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Engenheiro da Tesla lança bebida milenar para curar ressaca

Versão americana de um tônico popular na Coreia do Sul, a poção mágica contra bebedeiras, ao que tudo indica, funciona pra valer

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 jun 2017, 16h55 - Publicado em 27 jun 2017, 16h48

Há alguns anos, em 2011, a Playboy divulgou uma pilha de cartas, bilhetes e anotações do jornalista norte-americano Hunter S. Thompson, famoso por curtir uma boa noite de bebedeira. Um dos papéis era de valor inestimável: continha a suposta cura da ressaca. “São 12 nitritos de alquila (uma caixa) em conjunção com quantas cervejas forem necessárias”, nas palavras do autor. Ao contrário do que dizia Thompson, nitritos de alquila até podem ser usados como antídoto contra cianeto, mas não resolvem o mal-estar pós-álcool.

Ainda bem que o tempo passou e alguém mais sóbrio que Thompson finalmente está se dedicando a encontrar a cura para a dor de cabeça mais comum do domingo. Sisun Lee, ex-engenheiro da Tesla Motors, largou a vaga cobiçada na maior empresa de Elon Musk para tocar seu próprio empreendimento: a Morning Recovery, fabricante de tônicos matinais revigorantes que prometem acabar de vez com a ressaca – sem gerar outra ressaca mais tarde.

“O melhor amigo do seu fígado”, de acordo com a descrição divulgada, é uma cruza de Gatorade, Red Bull e complexo vitamínico. Além dos eletrolítos fornecidos por isotônicos, contém taurina, que impede o acúmulo de gordura no maior órgão do sistema digestório, e uma bela dose das vitaminas B1, B3, B6, B9 e B12 – que são vítimas comuns de bebedeiras.

O segredo do sucesso, porém, não é nenhum dos itens listados acima. No coração do Morning Recovery está uma substância chamada DHM – sigla para diidromiricetina, também conhecida como ampelopsina. Encontrada em árvores como o cajueiro-japonês (Hovenia dulci), a DHM combate o etanal (sim, com “a”), uma toxina produzida pelo fígado quando é ele sobrecarregado de cachaça e tenta processar a sua noite. É o etanal o responsável pelo suor, as náuseas e o célebre vômito da manhã seguinte.

Em condições normais, o seu corpo consegue liberar todo o etanal produzido. Só demora um pouco. O que o gole de DHM faz é aumentar a eficiência das enzimas responsáveis pela recuperação, acelerando magicamente o processo.

Mais curioso que o produto, só sua descoberta. Lee, nascido na Coreia do Sul, passou uns dias de férias em sua terra natal, e lá foi apresentado por amigos a uma bebida que prometia anular os efeitos colaterais de qualquer caipirinha.

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Parece piada, mas funcionou. “No dia seguinte, acordei me sentindo muito bem”, afirmou o novo empreendedor ao Business Insider. Impressionado – e vendo no seu bem-estar um possível sucesso comercial –, seu primeiro passo foi tentar se tornar representante comercial americano das empresas coreanas que já fabricavam o produto. Nenhuma delas se interessou pela proposta. Quem era ele, afinal, no ramo de comes e bebes?

Lee não entregou os pontos: decidido a se tornar o profeta ocidental da cura mais desejada da história, pegou a lista de ingredientes e fez sua própria versão do produto.

 

O currículo do engenheiro, hoje especialista em computação, não é tão inadequado quanto parece para sua nova profissão: antes da Tesla, ele passou três anos estudando biotecnologia. Ou seja: entende muito bem como o corpo funciona na escala microscópica. Ele se orgulha dos ingredientes extras de sua fórmula, mais eficiente que a original. “Pureza importa, quantidade também, e você precisa de outros componentes para ressacas. Seu corpo perde vitaminas B e C, e elas não estão nos drinks anti-ressaca coreanos”, afirmou à imprensa

É claro que ele foi voluntário nos próprios testes. Sua fórmula, cuja versão de testes foi produzida sob encomenda em uma fábrica na própria Coreia, deu tão certo que ele começou a achar que não estava bebendo o suficiente à noite. Para comprovar cientificamente a própria embriaguez, passou a filmar os próprios goles para quantificá-los (e, principalmente, não esquecê-los).

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No começo, alguns amigos também estavam dispostos a tentar, mas não foi fácil convencer estranhos a testar a substância. Para vender a ideia, ele redigiu uma explicação técnica convincente, descrevendo a atuação do DHM no corpo do ponto de vista químico. O drink mágico foi parar no Facebook, ganhou uma página no site de divulgação Product Hunt e em questão de semanas acumulou mais de 30 mil fãs, todos dispostos a dar um gole.

“Suas manhãs após uma noite de bebedeira poder ser duras”, afirma o site oficial, desenhado em tons de azul e branco como uma boa embalagem de remédio. “Nós já passamos por elas e os dias que se seguiram foram repletos de arrependimentos e dores de cabeça. Não estamos sozinhos: os EUA perdem mais de US$ 170 bilhões em produtividade por causa do consumo de bebidas alcoólicas.”

Demonstrada a compreensível preocupação com a bolsa de valores, vem o anúncio ao melhor estilo canal de vendas: “Morning Recovery é formulado para amplificar a resposta natural do seu corpo ao álcool. Beba antes de ir para a cama e acorde se sentindo ótimo.” É uma promessa ousada – mas é uma que só contém ingredientes autorizados pela FDA, Anvisa americana. Ufa!

Deu tudo tão certo que o lançamento oficial está marcado para 5 de julho (mas não se anime – não há previsão para o Brasil). Seja como for, os ébrios de plantão têm um novo herói: não é todo dia que um cientista larga o emprego para salvá-los. “Tudo começou como um projeto paralelo. Nenhum de nós sabia que ele tomaria conta de nossas vidas e se tornaria uma obsessão.”

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