A maioria dos estudos sobre esse tema mostra que o degelo total dos pólos não deve acontecer nem em um futuro distante. “Daqui a milhares de anos, é bem provável que o nosso planeta ainda tenha bastante gelo nos pólos. Aliás, nos últimos 25 milhões de anos, a Terra não passou por nenhum período sem gelo”, diz o glaciologista Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mas isso não significa que podemos dormir sossegados, porque o aquecimento da temperatura global já está causando uma ligeira elevação no nível dos oceanos. Por enquanto, ninguém tem certeza se o problema chegou à Antártida, mas é certo que o derretimento de gelo em regiões montanhosas, como a cordilheira dos Andes, na América do Sul, já aumentou. Esse fenômeno pode trazer conseqüências sérias ainda neste século, especialmente para países de altitudes baixas, como alguns arquipélagos do oceano Pacífico. “A hipótese mais aceita é que os mares devem subir cerca de 60 centímetros até o ano 2100, mas há pesquisas que apontam para uma elevação de até 1 metro”, afirma o oceanógrafo Afrânio Mesquita, da Universidade de São Paulo (USP). Para os próximos 500 anos, previsões ainda não confirmadas indicam que o derretimento do trecho ocidental da Antártida causaria uma subida de 6 metros no nível do mar. No Brasil, os efeitos dessa elevação seriam sentidos nas zonas costeiras, principalmente no Rio Grande do Sul e nas regiões Norte e Nordeste, que possuem litorais mais planos. O fato, Astrid, é que precisamos levar essa ameaça a sério. “Mesmo sem consenso da comunidade científica sobre a subida dos oceanos, o planejamento urbano deve sempre levar em conta as previsões mais pessimistas”, diz o geógrafo Dieter Muehe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O Projeto de Monitoramento do Clima e do Nível do Mar no Pacífico Sul, dirigido pela Austrália, acompanha desde 1991 as flutuações do oceano em 14 países da região. Segundo os pesquisadores, até agora não há motivo para alarme. Mas se o nível dos mares subir 60 centímetros até o fim do século, como indicam as previsões, vários arquipélagos da região podem ficar com partes de seus territórios submersos. Veja as nações afetadas:
1. TUVALU
Nesse pequeno país de 24,6 km2, as nove ilhas de coral que formam o território têm no máximo 4 metros de altitude. As autoridades locais denunciam que o aquecimento global aumentou a erosão nas praias e criou ondas de mais de 3 metros, ameaçando a sobrevivência dos 11 mil habitantes
2. KIRIBATI
Das 33 ilhas desse arquipélago, 21 são habitadas. Com exceção da ilha Banaba, cujo ponto mais alto está a 81 metros de altura, a altitude média não ultrapassa 4 metros. Em 2001, uma série de inundações que estariam relacionadas à subida do nível do mar pôs debaixo dágua várias rotas de ligação entre os vilarejos
3. ILHAS MARSHALL
Esse país, que se tornou independente dos Estados Unidos em 1986, é formado por 34 ilhas que possuem uma área total de 181 km2. É outro território em perigo porque, com pouquíssimas exceções, nenhum pedaço de terra tem mais de 6 metros de altitude
4. ILHAS COOK
A antiga colônia da Nova Zelândia é formada por 15 pequenas ilhas. As sete do norte, mais baixas e formadas por recifes de corais, podem submergir. As oito do sul são ilhas vulcânicas e concentram a maior parte da população. Elas chegam a 652 metros de altura e correm poucos riscos neste século
5. NAURU
Com território de apenas 21 km2, Nauru é o terceiro menor país do mundo. No interior, a altitude máxima é de apenas 30 metros. Mas o perigo de inundação é maior na área mais habitada junto à costa, onde a altitude não chega a 10 metros