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Os médicos da pré-história praticavam cirurgia em vacas

O tratamento de saúde mais comum do neolítico era abrir um buraco no crânio para aliviar dores de cabeça e convulsões. Antes, porém, os curandeiros passavam pela escola de medicina (veterinária)

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
23 abr 2018, 15h31

Sabe quando a cabeça dói tanto que parece estar prestes a explodir? Pois é: alguns médicos da pré-história achavam que, sem tratamento, ela explodiria mesmo. E aí uma ideia considerada razoável era abrir um buraco redondo de uns três centímetros de diâmetro no crânio do paciente. O objetivo era aliviar a pressão – e deixar os maus espíritos saírem, conforme as crenças do povo em questão.

A prática, chamada “trepanação”, durou muito tempo: da época dos Flintstones até a Idade Média, foi usada para combater epilepsia, enxaquecas e esquizofrenia. Na maior parte dos casos, é claro, só funcionava como um placebo extremamente arriscado. Na medicina contemporânea, são poucas as situações em que serrar o crânio é de fato uma boa ideia.

A questão agora é saber se o procedimento também foi a primeiro da história da veterinária. Uma dupla de arqueólogos do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França analisou o crânio de uma vaca que viveu há 5 mil anos onde hoje fica o sítio arqueológico de Champ-Durand. E concluiu que o buraco de 6,4 cm por 4,7 cm que a fêmea tem na cabeça – até então um mistério – provavelmente foi resultado de uma trepanação.

Antes se especulava se o orifício não teria sido resultado de um câncer ou de uma infecção grave – ou então um ferimento de combate muito sério, que teria matado o animal instantaneamente. O novo artigo científico revelou, porém, que o corte foi limpo: não há sinais típicos de impacto violento – como lascas –, e as bordas exibem padrões de intervenção muito parecidos com os de crânios humanos que comprovadamente passaram pela terapia old school.

É legal imaginar que os primeiros curandeiros franceses submeteram a vaca à cirurgia porque estavam preocupados com a saúde dela – e não dá para descartar essa hipótese. Se foi o caso, o procedimento só pode ter sido feito em resposta a alguma demonstração visível de que o animal estava sofrendo, como uma convulsão. E daí seria possível tirar uma conclusão fascinante: que o Homo sapiens dessa época já havia percebido que a origem de distúrbios neurológicos é a cabeça. Isso soa óbvio hoje, mas é uma sacada sofisticada para os padrões do mundo pré-medicina. 

O mais provável, porém, é que eles só tenham usado o animal para ensaiar o corte antes de tentá-lo em seres humanos. Abrir o osso sem ferir o cérebro exige prática, e treinar no crânio de uma pessoa já morta não é tão realista. “Eu não vejo motivo para eles terem salvado uma vaca específica em meio a centenas de outras”, afirmou ao The Guardian Fernando Ramirez Rossi, autor principal da pesquisa. Em algumas culturas, a trepanação também era um ritual – ou seja, treinar com vacas possivelmente evitava erros na hora de abrir a cabeça de alguém na frente da tribo.

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