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Paciente morre durante exame e médicos registram o que ocorre no cérebro durante a morte

Estudo de 2022 mostra mudanças na eletroencefalografia de um homem de 87 anos que faleceu durante o exame

Por Bela Lobato
Atualizado em 23 jul 2024, 11h14 - Publicado em 22 jul 2024, 19h00

Os dados de um “acidente” científico sugerem que a vida pode realmente passar diante de nossos olhos quando morremos. Em 2016, um paciente de 87 anos foi submetido a uma cirurgia para tratar um hematoma subdural – um acúmulo de sangue entre o crânio e o cérebro. Segundo os médicos, ele começou a ter convulsões alguns dias após a cirurgia, e a equipe conectou um eletroencefalograma (EEG) para monitorar seu cérebro e suas convulsões.

O paciente teve uma parada cardíaca e faleceu ainda com os eletrodos conectados em seu crânio – é importante notar que ele tinha assinado um documento afirmando que, em caso de parada cardíaca, não deveria ser submetido a tentativas de ressuscitação. 

Naquele momento, os médicos obtinham pela primeira vez dados sobre as mudanças elétricas cerebrais no momento da morte. Os resultados foram publicados em 2022 na revista Frontiers in Aging Neuroscience.

Durante cerca de 30 segundos antes e depois que o coração do homem parou de bater, os exames mostraram um aumento da atividade em partes do cérebro associadas à recuperação da memória, à meditação e ao sonho. Diferentes tipos de oscilações neurais, também chamadas de ondas cerebrais, estão envolvidas em diferentes funções cerebrais. Os cientistas dizem que ficaram particularmente intrigados com a presença de ondas gama, que sugerem que o cérebro do homem poderia estar reproduzindo memórias de toda a sua vida.

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“Por meio da geração de oscilações envolvidas na recuperação da memória, o cérebro pode estar reproduzindo uma última lembrança de eventos importantes da vida pouco antes de morrermos, semelhante aos relatados em experiências de quase-morte”, especulou Dr. Ajmal Zemmar, neurocirurgião que organizou o estudo, em nota. “Essas descobertas desafiam nossa compreensão de quando exatamente a vida termina e geram importantes questões subsequentes, como as relacionadas ao momento da doação de órgãos.”

A equipe que assina o artigo, composta por cientistas da China, da Estonia, Canadá e dos EUA, chama a atenção para a limitação do estudo, que foi conduzido em apenas uma pessoa. O fato do paciente ser idoso, epiléptico e estar em uma situação grave de sangramento cerebral também complicam as análises. 

Entretanto, os achados deles são compatíveis com testes anteriores, especialmente um que foi realizado em ratos. Em 2013, um estudo em ratos antes e depois da morte encontrou padrões de atividade cerebral semelhantes aos do estudo de Zemmar, levando alguns a especular que a recuperação da memória poderia ser uma experiência universal de mamíferos que estão morrendo.

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Em entrevista a CBC, Zemmar disse que embora não possa  afirmar com certeza que esses padrões de ondas cerebrais estão relacionados a memórias, ele espera que essa descoberta proporcione algum conforto àqueles que perderam seus entes queridos. 

“Espero que isso lhes dê a calma de saber que talvez a pessoa não esteja sofrendo de dor, mas que esteja revivendo algumas das melhores lembranças e momentos da vida antes de partir”, disse ele.

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