grécia: “Conhece-te a ti mesmo”.

Antes de partir para o decisivo estágio em Paris, Freud estudara a histeria em Viena, em intima colaboração com Josof Breuer, que vinha tratando, com excepcional dedicação, um caso de histeria que se tornou clássico na história da Psicanálise—o de Fraulein (senhorita) Anna O., pseudônimo de uma jovem de 21 anos, de altos dotes intelectuais, que após a morte do pai passou a apresentar variados sintomas psicossomáticos, como sérias perturbações de visão e audição, freqüentes paralisias nos membros, incapacidade de comer e beber, estados de ausência etc.

Utilizando-se da hipnose, Breuer conseguiu que sua paciente recordasse as cenas traumáticas que haviam desencadeado a neurose, todas elas relacionadas com o estado de extrema tensão emocional vivida durante a longa doença e a morte do pai. Verificou também, espantado, que o simples fato de narrar as cenas produzia em Anna um alivio imediato dos sintomas psicossomáticos. Esse procedimento, adotado repetidas vezes, num tratamento persistente e prolongado, levou à eliminação de praticamente todos os sintomas. Mais tarde, Freud mostraria que os traumas psicológicos como os vividos por Anna eram apenas os elementos deflagradores da neurose, cuja verdadeira origem deveria ser buscada muito atrás, na mais remota infância do doente.

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Quando voltou de seu estágio em Paris, Freud publicou juntamente com Breuer os Estudos sobre a Histeria, uma espécie de marco inicial da Psicanálise. Então, ele já havia substituído na investigação psicológica o método catártico provocado pela hipnose pelo método da livre associação.

Logo Breuer deixaria de acompanhar Freud em sua crescente convicção sobre a origem sexual das neuroses. Freud arrumou, então um novo interlocutor, o otorrinolaringologista Wilhelm Fliess, homem de idéias ousadas e altamente interessado na natureza da psique humana. Nessa época, cada nova hipótese ou descoberta era vivamente comentada na imensa correspondência entre Freud e Fliess.

Mas também essa colaboração com Fliess estava destinada ao malogro. Como o próprio Freud descobriria mais tarde, ele transferia a vários homens de sua convivência os intensos e complexos sentimentos de amor e ódio que tinha em relação ao pai. Brücke, Meynert, Breuer e Fliess foram, todos eles, objeto dessa transferência afetiva. Amores arrebatadores e ódios furiosos se alternavam sem parar em sua vida emocional. Só a autoanálise permitiria a Freud exorcizar o fantasma da figura paterna.

Quando iniciou a auto-análise Freud estava convencido de que a causa da histeria era “uma experiência sexual passiva ocorrida antes da puberdade, isto é, uma sedução traumática”. Ele associava a neurose à carga erótica presente, mesmo quando bem disfarçada e não percebida pelas pessoas, nas relações entre pais e filhos. Após ter observado sintomas histéricos no irmão e nas irmãs, concluiu que também seu pai não estava livre do que chamou de “incriminação incestuosa”.

O prosseguimento da auto-análise e as análises de vários pacientes realizadas nessa mesma época logo lhe mostraram, porém, que, embora o sentimento incestuoso dos pais realmente existisse e fosse às vezes até levado à prática, a grande maioria das supostas seduções ocorridas na infância era um produto da fantasia das crianças: eram elas que experimentavam um intenso desejo de manter relações sexuais com os pais —geralmente com o genitor do sexo oposto. Eis uma das mais arrojadas e controvertidas contribuições de Freud ao conhecimento humano: a idéia de que a sexualidade começa antes, muito antes de manifestar-se nas transformações que ocorrem na puberdade.

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Ele enfrentou com determinação a hostilidade dos meios conservadores a suas idéias. A excitação da descoberta científica o empurrava para a frente e os progressos na interpretação de seu próprio mundo psíquico lhe traziam crescente autoconfiança. Freud trocava o papel de filho pelo de pai: pai de seis filhos em seu casamento com Martha e pai da Psicanálise. A partir de 1902, começa a se reunir em sua casa o círculo dos primeiros seguidores da nova teoria. O grupo, formado inicialmente por Alfred Adler, Max Kahane, Rudolf Reitler e Wilhelm Stekel, além do próprio Freud, se encontra pontualmente toda quarta-feira depois do jantar.

Em 1908, o grupo já tem 22 membros, entre eles o médico suíço Carl Gustav Jung, dezenove anos mais moço que Freud e a quem este se referia como “querido filho e herdeiro”. Nesse mesmo ano, o círculo se transforma na Sociedade Psicanalítica de Viena e, em 1910, na Associação Psicanalítica Internacional, com Jung na presidência por determinação de Freud. Mas, no ano seguinte, quando Jung rompe com Freud após uma série de desentendimentos por causa da “excessiva importância” que este concedia à sexualidade, Freud comentou “Finalmente estamos livres do bruta santarrão”. O santarrão ia por conta do misticismo de Jung, intoleravelmente racionalista do outro.

A capacidade de trabalho de Freud era verdadeiramente espantosa. Ele acordava às 7 horas e, depois do café da manhã e de uma rápida olhada nos jornais, começava a atender seus pacientes pontualmente às 8 horas. Cada sessão durava exatamente 55 minutos. Nos cinco minutos que restavam para fechar a hora, ele subia a escada que ligava o andar em que se encontravam o consultório, a sala de espera e o escritório particular ao andar superior, onde vivia a família.

As sessões se prolongavam até as 13 horas, quando a família se reunia para o almoço. Freud era um pai carinhoso e proporcionou a seus filhos uma formação bastante livre, pelo menos em comparação com os rígidos padrões germânicos do começo do século. Quando havia convidados para o almoço, porém, seu silêncio e introspecção costumavam criar situações extremamente embaraçosas.

Depois do almoço, um curto passeio a pé pelas tranqüilas ruas de Viena e a compra dos charutos favoritos. Freud chegava a fumar até vinte charutos longos por dia. Mas, quando seus seguidores lhe propuseram uma explicação psicanalítica para o vício, ele a recusou. bem-humorado.

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As consultas recomeçavam às 15 horas e se estendiam muitas, vezes até as 9 ou 10 da noite. Depois disso tudo, Freud ainda arrumava energia para escrever. Apesar do estafante rítmo de trabalho, havia tempo para o lazer. Ele era um grande jogador de xadrez e também gostava de paciência. Freqüentava às vezes o teatro, mas em matéria de ópera só gostava de Mozart, sobretudo Don Giovanni, e da Carmen de Bizet. Tinha enorme fascinação por objetos de arte antigos e sua coleção particular. com mais de 2 500 peças, principalmente egípcias. gregas e romanas, era maior que a de muitos museus.

Freud conhecia a fundo os clássicos da literatura: os gregos, Shakespeare, os grandes poetas alemães (principalmente Goethe), os romancistas franceses Balzac, Flaubert e Maupassanp e os russos Dostoievski e Gogol. Ao lado dos interesses intelectuais, tinha também grande prazer nas atividade físicas: nadava bem, patinava, caminhava muito e rápido. Aos 65 anos, participando de excursão pelas montanhas do Harz, na Alemanha, vence facilmente colegas 25 anos mais moços, tanto em resistência quanto em velocidade.

Freud havia se fixado a meta de produzir pelo menos três linhas por dia, mas nem sempre era fácil vencer o branco do papel. Outras vezes, porem, as idéias jorravam fácil e ele era capaz de produzir uma importante obra científica em apenas alguma semanas. Escreveu dezessete livros e dezenas de artigos. Seu estilo literário é brilhante, mas dependia daquilo que ele chamava uma “moderada quantidade de miséria” pessoal: ou seja, Freud supunha que quando tudo ia bem demais na sua vida o texto não saia bom.

Misérias pessoais — nem sempre moderadas — não lhe faltaram ao longo da vida. Houve as intermináveis brigas no interior do movimento psicanalítico. Houve o câncer na boca, provocado seguramente pelos charutos. Os primeiros sintomas apareceram em 1917. Em 1923 ele foi submetido à primeira operação—a primeira das 33 que sofreria, numa escalada infernal de dor e desconforto. que suportou com extraordinário autocontrole, sem poder recorrer sequer ao conforto da religião. dado seu ateísmo radical. Com a filha predileta, Anna—que se torna também uma importante psicanalista e uma espécie de zelosa guardiã de seu legado teórico—. ele fez um pacto: a doença deveria ser encarada sem sentimentalismo, com frio distanciamento.

E houve, enfim o nazismo. Quando a Alemanha de Hitler anexou a Áustria, em 1938, e os nazistas invadiram sua casa, Freud os enfrentou com tanta fúria que momentaneamente os deixou paralisados—e ele se livrou da ameaça iminente de agressão física. A permanência em Viena, porém, era algo fora de cogitação: cedendo aos insistentes chamados do psicanalista inglês Ernest Jones, que viria a ser também seu principal biógrafo, Freud. então extremamente doente, com 82 anos, concordou em seguir para a Inglaterra.

Um movimento internacional de pressão forçou as autoridades nazistas a lhe permitirem a saída. Em Londres passou seus últimos meses trabalhando quase até o fim: seu derradeiro livro, Moisés e o Monoteísmo, foi concluído em 1939: no dia 23 de setembro daquele ano ele morreu. Seu corpo foi cremado e as cinzas guardadas numa urna grega de sua coleção. Encontram-se até hoje no cemitério judaico de GoldersGreen, em Londres.

Para saber mais:

A hora das estrelas

(SUPER número 3, ano 3)

Caras e bocas

(SUPER número 12, ano 3)

Como um sherlock da psique

Na mitologia grega, o rei de Tebas, Édipo, matou Laio, sem saber que este era seu pai, e casou com Jocasta, sem saber que era sua mãe. Esse trágico triângulo amoroso, segundo Sigmund Freud, seria revivido na fantasia de todas as crianças, geralmente antes dos 5 anos de idade, quando, de alguma forma, elas experimentariam desejo sexual em relação ao genitor do sexo oposto, além de fortes sensações de rivalidade e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo.

A expressão complexo de Édipo só foi empregada, pela primeira vez, em 1910; seu conceito se formou, porém, mais de dez anos antes, no bojo da auto-análise de Freud. A sexualidade infantil se manifestaria já nos primeiros momentos de vida e passaria por várias fases — oral, anal, fálica e genital. Esse processo, porém, nem sempre transcorreria de modo perfeito; as inibições em sua trajetória caracterizariam muitos distúrbios da vida sexual. A fixação da líbido ou energia erótica em fases infantis do desenvolvimento sexual seria responsável pelas perversões sexuais dos adultos, entre as quais Freud inclui o homossexualismo.

As distorções no desenvolvimento sexual do indivíduo seriam, segundo Freud, a principal causa da neurose — desordem mental caracterizada por ansiedade, mal-estar psicológico, sensação de infelicidade desproporcional às circunstâncias reais da vida da pessoa. As neuroses, formadas geralmente por volta dos 6 anos de idade, seriam justamente uma resposta da mente consciente ao conflito inconsciente entre os impulsos instintivos e os padrões de comportamento impostos pela sociedade.

Essa idéia de uma atividade mental inconsciente é um dos pressupostos fundamentais da Psicanálise. O inconsciente, às vezes imaginado como uma espécie de porão da mente ou psique, seria o depósito das tendências reprimidas do indivíduo— as quais, como o desejo incestuoso do menino em relação à mãe, seriam banidas da vida consciente devido a sua ameaça potencial à ordem civilizada.

A repressão, porém, nunca é completa, dizia Freud: o reprimido no inconsciente estaria sempre forçando sua passagem ao plano consciente; as mensagens cifradas transmitidas pelo inconsciente permitiriam ao analista buscar a explicação da neurose e, daí, sua possível cura. A técnica psicanalítica teria, dessa maneira, muito a ver com a atividade do detetive nos romances policiais, que vai remontando, num árduo e cuidadoso trabalho de interpretação, a trama oculta.

Em suas primeiras investigações da mente, Freud empregou a hipnose para trazer à luz as cenas traumáticas do passado. Abandonou-a, porém, não só porque muitos pacientes não se deixavam hipnotizar, mas principalmente porque, embora a hipnose permitisse o acesso a memórias correspondentes a determinada região do inconsciente, criava, nas fronteiras dessa mesma região, barreiras ainda mais difíceis de serem transpostas.Freud substituiu então a hipnose pelo método da livre associação, em que o paciente, deitado num divã, de costas para não ser inibido pelo olhar e expressão facial do terapeuta, passaria a falar tudo o que lhe viesse à cabeça. Nesse trabalho de garimpagem do inconsciente seriam importantíssimas também as interpretações dos sonhos e dos atos falhos. Os sonhos, através de sua linguagem simbólica, dariam acesso direto ao material inconsciente. E os atos falhos, tais como os lapsos de linguagem que cometemos freqüentemente, seriam for adotadas pelas tendênciasreprimidas para forçar a passagem ao plano consciente.

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