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Proteína faz seu coração acreditar que você pratica exercícios

A cardiotrofina-1 acelerou a recuperação de ratos infartados - construindo fibras cardíacas mais longas e saudáveis e melhorando a vascularização do órgão

Por Guilherme Eler
8 ago 2017, 18h26

Seu cérebro é a parte mais fácil: para fazê-lo acreditar que, dessa vez, você mudará de vida e será mais saudável, é só ir até a academia mais próxima e assinar uma matrícula. Pronto, problema resolvido e você pode ter paz interior pelo próximo mês – mesmo sem ir a uma única aula sequer. O problema está na tarefa de enganar os outros órgãos. Não dá para mentir para seu fígado ou rins, por exemplo. Eles sofrem ainda mais diretamente os efeitos de uma vida desregrada, e comprovam na prática que toda aquela história era só papo furado.

Para alívio dos preguiçosos, cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, criaram uma forma de livrar a barra de quem não consegue deixar de lado o sedentarismo. Pode agradecer a cardiotrofina-1 (CT1), proteína que é capaz de tapear seu coração, fazendo o pobre órgão acreditar que você realmente entrou de cabeça de vez em seu projeto verão. A técnica foi descrita em um estudo publicado no periódico Cell Research.

“Quando parte do coração morre, os músculos que sobraram tentam se adaptar ao novo cenário aumentando de tamanho, mas isso acontece de uma forma que não é funcional – o que não melhora o desempenho do órgão”, explica Lynn Megeney, que liderou o estudo.

“Descobrimos que a CT1 faz com que o coração cresça de uma maneira mais saudável, estimulando o crescimento de novos vasos sanguíneos no coração. Isso aumenta a capacidade cardíaca de bombear sangue, da mesma maneira como acontece com exercícios ou quando a pessoa está grávida”, completa o pesquisador.

Para comprovar esses efeitos, os cientistas conduziram testes em culturas de células e também em ratos. A efeito de comparação, as cobaias receberam também uma droga chamada fenilefrina (PE) – que possui o efeito de inchar o coração, mas não de maneira saudável.

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A diferença de eficácia foi notória: as células musculares tratadas com CT1 construíram fibras mais longas e mais saudáveis, enquanto a ação da PE só as deixou mais largas. Além disso, quando o efeito da CT1 terminava, o coração retornava ao seu tamanho original. Porém, o órgão não perdia seu crescimento anormal quando era tratado pela segunda droga. Ratos que haviam sofrido parada cardíaca tiveram recuperação bem mais eficaz quando tratados com a cardiotrofina – 8 semanas depois, o coração estava recuperado quase que por completo.

“Isso sugere que a ação da CT1 é universal, o que nos coloca muito mais perto de uma terapia”, diz Patrick Burgon, coautor da pesquisa. Atualmente, o método mais plausível para recuperar um coração que não anda funcionando direito segue sendo o transplante – um processo complicado e, na maioria dos casos, demorado.

O próximo passo é conseguir financiamento e aprovar as patentes necessárias para iniciar os testes clínicos com humanos. Mas pelo menos até lá, é bom você não se animar muito. Até que a técnica fique disponível em larga escala, é melhor você encontrar uma desculpa melhor – e fazer as pazes de novo com seu coração.

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