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Gay também é crente…

... assim como travestis, dependentes químicos e outros grupos normalmente marginalizados pelos cristãos. Conheça as igrejas inclusivas, que abriram suas mentes (e a Bíblia) para trazer diversidade aos seus rebanhos.

Por Marcelo Testoni
Atualizado em 16 Maio 2018, 13h18 - Publicado em 28 ago 2015, 15h30

O que Deus uniu, ninguém o separe

Lanna Holder foi a primeira pastora evangélica a se declarar lésbica no Brasil, em 2011. Por quase dez anos, porém, ela pregou contra a homossexualidade, divulgando a polêmica “cura gay”. “Eu era a versão feminina do Silas Malafaia”, comenta.

Ironicamente, durante uma pregação nos EUA, ela se apaixonou por uma cantora da igreja, Rosania Rocha. A atração rolou de cara, mas levou cerca de um ano para que se declarassem uma para a outra. Só que Lanna era uma celebridade evangélica, com milhões de visualizações no YouTube em vídeos que descreviam sua “cura”. Rosania era casada com um pastor. Ao assumir a homoafetividade, viraram párias dentro da religião que amavam.

Um pastor muito influente no Brasil, cuja identidade elas não revelam, as orientou: “Fiquem juntas. Deus quer vê-las felizes. O que não é certo é vocês estarem ainda casadas”. Só que Rosania não podia se divorciar porque estava esperando a cidadania americana e, se deixasse o país, talvez não visse mais o filho. Lanna não tinha condição de ficar mais nos EUA e voltou ao Brasil. Separada de Rosania, voltou a pregar na Assembleia de Deus, mas sem mencionar homossexualidade.

Dois anos depois, Rosania estava de volta ao Brasil e aos braços de Lanna. Tentaram frequentar outras igrejas, mas sempre ouviam afrontas de pastores contra gays. Em 2011, inauguraram a Cidade de Refúgio, comunidade evangélica com sede em São Paulo para 2 mil pessoas e presente em quatro Estados. Toda pregação é baseada na Bíblia, com a diferença de que a homossexualidade é interpretada como algo que não impede ninguém de herdar o reino dos céus.

Para aumentar o rebanho, as pastoras vão a redutos da comunidade gay em São Paulo e fazem flashmobs, cantando, dançando e travando contato com muitos que se interessam pela performance. Elas também frequentam a Parada LGBT, a Feira da Diversidade e a Caminhada Lésbica, entregando folhetos com mensagens cristãs. Além de organizar cultos e eventos, a igreja distribui cestas básicas para cem famílias e tem uma ONG que oferece tratamento psicológico aos fiéis, já que muitos deles vêm de um contexto em que uma orientação sexual alternativa é tratada como doença, pecado ou possessão demoníaca.

Quem vier a mim eu jamais rejeitarei

Por temor a Deus, o ator Valder Bastos namorou meninas e demorou a se assumir gay. Hoje ele encarna a drag queen Tchaka, madrinha da Parada LGBT de São Paulo. No programa A Liga, da TV Bandeirantes, conviveu por uns dias com um pastor. Após atritos, houve compreensão dos dois lados. “Moramos eu, meu marido e minha mãe evangélica, e acho que o pastor entendeu que éramos uma família”, lembra.

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Em 2013, na inauguração da Igreja Cristã Contemporânea, em São Paulo, Tchaka assistiu a um culto “montada” pela primeira vez. “Defendemos uma teologia inclusiva, de acolhimento ao homoafetivo. Tomamos como exemplo Jesus, que sempre cuidou das minorias, acolhendo os que a sociedade excluía”, prega Marcos Gladstone, fundador da igreja.

A toda tribo

Um pastor de boné e alargador na orelha, pregando com a Bíblia em cima de uma prancha de surfe ao som de rock e reggae. Assim é um dos cultos da Bola de Neve Church, que atrai fiéis em busca de alternativas religiosas. O pastor Felipe Nather explica que prostitutas, dependentes químicos, mendigos e outros repudiados pela sociedade são bem-vindos. “Nós vamos atrás de quem nunca ouviu falar de Cristo e quer mudar de vida, comenta.

Os pontos de encontro da igreja são criados em casas, estúdios de tatuagem, salões de sinuca e bares. Diversidade à parte, a pregação segue a linha evangélica convencional, orientando os membros a não praticar sexo antes do casamento, não usar drogas, não julgar, não trair etc., mas sem discriminar ninguém.

VERSÃO COLORIDA

Para as igrejas inclusivas, a Bíblia não é tão preto no branco: alguns trechos permitem reinterpretar a condenação à homossexualidade.

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Ezequiel 16:49
Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: Ela e suas filhas eram arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam os pobres e os necessitados.

Segundo o pastor Marcos Gladstone, este trecho bíblico revela que a motivação de Deus para destruir Sodoma e Gomorra não foi condenar práticas homossexuais de seus habitantes, como popularmente o texto é interpretado – o episódio está relatado em Gênesis 19.

1 Coríntios 6:10 e 11
Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. 11E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus.

Ainda de acordo com Gladstone, o texto original, em grego, é genérico, mencionando “depravados e pessoas de costumes infames”. Leituras mais tradicionais do trecho, porém, afirmam que o autor, o apóstolo Paulo, menciona práticas homossexuais. Contudo, o perdão é concedido no verso seguinte.

Curiosidade: Na Bíblia, o arco-íris representa a aliança entre Deus e os seres vivos. Tá em Gênesis 19:13.

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