Mulheres do neolítico tinham a força de remadoras profissionais
Um estudo britânico mostrou que, em média, os braços dessas ancestrais eram 30% mais potentes que os de mulheres atuais
Pode confirmar com o doutor: o remo é o esporte mais completo para se ter como hobby. Além das pernas e tronco estarem em constante movimento dentro do barco, o esforço para mover o trambolho no braço não perde em nada para um treino puxado na academia. A boa notícia é que, mesmo sem uma dupla de pás e uma raia olímpica, dá para aumentar o bíceps de forma bem simples: pegando na enxada. Um efeito semelhante para a musculatura pode ser conseguido em tarefas agrárias como preparar o solo, trabalhar na colheita e debulhar grãos. Duvida? As mulheres do neolítico estão aí para confirmar essa hipótese. Segundo um novo estudo, publicado no jornal Science Advances, nossas ancestrais tinham braços de fazer inveja a uma bodybuilder iniciante — comparáveis, inclusive, aos de remadoras profissionais. Tudo conseguido graças a um trabalho pesado na lavoura.
A conclusão veio com a análise de 94 ossos de mulheres, que viveram em comunidades agrárias da Europa central (atuais Alemanha, Áustria e Sérvia) entre 5300 a.C e 850 d.C. Nesse intervalo de tempo, que se inicia no período Neolítico, passa pela “idade do bronze” e se estende até o final da “idade do ferro”, as atividades humanas eram mais agrícolas do que nunca. Era normal que, por conta disso, as mulheres também dessem uma mão no trabalho pesado.
Com a criação de facilidades como ferramentas e máquinas cada vez mais complexas, as funções de trabalho passaram a considerar cada vez menos a força bruta e mais a habilidade. Com isso, um braço volumoso deixou de ser vantagem: para simplificar o trabalho, quem tinha mais traquejos manuais levava mais vantagem. Estima-se que, ainda na idade média, a força muscular das mulheres já era semelhante à média registrada hoje.
Para comparar a constituição física atual do sexo feminino com a revelada pelos fósseis, os pesquisadores fizeram radiografias de 83 mulheres inglesas. Todas eram estudantes da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e foram divididas em quatro grupos: algumas eram fãs de corrida, outras praticavam futebol, outras eram remadoras e o restante delas passava longe de tudo isso.
As diferenças na resistência e formato do úmero (osso mais comprido do braço) se acusaram logo de cara: as mulheres que viviam há quase 7 mil anos atrás teriam braços de 11 a 16% mais potentes que as praticantes atuais de remo — e, por tabela, também mais fortes do que qualquer outra atleta de fim de semana. Em comparação às mulheres sedentárias, estima-se que nossas ancestrais tinham até 30% mais força no muque.
“Esse tipo de trabalho dá destaque ao papel das mulheres no desenvolvimento das sociedades da forma como conhecemos hoje”, explica Alison Macintosh, uma dos autoras do estudo, em entrevista ao The Verge. “A maioria de nós vive em sociedades de base agrícola. E isso não seria possível sem todo esse trabalho manual, feito pelas mulheres ao longo de milhares de anos”. É claro que, na conta, acabam ficando de fora fatores genéticos e a dieta adotada em cada época. Mas que é possível cravar que as primeiras lavradoras não fugiam do trabalho pesado, isso não dá para negar.