Animal extinto: Sobrou menos de uma orelha
A corrida para salvar a cabra-selvagem-dos-pireneus foi a primeira grande ação de preservação da fauna silvestre no século 20. Mas começou tarde demais
Leandro Steiw
Um pedaço da orelha de Célia, a última cabra-selvagem-dos-pireneus, é tudo o que sobrou de um dos mais belos animais que já viveram na Europa. Em 1999, os biólogos espanhóis Alberto Fernandez e José Folch guardaram algumas células para um futuro trabalho de clonagem e implantaram um chip no bicho antes de o devolverem para a natureza. Foi, porem, um esforço tardio de preservar a subespécie, dizimada no século 20 pela caça ilegal, destruição do habitat, massificação turística e desastres ambientais, como o deslizamento de terras.
A Capra pyrenaica pyrenaica era uma moradora comum na região fronteiriça da Sierra de los Nieves, na Espanha, e dos Montes Pireneus, na França. Seu grosso casaco de pêlos a ajudava a se proteger do frio. Os machos se diferenciavam pela grande barbicha, e as fêmeas pelos chifres mais largos que os das outras cabras. No final do século 19, existiam menos de 100 exemplares, todos vivendo no Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido, na Espanha. Em 1993, só havia dez indivíduos, e Célia tornou-se a última representante desse animal em 1999, depois que seu companheiro morreu de velhice. Guardas florestais encontraram-na morta em 6 de janeiro de 2000, com o crânio esfacelado, embaixo de uma árvore caída.
Confinadas ao espaço do parque, as cabras-selvagens-dos-pireneus perderam a disputa por comida com outros animais, contraíram doenças e infecções de bichos domesticados e tiveram dificuldade em se reproduzir. A corrida para salvar esses mamíferos foi a primeira grande ação de preservação da vida selvagem no século 20, mas falhou porque começou tarde demais, apenas em 1993. Apesar de bem-intencionado, o projeto de clonagem da companhia de biotecnologia Advanced Cell Technology, apoiado pelo governo espanhol, será incapaz de recriar uma cabra-selvagem-dos-pireneus autêntica. Os cientistas não guardaram células de um macho, e a fêmea clonada não poderá se reproduzir na natureza. Assim, a única lembrança está empalhada no Museu de História Natural de Paris, na França.
Cabra-selvagem-dos-pireneus
Nome científico: Capra pyrenaica pyrenaica
Ano da extinção: 2000
Habitat: França e Espanha