Idade média além do mito
Nossa concepção do Medievo é uma mistura, em proporções às vezes desequilibradas, de conhecimento e imaginação históricos.
Leandro Sarmatz
A afirmação provocativa, precisamente na abertura do verbete Idade Média, assinado por Christian Amalvi, pode surpreender o leitor leigo: “A Idade Média não existe”. Mas logo o autor se explica: o que conhecemos como Idade Média “é uma fabricação, uma construção, um mito”. Esse mito veio se constituindo, ao longo dos séculos que nos separam daquele período, pelo trabalho dos historiadores, mas, como demonstra Amalvi, também – e talvez principalmente – pela criação de romancistas, cineastas e músicos. Nossa concepção do Medievo é uma mistura, em proporções às vezes desequilibradas, de conhecimento e imaginação históricos; deve-se tanto às obras de medievalistas como Georges Duby, Jacques Le Goff ou Jean-Claude Schmitt, como a um romance (e filme) como O Nome da Rosa.
O Dicionário Temático do Ocidente Medieval (EDUSC/Imprensa Oficial do Estado), organizado por Le Goff e Schmitt e agora traduzido por equipe coordenada por Hilário Franco Júnior, consiste numa magnífica possibilidade de aproximação ao universo da Idade Média. Arquitetado na forma de 82 verbetes redigidos de maneira clara e elegante e abrangendo noções como Além, Deus, Diabo, Pecado, mas também Animais, Cidade, Jogo, Memória, Sexualidade, desde já os seus dois volumes são itens imprescindíveis na estante de quem quer ir um pouco além dos mitos da história.