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Cientistas implantam pele nova em garoto com doença genética grave

O garoto, vítima de epidermólise bolhosa, tinha feridas em 80% do corpo. Usando células tronco transgênicas, os cientistas criaram uma epiderme de laboratório para curá-lo

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 nov 2017, 13h11 - Publicado em 9 nov 2017, 13h04

Uma equipe de médicos e cientistas europeus usou células tronco transgênicas para reconstituir a pele de um garoto sírio de sete anos que sofre de um problema genético raro. Ele deu entrada no hospital pediátrico da Universidade de Ruhr, na Alemanha, em junho de 2015, com 60% da superfície do corpo exposta e infeccionada.

No mundo todo, a epidermólise bolhosa juncional (EBJ) afeta cerca de 500 mil pessoas. Sua principal consequência é a frágil adesão da epiderme – camada superficial da pele, que podemos ver – à derme – a camada intermediária. Nos casos menos graves, a doença causa bolhas e feridas frequentes, mas não impede que o paciente viva normalmente – basta evitar cortes e arranhões. Nas variedades mais violentas, porém, grandes trechos de pele se descolam do corpo, o que expõe a vítima a infecções graves. Segundo o artigo científico que relatou o procedimento no menino sírio, publicado na Nature, 40% das pessoas que sofrem com EBJ morrem antes do final da adolescência.

O corpo da criança não reagiu às formas de tratamento tradicionais, que incluíram um enxerto fornecido pelo pai. Alguns meses após a internação, seu estado estava ainda pior do que antes: só 20% da cobertura do corpo resistia, e ele passava o dia sob efeito de analgésicos fortes. Foi então que a equipe médica responsável convidou um grupo de cientistas italianos, da Universidade de Modena, para ajudar. Eles estavam testando um método promissor de regeneração da pele por meio de células tronco, mas ainda não haviam tentado aplicá-lo na prática – e não esperavam fazer os primeiros testes em um caso tão grave.

A ideia é pegar uma célula-tronco de pele intacta, de uma área do corpo do paciente que ainda não foi afetada, e usar um vírus especial para infectá-la – de forma que ele corrija a mutação no gene LAMB3, o responsável pela doença. Essa célula, depois de curada, se multiplicará e dará origem a grandes pedaços de pele saudável, que então poderão ser implantados no corpo do paciente para “cobri-lo” novamente.

É uma aposta ousada. Mas deu certo. O implante foi um sucesso, e ao longo de 21 meses de acompanhamento, a pele nova, com a aparência de uma colcha de retalhos, se aderiu definitivamente às extensas feridas no corpo do paciente. Ele foi liberado em fevereiro de 2016, e nunca mais teve problemas com bolhas ou descolamento. O feito, inédito, é um marco histórico para a medicina regenerativa, uma área experimental que surgiu na década de 1990, e que só agora está saindo do laboratório e ganhando aplicações práticas nas salas de cirurgia.

“Uma vez que a epiderme tenha sido regenerada, as células tronco [naturalmente presentes na pele] continuam renovando o tecido como ocorre em uma pessoa normal”, explicou ao The Guardian Michele de Luca, líder da equipe italiana. “Todas as informações que nós temos indicam que a situação do paciente se manterá estável.” Segundo o artigo científico, o garoto já se cortou algumas vezes desde que voltou para casa, e os ferimentos se cicatrizaram como os de uma pessoa saudável.

Essa é uma das primeiras vezes em que células-tronco e terapia genética – dois temas comuns no noticiário científico – se uniram para curar um só problema. Até então, pouquíssimas doenças haviam se beneficiado na prática da evolução dessas técnicas na última década. O sucesso do procedimento é uma grande esperança para as pessoas que sofrem de EBJ – e que, além de lidar com a doença em si, precisam superar o preconceito com a aparência.

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