Como foi a viagem que levou Darwin a criar a Teoria da Evolução?
A jornada de barco ao redor do planeta, partindo da Inglaterra, aconteceu entre 1831 e 1836 e marcou Charles Darwin
Foi revolucionária e muito mais longa do que o esperado – durou cinco anos em vez de dois. A jornada de barco ao redor do planeta, partindo da Inglaterra, aconteceu entre 1831 e 1836, no momento em que a Europa balançava entre explicações criacionistas e evolucionistas para o funcionamento do mundo animal. A aventura marcou Charles Darwin e levou o jovem cientista britânico a conclusões que mudariam para sempre o jeito que entendemos a natureza. Embora a ideia de uma evolução gradual já fosse discutida na época de Darwin, a grande sacada do naturalista foi desvendar a forma pela qual essa evolução acontece.
Volta ao mundo em 80 espécies
Charles Darwin embarcou para fazer companhia ao capitão, mas acabou revolucionando a biologia
1. A missão da viagem, que partiu da Inglaterra em 1831, era mapear a costa da América do Sul para atualizar as cartas náuticas britânicas e de quebra deixar na Patagônia três indígenas argentinos que haviam sido catequizados. Darwin, então com 22 anos, foi convidado para o “passeio” apenas para fazer companhia ao capitão, Robert Fitzroy
2. O navio Beagle aportou na Bahia e depois seguiu para o Rio, onde o criacionismo, crença religiosa de que Deus criou todos os seres vivos, teve seu primeiro baque. Ao observar uma mosca injetar seus ovos em uma lagarta viva para que as larvas se alimentassem das entranhas, Darwin se perguntou como poderia um Deus “bom” ter feito uma criatura tão cruel.Outro choque para Darwin no Brasil foi presenciar o comércio de escravos, prática que já havia sido abolida na Inglaterra em 1808
3. Depois de uma passagem por Uruguai, o Beagle ancorou na Argentina, onde libertou os indígenas que haviam sido capturados anos antes. No país, Darwin coletou fósseis de preguiças e tatus ancestrais e constatou que se tratava de animais gigantes, que mudaram muito até virarem os descendentes de hoje
4. O navio continuou em direção ao sul, chegando à Patagônia, onde Darwin encontrou ainda outra pista da evolução das espécies: existiam dois tipos de emas na região, mas um exemplar era gigante (ao norte) e outro era pequeno (ao sul). A semelhança entre os bichos sugeria que uma espécie originou a outra ou que ambas tinham um ancestral comum
5. Nas Ilhas Galápagos, Darwin achou pássaros com bicos diferentes: alguns para comer sementes, outros para cactos. Anos depois, ele entenderia que os pássaros tinham um ancestral comum, mas evoluíram em ambientes distintos: os que sofreram mutações vantajosas para seu meio sobreviveram e passaram os traços aos seus descendentes
6. Apesar de abalada pelas descobertas, a fé criacionista de Darwin perdurava. Na Austrália, em 1836, ele observou a armadilha usada pela formiga-leão para capturar suas presas e concluiu que apenas um Criador poderia ter dado ao bicho esse mecanismo complexo. Também estranhou o ornitorrinco e o considerou fruto de um “projeto especial” de Deus
7. O navio ainda viajou por oito meses depois de deixar a Oceania. Durante o trajeto, Darwin coletou e despachou ossos, carcaças, pedras e plantas para especialistas ingleses. Quando voltou à Inglaterra, em outubro de 1836, escutou a opinião dos especialistas que tinham recebido suas amostras e começou a traçar sua teoria
Ficha técnica do barco
Nome – HMS Beagle
Tipo – Brigue de dois mastros
Peso – 242 toneladas
Comprimento – 27,5 m
Tripulação – 73 pessoas
Primeira viagem – 1826
***
Duas décadas de meditação
A Origem das Espécies só foi publicado em 1859
Darwin trabalhou em seu livro pelos 23 anos seguintes à viagem. Foi só depois que ficou sabendo que um colega, Alfred Russel Wallace, publicaria uma obra com teses semelhantes às suas que decidiu acelerar as coisas. Ele expôs um “rascunho” em 1858, que evoluiu para livro no ano seguinte. A recepção foi controversa, com membros do clero ultrajados com a ideia de o homem e os macacos terem um ancestral comum. A partir de 1861, as ideias de Darwin sobre mutação, seleção natural e adaptação ao ambiente começaram a ser aceitas.