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Psicopatas só enxergam recompensas imediatas

A ligação fraca entre duas regiões no cérebro pode explicar por que psicopatas são mais impulsivos e, consequentemente, mais perigosos

Por Marina Demartini, de Exame.com
Atualizado em 11 jul 2017, 13h03 - Publicado em 11 jul 2017, 12h22

A falta de empatia pode ser a principal característica relacionada à psicopatia, mas não é apenas ela que torna uma pessoa um psicopata. Um estudo da Universidade de Harvard, nos EUA, concluiu que é o apelo da recompensa de curto prazo que realmente motiva as decisões de indivíduos com traços psicopatas.

A pesquisa, publicada no jornal Neuron, é baseada em exames cerebrais de 49 prisioneiros em uma instituição carcerária dos Estados Unidos. O objetivo dos cientistas era explicar por que os psicopatas tomam decisões ruins que, muitas vezes, levam à violência ou a outros comportamentos antissociais.

“Durante anos, focamos na ideia de que os psicopatas são pessoas que não podem gerar emoções e, por isso, eles fazem coisas terríveis”, disse Josh Buckholtz, autor principal do estudo, em comunicado. “Não nos preocupamos com os sentimentos que os psicopatas têm ou não têm, mas as escolhas que eles fazem.”

A escolha por trás dos prisioneiros está relacionada com essa tomada de decisões. De acordo com Buckholtz, indivíduos com traços de psicopatia cometem muitos crimes, “e este crime é devastador para as vítimas e astronomicamente terríveis para a sociedade como um todo.”

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O que a equipe de Buckholtz descobriu é que os cérebros dos psicopatas funcionam de uma maneira que os leva a valorizar recompensas imediatas. Com isso, eles não dão tanta atenção para as consequências futuras de suas ações, o que os leva a cometerem atos imorais ou criminosos.

Como a pesquisa foi feita

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores fizeram tomografias por emissão de pósitrons – um exame para obtenção de imagens que informa sobre o estado funcional do cérebro – nos presos que tinham mostrado tendências psicopatas no passado.

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Enquanto os exames eram feitos, os pacientes participaram de um teste de “atraso de gratificação”, em que precisavam escolher entre duas opções: uma quantidade menor de dinheiro imediatamente ou uma quantia maior em um momento posterior.

À medida que eles pensavam em suas decisões, o computador que obtinha as imagens analisava duas regiões do cérebro. Uma delas, o córtex pré-frontal médio, associada à “viagem mental do tempo”, permite que as pessoas pensem sobre as consequências futuras de suas ações. A outra é o estriado ventral, relacionada com a escolha imediata.

Os testes mostraram que os presos mais impulsivos e, portanto, mais psicopatas, exigiram gratificação muito mais cedo – e seus cérebros apresentaram maior atividade na região associada à recompensa imediata. “Isso sugere que a maneira como eles calculam as recompensas é desregulada. Eles supervalorizam a recompensa imediata”, explica Buckholtz.

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Além disso, a equipe descobriu que os “fios” que conectam essas duas seções cerebrais – o córtex pré-frontal médio e o estriado ventral – eram muito mais fracos nos presos com tendência psicopatas.

De acordo com o autor, essa relação é importante, pois há evidência de que o córtex pré-frontal médio usa o processo da “viagem mental do tempo” para alterar a força com que o estriado responde às recompensas. Assim, quanto mais fraca for a resposta do córtex, mais forte será a resposta do estriado, ou seja, das recompensas imediatas.

“São pessoas que tomam decisões ruins”

A psicopatia, também conhecida no meio científico como transtorno de personalidade antissocial, é uma condição mental em que uma pessoa ignora os direitos e sentimentos dos outros, de acordo com a Associação Americana Psiquiátrica. Indivíduos com esse transtorno também tendem a manipular e tratar as pessoas com indiferença, sem mostrar nenhum sinal de remorso ou culpa.

Apesar de o transtorno já ser documentado há anos, até hoje nunca foi comprovado que existe algo disfuncional no cérebro dos psicopatas. Assim, além de encontrar qual é o “motor” neurológico que define a psicopatia, os cientistas de Harvard esperam que os resultados da pesquisa possam ajudar a definir o transtorno de uma maneira mais científica e precisa.

“Se pudermos colocar isso de volta no domínio da rigorosa análise científica, podemos ver que psicopatas não são desumanos, eles são exatamente o que você esperaria de humanos que têm esse tipo particular de disfunção de fiação cerebral”, explica Josh Buckholtz.

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Afinal, segundo o autor, os traços impulsivos dos psicopatas também foram observados em dependentes de drogas e pessoas que comem compulsivamente. “Eles não são alienígenas, são pessoas que tomam decisões ruins.”

Este conteúdo foi publicado originalmente em Exame.com

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