EUA confirmam caso de reinfecção pelo coronavírus
Homem de 25 anos teve duas vezes a Covid-19, causada por duas cepas diferentes do vírus; extremamente rara, condição ainda é mal compreendida pela ciência
Um homem de 25 anos do estado de Nevada é o primeiro caso confirmado de reinfecção pelo coronavírus nos Estados Unidos, segundo um novo estudo publicado nesta terça-feira (13). A descoberta, apesar de rara, levanta preocupações sobre a resposta imune contra a doença, especialmente porque o paciente teve sintomas mais graves na segunda infecção.
O artigo descrevendo o caso foi publicado na revista científica Lancet Infectious Diseases. O homem, cuja identidade não foi revelada, teve o primeiro diagnóstico de Covid-19 em meados de abril, após apresentar sintomas gripais desde o fim de março. Com um quadro leve, ele ficou em isolamento em casa até se curar e testar negativo duas vezes. No final de maio, porém, voltou a ficar doente e testou positivo novamente. Dessa vez, seus sintomas evoluíram para um quadro mais grave e ele foi internado com falta de ar. O homem se recuperou da segunda infecção após tratamento hospitalar.
Os cientistas analisaram o material genético dos vírus presentes nas amostras do paciente coletadas nos dois quadros infecciosos. Eles concluíram que o homem de fato foi infectado duas vezes, por cepas virais distintas – confirmando que não era um caso em que o paciente nunca se recuperou totalmente da primeira infecção e ela tenha retornado posteriormente, por exemplo.
É o primeiro caso de reinfecção oficialmente confirmado nos Estados Unidos, e o quinto no mundo. Outros pacientes em Hong Kong, Holanda, Bélgica e Equador também tiveram reinfecções confirmadas por análise do material genético do vírus, e mais 18 possíveis casos continuam sendo investigados.
A reinfecção é extremamente rara – os Estados Unidos, por exemplo, já registram mais de 7,8 milhões de casos e apenas uma reinfecção identificada. É verdade que confirmar uma reinfecção não é algo fácil: é possível que os quadros sejam assintomáticos ou brandos e sequer venham a ser testados. E, mesmo no caso em que os pacientes testam positivo mais de uma vez, é preciso analisar o material genético das amostras de vírus para garantir que são infecções distintas. Os testes de Sars-CoV-2 também possuem margens de erro consideráveis, podendo dar falso positivo ou falso negativo.
Disso tudo, surgem outras questões: uma pessoa que se cura da Covid-19 está imune? Se sim, por quanto tempo? A imunidade oferecida por uma possível vacina também se comportaria da mesma forma? No caso das vacinas, é provável que os estudos de fase 3 que estão ocorrendo atualmente nos ofereçam algumas respostas. É possível que a imunidade oferecida por vacinas não dure para a vida toda, e nesse caso doses de reforço sejam necessárias periodicamente. Já no caso da imunidade natural do corpo, o recomendado é que pessoas que se recuperaram da Covid-19 continuem seguindo os protocolos de higiene, distanciamento social e precaução até que se tenha mais dados sobre a imunidade e sua duração.
Ainda não está claro por que o paciente de Nevada apresentou uma segunda infeçcão mais severa que a primeira, especialmente porque o homem é jovem e não apresentava comorbidades. É possível, segundo os pesquisadores, que a carga viral a que ele foi exposto tenha sido maior na segunda vez – estudos já mostraram que a quantidade de vírus interfere nos sintomas. Também existe a possibilidade de a cepa que causou a segunda infecção ser mais agressiva que a primeira, embora não haja provas disso. Entre os outros casos de reinfecção confirmados, apenas o de um paciente do Equador também apresentou um quadro mais grave na segunda infecção, e ele também se recuperou.