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Omeprazol dobra risco de câncer no estômago

Estudo com mais de 60 mil voluntários associou o consumo prolongado do antiácido ao desenvolvimento de tumores

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 16h58 - Publicado em 7 nov 2017, 12h45

Usuários de compostos químicos chamados PPIs – que são o princípio ativo de boa parte dos remédios que combatem gastrite, refluxo e úlceras, como o omeprazol – têm 2,4 vezes mais chances de desenvolver câncer no estômago. A descoberta está em um artigo científico publicado na última terça (31) por pesquisadores da Universidade de Hong Kong.

Os inibidores da bomba de prótons (significado da sigla “PPI” em inglês) atuam diminuindo a produção de ácido pelas paredes do estômago. Estima-se que 40% da população adulta sofra ou tenha sofrido com refluxo gastroesofágico – ou seja, azia – em algum ponto da vida, o que tornou o omeprazol um best seller: no final da década de 1990, era o medicamento mais vendido do mundo.

Por causa do sucesso de público e crítica, ele também foi alvo de muita investigação científica. Seu consumo por períodos prolongados já havia sido associado ao câncer em artigos científicos mais antigos, mas um detalhe impedia os pesquisadores de bater o martelo: uma bactéria, de nome científico Helicobacter pylori, que habita o estômago e poderia ser tão culpada quanto a droga por incentivar o aparecimento de tumores. 

Para evitar essa variável traiçoeira, o médico Ka Shing Cheung e sua equipe analisaram a evolução do estado clínico de 63,4 mil cidadãos de Hong Kong. Todos eles receberam prescrições para uso prolongado de antiácido entre 2003 e 2012, e também tomaram antibióticos para eliminar a H. pylori. Uma parte do grupo usou drogas PPI, como o omeprazol. Outra parte consumiu anti-histamínicos H2, uma família de medicamentos que são menos eficazes, mas têm a mesma função. Ao final do estudo, 153 pessoas tinham desenvolvido câncer no estômago.

Em resumo, era a situação perfeita. A bactéria estava fora da jogada, sem poder influenciar o resultado. E uma parcela dos pacientes não usou omeprazol, o que permitiu comparar seus efeitos colaterais com os de drogas com outros princípios ativos – revelando, assim, o que só os PPIs eram capazes de causar.

Os pacientes que consumiam omeprazol diariamente tiveram câncer com frequência quatro vezes maior que os usuários semanais. Quem se tratou com a droga por mais de um ano se torna cinco vezes mais propenso a desenvolver a doença – de três anos em diante, oito vezes. Em média, o consumo de PPIs aumenta em duas vezes e meia o risco do paciente sofrer com um tumor em longo prazo.

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É importante salientar que o estudo é estatístico: não foi encontrado um mecanismo bioquímico que explique por que, na prática, drogas como omeprazol são capazes de desencadear o problema. Além disso, a análise de uma enorme quantidade de prontuários impediu os pesquisadores de levarem em consideração variáveis específicas, como o consumo de álcool e tabaco. Ou seja: mesmo que os números – combinados à longa lista de estudos já disponíveis sobre os riscos dos PPIs – deem força à associação, você não precisa (nem deve) parar de usar o medicamento. Ainda há muita pesquisa pela frente.

“Há uma clara relação entre o tamanho da dose e o consumo da dose de PPIs e o risco de câncer no estômago”, conclui o artigo científico. “Os médicos devem tomar cuidado ao prescrever medicamentos com PPIs para os pacientes, mesmo após a erradicação da H. pylori.

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