Como a dieta influencia a fertilidade feminina?
Veja o que dizem os estudos recentes – e a rotina alimentar mais recomendada pela ciência para quem quer engravidar.
Gemma Biviá Roig é bióloga e pesquisadora da Universidad CEU Cardenal Herrera, na Espanha. O texto abaixo foi publicado originalmente no site The Conversation, que traz artigos escritos por pesquisadores. Vale a visita.
A fertilidade é um mistério que intriga a humanidade desde tempos imemoriais, e ainda mais nos dias de hoje: aproximadamente um em cada seis casais enfrenta dificuldades para engravidar. A resposta para o fato de algumas mulheres terem sucesso facilmente enquanto outras enfrentam enormes desafios é complexa e depende de vários fatores.
Dentro do quebra-cabeça maior da fertilidade feminina, a dieta desempenha um papel fundamental. Cada mordida que damos é como o combustível que colocamos em nosso carro, e todos nós sabemos que o combustível errado pode ter sérias consequências para o desempenho do motor. Da mesma forma, a nutrição que uma mulher fornece ao seu corpo pode ter um impacto direto em sua capacidade de conceber e levar uma gravidez saudável até o fim.
Como o que comemos se relaciona com a capacidade de criar vida?
A dieta ocidental, baseada no alto consumo de alimentos processados, fast food, carne vermelha, laticínios com alto teor de gordura, doces e bebidas açucaradas, tomou conta nas últimas décadas. Esse padrão alimentar é desequilibrado e envolve excesso de calorias, o que pode levar ao sobrepeso e à obesidade.
Por exemplo, foi demonstrado que as gorduras trans (encontradas principalmente em produtos processados, como doces, bolos, fast food e lanches) promovem a resistência à insulina (dificuldade de regular os níveis de glicose no sangue) e aumentam os marcadores inflamatórios.
Além disso, as células de gordura produzem proteínas, como a adiponectina e a leptina, que podem interferir nos hormônios reprodutivos. Por exemplo, a adiponectina é capaz de reduzir a secreção dos principais hormônios da fertilidade, enquanto a leptina potencialmente diminui a produção de estrogênio e progesterona, que são essenciais para a reprodução.
A alta ingestão de carboidratos com alto índice glicêmico, como refrigerantes ou bebidas açucaradas, também está associada à resistência à insulina e à hiperinsulinemia, afetando novamente a capacidade de engravidar.
Em uma chave mediterrânea
As evidências atuais apoiam a dieta mediterrânea como o padrão nutricional mais favorável para promover a fertilidade. Esse estilo de alimentação é caracterizado por ser rico em frutas, verduras, nozes, legumes, grãos integrais e gorduras saudáveis, como o azeite de oliva.
Estudos concluem que mulheres que seguem essa dieta têm melhor saúde reprodutiva por meio de mecanismos relacionados ao controle de peso, redução da inflamação e do estresse oxidativo e melhora da saúde mental. Além disso, a suplementação com ácido fólico, essencial durante a gravidez para evitar defeitos no tubo neural, também pode promover a ovulação regular e melhorar a qualidade dos óvulos, o que é fundamental para a fertilidade.
As mulheres com problemas de fertilidade se alimentam tão bem quanto deveriam?
Durante a pandemia de covid-19, enfrentamos desafios sem precedentes. Nesse contexto, nosso grupo de pesquisa Lifestyle and health estava interessado em saber como o confinamento poderia ter afetado os hábitos alimentares de mulheres com problemas reprodutivos.
Os resultados do estudo mostraram que, apesar das mudanças previsíveis na dieta como resultado do confinamento, as mulheres não alteraram seu padrão alimentar em comparação com a situação anterior. No entanto, observamos que apenas uma pequena porcentagem das participantes cumpriu as recomendações de alta adesão à dieta mediterrânea.
Isso sugere que ainda há espaço para melhorias nas dietas das mulheres para aprimorar sua saúde reprodutiva.
Então, o que colocar em seu prato?
Aqui estão algumas recomendações nutricionais para melhorar a fertilidade:
- Dieta mediterrânea – Além dos alimentos acima, inclua peixes oleosos ricos em ácidos graxos ômega-3 e leguminosas como lentilhas, que são excelentes fontes de proteína vegetal e fibras.
- Ácido fólico – Converse com seu médico sobre a suplementação de ácido fólico. Além de vegetais de folhas verdes e legumes, o ácido fólico também pode ser obtido de alimentos fortificados, como cereais e pães integrais.
- Antioxidantes – É aconselhável adicionar uma grande variedade de frutas e vegetais coloridos – como frutas vermelhas, frutas cítricas, cenouras, tomates e espinafre – às suas refeições diárias para garantir os antioxidantes.
- Evite alimentos processados e fast food – Em vez disso, opte por produtos frescos e caseiros. Planeje as refeições com antecedência para evitar recorrer a opções não saudáveis quando o tempo for curto.
- Evite o álcool – Embora o consumo moderado possa ser aceitável, é melhor limitar a ingestão de álcool, especialmente se estiver tentando engravidar. Chás de ervas ou água com limão satisfazem suas necessidades de hidratação e permitem que você desfrute de uma bebida não alcoólica.
Concluindo, é hora de considerar cuidadosamente o que as mulheres que estão prontas para engravidar colocam em seu prato, pois cada pedaço pode influenciar sua capacidade de gerar vida.
This article is republished from The Conversation under a Creative Commons license. Read the original article.