O prumo do corpo, o ouvido
O ouvido zela pelo seu equilíbrio. Ele avisa o cérebro se você está deitado ou em pé, parado ou dando cambalhota.
Lívia Lisbôa
O que é mais difícil: equilibrar-se com as duas pernas no chão ou sobre uma prancha de surfe numa onda? Para o ouvido, o trabalho é o mesmo. A diferença está no esforço que os músculos têm de fazer. Você só mantém o equilíbrio porque possui um minúsculo sistema chamado vestibular. Ele tem esse nome porque no ouvido interno (conhecido como labirinto) existe um vestíbulo, uma ante-sala que separa a área do equilíbrio da auditiva. O sistema vestibular acompanha tanto os movimentos verticais, para cima e para baixo, quanto os horizontais, para a direita e para a esquerda, para frente e para trás.
Quando um iogue planta uma bananeira, ele coloca em ação duas pequenas bolsas, o utrículo e o sáculo. Dentro delas existem uns cristais muito pequenos, os otólitos, imersos num líquido, a endolinfa. Atraídos pela gravidade, os otólitos mudam de posição. O cérebro capta esse movimento e dá as instruções que mantêm o iogue em equilíbrio na nova posição. Algo parecido acontece quando você mexe a cabeça para os lados. Desta vez, quem trabalha são três tubos semicirculares, que também contêm endolinfa. Se o movimento é para a direita, o líquido, por força da inércia, se desloca para a esquerda. As células dos tubos avisam o cérebro. Os músculos reforçam a informação e os olhos corrigem o deslocamento, explica Mário Munhoz, professor da Universidade Federal de São Paulo.
Quem sabe é super
O que causa enjôo numa viagem de navio é a confusão de informações no cérebro. Os olhos e os músculos dizem que você está parado, mas o seu labirinto, dentro do ouvido, muito mais sensível ao chacoalhar das ondas, registra o contrário. O embate entre os olhos e o ouvido provoca mal-estar.
Bússola desorientada
Entenda por que você sente enjôos e vertigem.
Quando tudo está funcionando perfeitamente, não há problema em viajar de carro ou de navio, em levantar da cama rapidamente ou, ainda, em olhar da janela de um prédio alto. Mas há quem sinta enjôos e vertigens nessas ocasiões. Isso acontece porque o líquido que deveria circular por um dos canais semicirculares acaba banhando todos ao mesmo tempo. E o cérebro não consegue interpretar corretamente os impulsos que chegam até ele. Se isso acontece com freqüência, você tem labirintite. Na realidade, existem mais de trezentas doenças do labirinto. Os tipos mais comuns são a doença de Menière e a vertigem postural. Na primeira, ocorre um acúmulo da endolinfa, o líquido do labirinto, provocando tontura e um zumbido no ouvido. Na vertigem postural, o cérebro recebe uma informação distorcida sobre o que acontece quando a cabeça se movimenta.
Cadê o chão?
No espaço, os astronautas experimentam a sensação de flutuar e têm de se acostumar à perda de referências provocada pela ausência da gravidade. O ouvido interno e os músculos, que antes contavam com ela para orientar os sentidos, passam a mandar informações embaralhadas para o cérebro. Como essa confusão provoca tonturas e enjôos, câmaras especiais são usadas para o treinamento dos astronautas, meses antes das viagens.
AO SABOR DA GRAVIDADE
No sáculo e no utrículo estão os otólitos, pequenos cristais que se deslocam conforme a ação da gravidade, estimulando os cílios. Imersos em uma camada gelatinosa, os cílios recebem a informação e a passam para o cérebro, que interpreta a mudança de posição.
DIREITA, VOLVER!
Cada um dos três canais semicirculares responde a um tipo de movimento da cabeça: para cima e para baixo, para frente e para trás, e para um lado e outro. A endolinfa existente nos canais também se move. As células ciliadas (veja infográfico abaixo) captam esse movimento e mandam a informação para o cérebro.
Um Corpo que Cai, um clássico do cineasta inglês Alfred Hitchcock (1899-1980), tem como tema central a vertigem, o medo de altura. Quase sempre incontrolável, o mal pode ser reforçado por fobias e estados de depressão ou ansiedade. A vertigem também acontece na síndrome do pânico.