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Praga mais antiga da história devastou a Europa há 5 mil anos

Primo da bactéria que causou a peste negra, micróbio letal teria contribuído para o declínio de populações da época

Por Guilherme Eler
7 dez 2018, 19h46

Um grupo de cientistas europeus descobriu evidências daquela que pode ser considerada a primeira pandemia da espécie humana. Segundo um artigo científico publicado na revista Cell nesta quinta-feira (6), a peste teria se alastrado ainda durante o período Neolítico, há quase 5 mil anos, e alterado a dinâmica de populações por toda a Europa.

A bactéria responsável tem nome e sobrenome: Yersinia pestis. Se você for bom de história, pode ser que se lembre que o micróbio em questão causa a peste negra (ou peste bubônica), doença que tirou a vida de um terço da população europeia no século 14. Uma cepa ancestral dele, no entanto, já fazia estrago milênios antes.

A existência da bactéria veio à tona a partir da análise do DNA de um dente que um dia pertenceu a uma mulher escandinava, morta aos 20 anos. Ela estava enterrada entre outras 77 pessoas em uma vila no oeste da Suécia. De acordo com estimativas dos pesquisadores, a ossada da europeia data entre 5.040 e 4.867 anos.

Ao comparar a variedade encontrada com genomas de outras bactérias do gênero Yersinia que existem atualmente, como Y. pseudotuberculosis, os cientistas descobriram tratar da versão evolutiva mais anciã que se tem notícia até hoje. Diferente da versão mais famosa de praga europeia, o contágio não acontecia pela urina de ratos, mas sim, a partir de gotas de saliva. E foi esse o principal motivo para o espalhamento da bactéria dar tão certo.

Rastreando as origens mais primitivas da espécie, os pesquisadores chegaram à cultura Cucuteni, grupo humano do período Neolítico que ocupava a região que hoje conhecemos como Romênia, Moldávia e Ucrânia. Acredita-se que a Y. pestis se espalhou entre eles há 6,1 mil e 5,4 mil anos.

À época, os Cucuteni contavam com comunidades agrícolas superpovoadas, em que vivam entre 10 mil e até 20 mil pessoas. Dessas vilas, a bactéria se espalhou por meio de rotas comerciais (possibilitadas por tecnologias como a roda e a tração animal) por todos os cantos do continente europeu, desde a fria Sibéria até a Escandinávia. E há indícios de que o micróbio tenha ido ainda mais longe. A descendente moderna de bactérias atuais, por exemplo, teria surgido no oriente asiático há 5,1 mil anos.

“Assim, pela primeira vez na história da humanidade, houve simultaneamente condições perfeitas para o surgimento de doenças, nesses grandes assentamentos, ao mesmo tempo que havia tecnologia suficiente para disseminá-las rapidamente por grandes distâncias”, disse Nicolás Rascovan, que liderou o estudo, à BBC.

De acordo com os pesquisadores, essa relação está diretamente ligada ao declínio de populações europeias observado no período, e iniciado há pelo menos 8 mil anos.

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