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Por que as escolas começam as aulas do turno da manhã tão cedo?

As escolas se adaptam ao horário comercial. É ótimo para os pais, mas péssimo para os alunos – o ritmo biológico dos adolescentes é outro.

Por Matheus Vieira
Atualizado em 22 fev 2024, 10h05 - Publicado em 20 abr 2018, 15h35

Porque o sistema de ensino foi regulado para se ajustar ao horário comercial e facilitar a vida dos pais. O problema é que esse hábito contraria a biologia adolescente.

Um ser humano em crescimento só começa a liberar o hormônio do sono, a melatonina, a partir das 23h – duas horas após o horário padrão de adultos e de crianças. A produção só para a partir das 8h da manhã. Ou seja: se o adolescente acorda às 6h para ir à aula, serão em média duas horas com o cérebro sonâmbulo, incapaz de prestar atenção. É o equivalente a despertar um adulto às 4h para ir trabalhar.

Isso significa que a escola deveria começar, no mínimo, às 8h30. No mundo perfeito, entre as 9h e as 10h. 

Várias escolas de 44 dos 50 estados dos EUA já mudaram o horário de início das aulas, das 7h30 para as 8h30, com melhoras expressivas no rendimento e na alimentação dos alunos. No Condado de Fayette, na Geórgia, os acidentes de carro entre jovens de 16 a 18 anos caíram 16%. Na St. George’s School, em Middletown, Rhode Island, o total de estudantes sonolentos caiu de 49% para 20%.

Muitos adolescentes usam celulares ou computadores antes de dormir. A luz desses aparelhos desregula a liberação da melatonina, que é estimulada pela escuridão noturna. Especialistas recomendam deixar esses eletrônicos de lado pelo menos duas horas antes de ir para a cama.

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Problemas ao dormir afetam o rendimento escolar porque, ao longo das cinco fases do sono, o cérebro “peneira” o aprendizado do dia, armazenado provisoriamente no hipocampo. Dados inúteis são eliminados e os importantes vão para o córtex.

O hormônio responsável pelo ganho saudável de altura e peso na adolescência, o GH, é liberado principalmente na terceira e quarta fases do sono. A instabilidade no descanso pode diminuir as dosagens hormonais necessárias para um crescimento saudável.

Uma soneca após o almoço pode melhorar o desempenho – contanto que não dure mais de 45 minutos ou passe das 15h. Caso contrário, intensifica a falta de sono e de concentração. Já aquelas longas dormidas no fim de semana (reação natural do metabolismo) até ajudam, mas não anulam os efeitos da privação nos dias úteis

Fontes: Anne Wheaton, epidemiologista do Centro de Prevenção e Controle do Sono, dra. Lucia Sukys Claudino, neurologista e diretora científica da Associação Brasileira de Medicina do Sono em SC, e Kyla Wahlstrom, pesquisadora de educação e desenvolvimento humana

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