Pessoas nascidas sem olfato respiram de forma diferente, segundo estudo
A anosmia, congênita ou adquirida após uma doença como a covid, está associada à depressão e apatia. Seu impacto mecânico na respiração só foi descoberto agora.
O nariz dos mamíferos serve para duas coisas: respirar e cheirar. Muitos minimizam a importância do olfato para os humanos – Freud, por exemplo, o pai da psicanálise, afirmava que o olfato era um resquício animalístico no corpo humano e que estava relacionado a comportamentos patológicos.
Essa ideia permanece: uma pesquisa com 7 mil jovens ao redor do mundo apontou que 53% deles prefeririam perder o olfato do que parar de usar computadores ou celulares (ainda que esse problema os impeça de sentir boa parte do gosto dos alimentos).
Existem pessoas que já nascem sem olfato, a anosmia congênita, enquanto outras têm a chamada anosmia adquirida, que ocorre ao longo da vida e pode ser uma consequência, por exemplo, da covid-19. Vários estudos já comprovaram que, seja qual for a origem da anosmia, a ausência de olfato tem impactos importantes na saúde humana.
As principais consequências da anosmia são depressão e apatia. O sabor dos alimentos, ao contrário do que imaginam os jovens heavy users de redes sociais da pesquisa citada acima, é uma parte essencial da experiência humana.
Outras consequências incluem mudanças nos hábitos alimentares e sociais e a incapacidade de detectar sinais de perigo, como a fumaça. Entre os idosos, por exemplo, quem tem anosmia adquirida tem três vezes mais chances de morrer dentro de cinco anos, em comparação a pessoas de olfato preservado na mesma faixa etária.
Uma nova pesquisa, publicada na última terça (22) na revista Nature Communications, sugere que o impacto na qualidade de vida não vem só da perda do olfato em si, mas também pode ter a ver com a mudança nos padrões de respiração que vem com essa deficiência.
O estudo selecionou 21 participantes com anosmia congênita e 31 outros com o olfato funcional. Todos utilizaram um dispositivo nasal capaz de medir precisamente o fluxo de ar da respiração durante um período de 24 horas.
Os padrões foram bem diferentes entre os dois grupos. Sabe quando um cachorro está respirando de forma curta e rápida, farejando o ar? O estudo provou que as pessoas capazes de cheirar fazem isso com muito mais frequência, mesmo que inconscientemente.
Já os pacientes com anosmia tiveram mais pausas durante a respiração e um pico de fluxo mais baixo ao expirar. Mesmo durante o sono, quando não há mudança de cheiros para estimular o farejamento, os padrões também são diferentes entre os dois grupos.
O estudo é o primeiro a apontar a existência dessas diferenças, mas não se aprofunda em investigar como elas impactam a saúde. Os autores reforçam, entretanto, que a pesquisa tem limitações importantes, como o pequeno número de participantes e o fato de ignorar dados de respiração bucal.
Os autores enfatizam que há outras possíveis razões para a associação entre anosmia e problemas de saúde, mas que a importância dos padrões de respiração não pode ser ignorada. Um exemplo histórico disso é o da descoberta da importância dos suspiros.
Durante a epidemia de poliomielite nos anos 1940 e 1950, máquinas chamadas pulmões de aço foram criadas para facilitar a respiração dos pacientes hospitalizados.
Essas engenhocas foram revolucionárias ao estimular a respiração por meio da mudança da pressão atmosférica ao redor do corpo, que ficava selado dentro de um cilindro de aço.
Apesar do auxílio, muitos dos primeiros usuários dos pulmões artificiais morreram. “Rapidamente ficou claro que, para manter a vida, os pacientes precisavam não apenas respirar ritmicamente, mas também suspirar a cada cinco minutos, pois isso é fundamental para evitar o colapso dos alvéolos nos pulmões.”, dizem os autores no artigo.
“Em outras palavras, além da frequência respiratória apenas, os intrincados padrões dinâmicos do fluxo de ar respiratório podem ser altamente consequentes para a saúde.”