Werner Heisenberg
Ele descobriu que o mundo, em suas menores escalas, vive sob um véu de perpétua incerteza. E tentou disfarçar seu trabalho para os nazistas com ele
É quase irônico que Werner Heisenberg (1901-1976), depois de ter ficado famoso nos círculos científicos por sua descoberta do princípio da incerteza, tenha tentado construir uma cortina de fumaça ao redor de seu próprio trabalho.
Bem, que opção restaria, depois da Segunda Guerra Mundial, ao homem que ficou encarregado de comandar uma equipe de cientistas destinada a construir a primeira bomba atômica para Hitler?
Heisenberg basicamente erigiu – em parceria com Max Born e Pascual Jordan – os alicerces da mecânica quântica, em 1925. Essa teoria é o fundamento básico que explica todas as forças da natureza, menos a gravidade, e parte, como o nome sugere, do conceito original de Planck, que estabelecia que a energia das partículas só podia existir em quantidades específicas. É como se ela viesse somente em pacotinhos fechados. Nenhuma partícula poderia adquirir meio pacotinho. Ou pega um inteiro, ou nada.
Ao avançar sobre esse terreno, Heisenberg descobriu uma série de regras embasbacantes para o comportamento da matéria e da energia em suas menores escalas.
Uma das mais surpreendentes leis identificadas por ele é o chamado princípio da incerteza: a noção de que é impossível saber todos os parâmetros de uma dada partícula num momento qualquer. Então, se o sujeito sabe bem a velocidade de um próton, ele pouco saberá sobre a posição, e vice-versa. Na prática, é como se, sob certas condições, uma partícula pudesse estar em vários lugares ao mesmo tempo.
Não faz o menor sentido – em termos do cotidiano -, mas é assim que funciona no mundo do muito pequeno. Certamente compreender as regras do universo quântico exigiu um bocado de abstração. E parte do conhecimento necessário para desenvolver a teoria foi obtida na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, sob os auspícios do físico Niels Bohr.
A mais famosa interação entre Heisenberg e Bohr, contudo, só viria a acontecer muitos anos mais tarde, em 1941, quando o alemão foi visitar o colega em Copenhague, durante a ocupação nazista da Dinamarca.
A BOMBA
Heisenberg trabalhava, desde 1939, num projeto alemão de desenvolvimento de energia nuclear. De início, a possibilidade de criar uma bomba atômica era um objetivo secundário, mas logo, com o avanço da guerra, viraria uma prioridade.
O tema certamente foi discutido pelos dois em Copenhague. Contudo, o consenso acaba aí.
No pós-guerra, Heisenberg deu declarações reconhecendo seu papel no projeto que pretendia dar a bomba atômica a Hitler, mas aludiu ao fato de que os cientistas alemães fizeram “corpo mole” para impedir que isso acontecesse – e que Bohr sabia disso, tendo conversado com ele em 1941.
Ao ler o depoimento do alemão, Bohr ficou estarrecido. Ele tinha uma lembrança completamente diferente do episódio, como documentos de seu arquivo pessoal revelados em 2002 atestam. O dinamarquês se refere à conversa dizendo que Heisenberg tinha convicção de que a Alemanha venceria a guerra e de que, se o conflito fosse suficientemente longo, seria decidido com armas nucleares.
Mas se Heisenberg estava decidido a ajudar a Alemanha, por que Hitler não ganhou sua bomba? Segundo o historiador Paul Lawrence Rose, da Universidade Estadual da Pensilvânia, entre outros motivos, porque os cálculos iniciais – equivocados – do cientista alemão sugeriam a necessidade de toneladas, em vez de quilos, de urânio para provocar uma detonação.
O erro nos cálculos seria proposital? Ou um tropeço na carreira científica fantástica de Heisenberg? Ninguém jamais saberá com certeza, ilustrando de forma fantasmagórica a descoberta do princípio quântico que o tornaria famoso.