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Os países ricos trabalhassem menos?

É tentador pensar nisso, tanto que intelectuais como o sociólogo italiano Domenico de Masi vivem rondando o tema.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h25 - Publicado em 31 out 2002, 22h00

Paulo D·Amaro

Será que isso aumentaria a oferta de emprego nos países pobres? A idéia de suar a camisa menos horas por dia é tão deliciosa para um assalariado quanto a de receber um convite de trabalho para quem está desempregado. Quem trabalha reclama que não tem tempo para nada e quem está sem emprego sofre com o fato de ficar o dia todo sem fazer – e sem ganhar – nada. O que ocorreria com o trabalho no terceiro mundo se houvesse uma radical redução da jornada nos países ricos?

É tentador pensar nisso, tanto que intelectuais como o sociólogo italiano Domenico de Masi vivem rondando o tema. De Masi é radicalmente contra a obrigatoriedade do trabalho na sociedade atual. Recentemente, numa visita ao Brasil, espantou-se ao ver ascensoristas em elevadores de prédios comerciais. “Não há por que pagar pessoas para apertar botões, algo que nós mesmos podemos fazer”, disse. “Seria melhor para todo mundo se elas recebessem seus salários para estudar ou ficar em casa, divertindo-se e tendo boas idéias.”

Para ele, o conceito de que só o trabalho dignifica o homem gera desequilíbrio: gente estressada, que passa 10, 12 ou 14 horas por dia na empresa, enquanto outras pessoas permanecem desempregadas, sentindo-se párias na sociedade.

Se as idéias de De Masi fossem acatadas no primeiro mundo e, de uma hora para outra, levas de europeus, americanos e japoneses decidissem não mais pegar no pesado, uma parcela de atividades poderia ser exportada para os países pobres. “É possível imaginar uma alteração na divisão internacional de trabalho”, diz o economista e diretor técnico do Dieese em São Paulo, Sérgio Mendonça. Países como o Brasil teriam algumas vantagens. “A produção de alimentos poderia quadruplicar”, afirma. Isso porque temos uma enorme vocação agrícola. Praticamente nenhum país tem tamanho potencial inexplorado como nós.

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E indústrias? Algumas viriam para a América Latina, mas o grande beneficiado nesse caso seria o sudeste da Ásia. “Atividades ligadas à alta tecnologia migrariam para lá, não apenas pela capacidade instalada, mas devido ao enorme mercado consumidor”, diz Mendonça.

Faz sentido: a América Latina inteira tem uma população de cerca de 500 milhões de pessoas – menos da metade da China. Ainda assim, o Brasil cresceria muito em atividades como a produção de aviões, automóveis, siderurgia e petróleo.

Mas, ainda que boa parte dos europeus cruzasse os braços e nos legasse o trabalho duro, a melhora nas condições gerais de vida no planeta seria pequena. É uma questão matemática: a força de trabalho somada de EUA, Europa e Japão não chega a 500 milhões de pessoas – correspondente a apenas um sexto do total no mercado de trabalho em nível global. E mais: os europeus já abandonaram muitas das tarefas mecânicas e repetitivas. Uma redução radical na quantidade de trabalhadores da indústria de lá geraria entre 10 e 20 milhões de empregos no terceiro mundo. “Isso é muito pouco”, afirma Mendonça. Talvez fizesse diferença no Brasil, mas lugares como a África continuariam miseráveis.

Para obter resultados mais positivos, dependeríamos de outras variáveis. A redução teria de ser abrupta, caso contrário haveria tempo para a criação de tecnologias que substituíssem os trabalhadores. Os países em desenvolvimento precisariam criar regras para evitar que essas vagas fossem ocupadas por pouca gente cumprindo longas jornadas. “Sem a adoção de políticas regionais que protegessem o emprego, a simples exportação de atividades não significaria melhora alguma”, afirma Márcio Pochman, economista da Unicamp e secretário municipal do Trabalho de São Paulo.

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