Varíola, gripe espanhola, sarampo: as grandes epidemias ao longo da história
Bactérias, virus e outros microorganismos já causaram estragos tão grandes à humanidade quanto as mais terriveis guerras, terremotos e erupções de vulcões
Vírus, bactérias e fungos convivem conosco desde sempre. Mas a invenção da agricultura, que fixou tribos nômades e gerou alimentos em quantidade suficiente para que as sociedades crescessem, reunindo grandes números de pessoas em vilas e cidades, trouxe consigo as epidemias. E elas, mesmo com todos os avanços da medicina moderna, voltam a dar as caras de tempos em tempos.
Peste negra
75 a 200 milhões de mortos (Europa e Ásia) – 1346 a 1353
O número de mortes varia, com estimativas bastante díspares, porque os registros da época se perderam. Mas, seja qual for a quantidade exata de vítimas da peste, uma coisa é certa: ela foi a pandemia mais letal de todos os tempos.
História: A peste bubônica ganhou o nome de peste negra por causa da pior epidemia que atingiu a Europa, no século 14. Ela foi sendo combatida à medida que se melhorou a higiene e o saneamento das cidades, diminuindo a população de ratos urbanos
Contaminação: Causada pela bactéria Yersinia pestis, comum em roedores como o rato. É transmitida para o homem pela pulga desses animais contaminados.
Sintomas: Inflamação dos gânglios linfáticos, seguida de tremedeiras, dores localizadas, apatia, vertigem e febre alta.
Tratamento: À base de antibióticos. Sem tratamento, mata em 60% dos casos.
Cólera
Centenas de milhares de mortos – 1817 a 1824
As redes de tratamento de água conseguiram controlar essa doença na maior parte do mundo – mas ela ainda é um problema na África e no Sul da Ásia. Ao todo, infecta de 3 a 5 milhões de pessoas por ano, e causa até 130 mil mortes.
História – Conhecida desde a Antiguidade, teve sua primeira epidemia global em 1817. Desde então, o vibrião colérico (Vibrio cholerae) sofreu diversas mutações, causando novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos.
Contaminação – Por meio de água ou alimentos contaminados.
Sintomas – A bactéria se multiplica no intestino e elimina uma toxina que provoca diarréia intensa
Tratamento – À base de antibióticos. A vacina disponível é de baixa eficácia (50% de imunização)
Tuberculose
1 bilhão de mortos – 1850 a 1950
Ela não frequenta o noticiário, e por isso pode parecer um problema superado. Mas não é: a cada ano, segundo a OMS, 10 milhões de pessoas contraem a doença, que provoca 1,5 milhão de mortes por ano.
História – Sinais da doença foram encontrados em esqueletos de 7 000 anos atrás. O combate foi acelerado em 1882, depois da identificação do bacilo de Koch, causador da tuberculose. Nas últimas décadas, ressurgiu com força nos países pobres, incluindo o Brasil, e como doença oportunista nos pacientes de Aids.
Contaminação – Altamente contagiosa, transmite-se de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias.
Sintomas – Ataca principalmente os pulmões.
Tratamento – À base de antibióticos, o paciente é curado em até seis meses.
Varíola
300 milhões de mortos – 1896 a 1980
É a única doença infectocontagiosa, até hoje, a ter sido erradicada do planeta, numa ação global que mostrou o poder da ciência e da cooperação entre os países. Ainda bem – pois ela tinha sintomas particularmente terríveis.
História – A doença atormentou a humanidade por mais de 3 000 anos. Até figurões como o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França tiveram a temida doença.
Contaminação – O Orthopoxvírus variolae era transmitido de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias.
Sintomas – Febre, seguida de erupções na garganta, na boca e no rosto. Posteriormente, pústulas que podiam deixar cicatrizes no corpo.
Tratamento – Erradicada do planeta desde 1980, após campanha de vacinação em massa.
Gripe Espanhola
20 a 50 milhões de mortos – 1918 a 1919
A doença apareceu em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, e ficou conhecida com esse nome porque a Espanha foi o país que relatou mais casos. Mas ela pode ter surgido em outro lugar (há registros de casos similares na França e na Inglaterra, em 1916).
História – O vírus Influenza é um dos maiores carrascos da humanidade. A mais grave epidemia foi batizada de gripe espanhola, embora tenha feito vítimas no mundo todo. No Brasil, matou o presidente Rodrigues Alves.
Contaminação – Propaga-se pelo ar, por meio de gotículas de saliva e espirros.
Sintomas – Fortes dores de cabeça e no corpo, calafrios e inchaço dos pulmões.
Tratamento – O vírus está em permanente mutação, por isso o homem nunca está imune. As vacinas antigripais previnem a contaminação com formas já conhecidas do vírus.
Tifo
3 milhões de mortos (Europa Oriental e Rússia) – 1918 a 1922
O nome vem do grego tuphos, que significa “enevoado” – uma referência ao estado de confusão mental que a doença provoca em suas vítimas. Não confundir com a febre tifóide, que é causada por outro tipo de bactéria.
História – A doença é causada pelas bactérias do gênero Rickettsia. Como a miséria apresenta as condições ideais para a proliferação, o tifo está ligado a países do Terceiro Mundo, campos de refugiados e concentração, ou guerras.
Contaminação – O tifo exantemático (ou epidêmico) aparece quando a pessoa coça a picada da pulga e mistura as fezes contaminadas do inseto na própria corrente sangüínea. O tifo murino (ou endêmico) é transmitido pela pulga do rato.
Sintomas – Dor de cabeça e nas articulações, febre alta, delírios e erupções cutâneas hemorrágicas.
Tratamento – À base de antibióticos.
Febre Amarela
30 000 mortos (Etiópia) – 1960 a 1962
Ela é causada por um vírus, que ataca o fígado. O órgão para de funcionar direito, e com isso há o acúmulo de bilirrubina no sangue – um pigmento que deixa a pele e a parte branca dos olhos com tom amarelado (daí o nome da doença).
História – O Flavivírus, que tem uma versão urbana e outra silvestre, já causou grandes epidemias na África e nas Américas.
Contaminação – A vítima é picada pelo mosquito transmissor, que picou antes uma pessoa infectada com o vírus.
Sintomas – Febre alta, mal-estar, cansaço, calafrios, náuseas, vômitos e diarréia. 85% dos pacientes recupera-se em três ou quatro dias. Os outros podem ter sintomas mais graves, que podem levá-los à morte.
Tratamento – Existe vacina, que pode ser aplicada a partir dos 12 meses de idade e renovada a cada dez anos.
Sarampo
6 milhões de mortos por ano – Até 1963
É uma das doenças mais contagiosas que existem: cada pessoa infectada pode transmiti-la para até 200 outras. Foi controlada com a criação de vacinas – mas voltou a dar as caras, no começo dos anos 2000, devido à relutância de alguns pais em vacinarem seus filhos.
História – Era uma das causas principais de mortalidade infantil até a descoberta da primeira vacina, em 1963. Com o passar dos anos, a vacina foi aperfeiçoada, e a doença foi erradicada em vários países.
Contaminação – O sarampo é causado pelo vírus Morbillivirus, propagado por meio das secreções mucosas (como a saliva, por exemplo) de indivíduos doentes.
Sintomas – Pequenas erupções avermelhadas na pele, febre alta, dor de cabeça, mal-estar e inflamação das vias respiratórias.
Tratamento – Vacina, aplicada aos nove meses de idade e reaplicada aos 15 meses.
Malária
Mais de 600 mil mortos por ano
Ela é endêmica em partes da América Latina, da Ásia e da África subsaariana – esta última é a região mais afetada. Em 2021, houve 247 milhões de casos de malária no mundo, com 619 mil mortes.
História – Em 1880, foi descoberto o protozoário Plasmodium, que causa a doença. A OMS considera a malária a pior doença tropical e parasitária da atualidade, perdendo em gravidade apenas para a Aids.
Contaminação – Pelo sangue, quando a vítima é picada pelo mosquito Anopheles contaminado com o protozoário da malária.
Sintomas – O protozoário destrói as células do fígado e os glóbulos vermelhos e, em alguns casos, as artérias que levam o sangue até o cérebro.
Tratamento – Não existe uma vacina eficiente, apenas drogas para tratar e curar os sintomas.
Aids
22 milhões de mortos – Desde 1981
O desenvolvimento de remédios antivirais fez com que ela deixasse de ser uma sentença de morte. Mas continua sendo essencial adotar medidas de proteção, como o uso de preservativos.
História – A doença foi identificada em 1981, nos Estados Unidos, e desde então foi considerada uma epidemia pela Organização Mundial de Saúde.
Contaminação – O vírus HIV é transmitido através do sangue, do esperma, da secreção vaginal e do leite materno.
Sintomas – Destrói o sistema imunológico, deixando o organismo frágil a doenças causadas por outros vírus, bactérias, parasitas e células cancerígenas.
Tratamento – Não existe cura. Os soropositivos são tratados com coquetéis de drogas que inibem a multiplicação do vírus, mas não o eliminam do organismo.
Fontes Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fundação Oswaldo Cruz