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Nova Zelândia freia coronavírus e começa a aliviar quarentena

Lockdown restritivo, muitos testes e rastreamento da cadeia de infecção: essa é a receita de sucesso do país, um dos destaques positivos no mundo no combate à Covid-19.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 29 abr 2020, 18h48 - Publicado em 29 abr 2020, 18h27

O governo da Nova Zelândia começou, na última segunda-feira (27), a aliviar as medidas de isolamento social após mais de cinco semanas de quarentena extrema. O país é visto internacionalmente como um dos exemplos no combate à pandemia, somando apenas 1.474 casos (entre confirmados e prováveis) e somente 19 mortes. Além disso, 1.229 dos que foram infectados já se curaram – 82% do total.

Nas últimas duas semanas, o número de novos casos registrados por dia foi baixo: hoje (dia 29), só mais 2 casos entraram para as estatísticas. Além disso, nenhum caso de transmissão comunitária (ou seja, cuja origem não é identificável) foi registrado nos últimos dias. Isso significa que o país atingiu seu objetivo de controlar o vírus, segundo Ashley Bloomfield, Ministro da Saúde da Nova Zelândia, já que é possível rastrear todas as infecções.

A primeira-ministra Jacinda Ardern comemorou os bons resultados ao anunciar a revogação das medidas de isolamento. “Nós vencemos essa batalha. Mas precisamos permanecer atentos para manter a vitória”, disse. Segundo Ardern, 400 mil habitantes do país já foram liberados para o trabalho na segunda-feira, e a economia voltará a operar em 75% de sua capacidade. Escolas reabriram nesta quarta-feira para crianças cujos pais precisam voltar a trabalhar, e restaurantes e lojas voltarão a funcionar de forma limitada. Nos próximos dias, espera-se que um milhão de habitantes retomem parcialmente a normalidade, mantendo certos padrões de higiene e precaução.

Algumas medidas de isolamento permanecerão, porém. A ideia é passar de um lockdown de nível 4 – o mais restritivo possível – para um de nível 3, onde a economia volta a funcionar parcialmente, mas o distanciamento social ainda permanece para atividades de lazer e não essenciais, por exemplo. Aglomerações desnecessárias continuam proibidas, mas atividades como velórios poderão acontecer sob certas condições.

Qual a receita do sucesso?

A Nova Zelândia é um dos países que tem tido os melhores resultados durante a pandemia. Um dos fatores que ajuda a explicar isso é sua pequena população, que sequer chega aos 5 milhões de habitantes. Mas não é só isso: mesmo ajustando os números per capita, a nação continua a se destacar positivamente.

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O fato de ser um país insular relativamente isolado do mundo ajuda, já que há pouco tráfego aéreo em comparação com países maiores. Além disso, o primeiro caso foi confirmado apenas no fim de fevereiro por lá – depois que o mundo já assistia à Europa enfrentar uma enorme crise –, o que deu tempo para as autoridades do país se prepararem.

Mas um fator definitivo foi o modo como o governo resolveu enfrentar o vírus: de forma rápida e incisiva. No começo da pandemia, modelos matemáticos mostravam que mesmo a pequena nação poderia enfrentar problemas graves se nada fosse feito. E por isso as autoridades decidiram agir para evitar o pior.

 

No dia 14 de março, o governo anunciou que qualquer pessoa que entrasse no país deveria ficar em isolamento por 14 dias. Na época, a medida foi vista como uma das mais restritivas do mundo em relação a fronteiras – e a Nova Zelândia só tinha 6 casos registrados. Apenas cinco dias depois, a primeira-ministra proibiu que estrangeiros entrassem no país, que tinha 28 casos.

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No dia 23 de março, o país optou por entrar em “lockdown”: o tipo mais restritivo de quarentena, em que apenas serviços essenciais funcionam e a maioria da população deve ficar em casa. Alguns, dentro e fora do país, criticaram a medida por ser radical demais para um país que só tinha 102 casos confirmados e 0 mortes. Mas, cinco semanas depois, a escolha parece ter tido efeito.

O país também vem conduzindo um bom número de testes: são 8 mil por dia, segundo o governo. Outros países que vem testando em massa sua população também estão tendo bons resultados no combate à doença, como Islândia, Alemanha e Coreia do Sul, por exemplo. Mas a Nova Zelândia tem um bônus: as autoridades estão conseguindo fazer um ótimo trabalho de rastreamento das infecções – ou seja, identificar e testar a maioria das pessoas que tiveram contato com doentes. Isso permite que o país concentre seus testes em pessoas prováveis e saiba exatamente quem infectou quem, otimizando ainda mais os recursos de testagem.

Nem tudo é positivo, é claro. A economia do país parece ter sido bastante afetada, tanto pelo lockdown quanto pela queda expressiva do turismo em seu território. Os impactos econômicos ainda não estão claros, mas um recente relatório estimou que a taxa de desemprego do país pode saltar de 4% para 13% num futuro próximo. Uma estimativa feita por uma empresa privada chegou a cravar 25%.

Mesmo assim, a população do país parece estar aprovando o caminho escolhido pelo governo: 87% disseram concordar com as medidas, contra apenas 8% que pensam que são muito extremas. E o próprio governo já anunciou que tem planos para enfrentar a crise econômica: “Faremos tudo o que pudermos para garantir que lutaremos contra os impactos econômicos da mesma maneira que fizemos com o problema de saúde pública”, disse Ardern.

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