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O segredo mais bem guardado dos Kennedys

Rose Marie, irmã do presidente John Kennedy, sofreu uma lobotomia a mando do pai. Virou um zumbi aos 23 anos – e foi escondida pela família.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 12 abr 2022, 01h01 - Publicado em 11 abr 2022, 20h03

Até hoje há uma aura de fascínio e encantamento envolvendo a família Kennedy. O clã sempre esteve em posições proeminentes da política americana, e lembrava uma realeza num país republicano. Uma pesquisa de 2018 da Universidade da Virgínia, com 1.004 adultos, apontou o que o mundo já desconfiava: John Kennedy (1917–1963) foi o presidente mais amado da história do país. Um pouco mais novo que ele, Bobby Kennedy foi um senador popular dos EUA e se preparava para suceder o irmão no posto mais importante da nação, também pelo Partido Democrata, quando teve o mesmo destino de Jack: foi assassinado a tiros. 

Os Kennedys eram o retrato do que toda família americana gostaria de ser em meados do século 20: eles eram todos lindos, extraordinariamente ricos, se comunicavam bem, tinham vocação para a liderança. 

Ou quase todos. 

Rose Marie (1918–2005), mais chamada de Rosemary, era a terceira dos nove filhos de Joseph Patrick Kennedy, o político e homem de negócios que iniciou essa dinastia. Ela era só um ano mais nova que John, o futuro presidente, mas, naquele grupo de líderes e predestinados, acabou sendo tratada como um patinho feio. Não no sentido estético da coisa – até porque era considerada muito bonita, até para os altos padrões da família. O problema estava em sua mente. 

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Dificuldade de aprendizado

Quando ainda era um neném, Rosemary demoraria mais que o normal para ficar sentada sozinha, engatinhar, andar e falar. Até aí, tudo bem: meninas e meninos têm ritmos diferentes de desenvolvimento.

Mas o período de Rose no jardim da infância trouxe a verdade que seus pais temiam. Os professores logo perceberam que ela era atrasada em relação aos coleguinhas de 5 anos. Tinha dificuldade de aprendizado, escrevia da direita para a esquerda, não gostava de esportes. Era mais devagar em todas as atividades. Um teste de QI confirmaria o que seus mestres apontavam. E isso foi uma decepção, principalmente para seu pai.

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Para Joe Kennedy, a filha se tornaria um embaraço. Ele se sentia envergonhado com a presença dela em meio às ocasiões em que misturava sua família com autoridades e gente graúda do meio político. Não queria que ninguém soubesse que uma Kennedy tinha algum tipo de deficiência intelectual, ainda que leve. 

Aliás, o grau de sua deficiência é complicado de determinar hoje, já que os Kennedys primeiro negaram que a menina fosse diferente, depois trataram de varrer sua diferença para debaixo do tapete.

Isolada do mundo

Escondida da sociedade, Rosemary era transferida de colégios internos com frequência, sempre que seu pai concluía que os novos professores não fariam o milagre de transformá-la no expoente de brilho intelectual característico da família. Isso foi tornando a adolescente cada vez mais isolada dos irmãos, solitária e infeliz. Como demonstra esta carta enviada por ela ao pai, quando tinha 16 anos: “Querido papai, eu tive um sábado adorável. Muito obrigada por ter vindo me ver. Eu faço qualquer coisa para deixá-lo feliz. Detesto desapontá-lo, com qualquer coisa. Volte logo. Me sinto muito sozinha todos os dias. Até breve (eu espero).”

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A situação piorou quando a menina virou mulher: Rose se revoltou contra tanta superproteção e por se sentir escondida. E essa rebeldia começou a parecer perigosa para a imagem de “perfeição” dos Kennedys. Rosemary passou a arremessar objetos no chão com frequência, queria sair sozinha à noite. Fugia. E os pais temiam a “desgraça” absoluta: que sua filha engravidasse na rua. 

Até que o patriarca encontrou uma saída radical. Escondido da esposa, levou a filha, de apenas 23 anos, para os cuidados de Walter Freeman, o maior propagador de uma técnica cirúrgica tão invasiva quanto chocante: a lobotomia.  

Assassinato cognitivo

Entre os anos 1930 e 1950, Freeman ficou famoso pelo método de martelar um picador de gelo sobre o globo ocular do paciente, crânio adentro, até separar as vias que ligam os lobos frontais a outras regiões do cérebro. Supostamente, o processo acabaria por acalmar pessoas hiperativas, bipolares ou depressivas

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Em 1941, ele realizou o procedimento na filha de Joseph Kennedy. Perfurou o topo da cabeça da jovem e foi fazendo cortes em seu cérebro enquanto ela permanecia acordada, apenas com o efeito de um tranquilizante. Solicitava que Rose recitasse algo ou cantasse uma canção, ou contasse de trás para a frente, enquanto continuava perfurando sua cabeça. Quando ela deixou de entender seus pedidos, o médico parou de furar. 

Rosemary Kennedy saiu da cirurgia incapaz de pronunciar mais do que poucas palavras. Perdeu toda a capacidade mental e o equilíbrio dos movimentos. Jamais saiu desse estado, o que, em vez de melhorar, só agravou a relação com a família. Sua mãe se recusou a vê-la por duas décadas. O pai nunca mais a encontrou. 

O Nobel mais equivocado da história

A crueldade de Joseph Kennedy, aos olhos de hoje, não tem desculpa. Talvez não tenha em qualquer período da humanidade. Mas podemos pensar num atenuante: na época, a lobotomia estava na moda. Walter Freeman tinha até um “lobotomóvel”, que usava para viajar pelos Estados Unidos, operando pessoas e divulgando suas técnicas.

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E o sucesso do procedimento não foi só comercial. A comunidade científica também chegou a aplaudi-la. Em 1949, o neurologista português António Egas Moniz ganhou o Nobel de Medicina “pela descoberta do valor terapêutico da leucotomia em certas psicoses”. Leucotomia era o nome original da lobotomia.

Entre os enganos do Instituto Karolinska – a universidade sueca que escolhe o vencedor do prêmio mais desejado por cientistas do mundo todo –, esse teve consequências gravíssimas, pois dava aval a um método medieval incapacitante, hoje amplamente condenado. 

E que acabou com qualquer possibilidade de a irmã de John Fitzgerald Kennedy existir e funcionar com a dignidade que qualquer ser humano merece.  

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