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Separar crianças dos pais causa danos cognitivos permanentes

Política adotada pelos Estados Unidos, que separaram imigrantes ilegais de seus filhos, pode ter consequências gravíssimas - e que duram para a vida toda

Por Felipe Sali
Atualizado em 21 jun 2018, 16h06 - Publicado em 21 jun 2018, 15h17

No período em que os EUA adotaram a política de “tolerância zero” aos imigrantes ilegais na fronteira com o México, desde maio até a última quarta-feira (20/06), mais de 2.300 crianças foram separadas dos seus pais. Os adultos pegos atravessando a fronteira ilegalmente foram levados para um centro federal de detenção de imigrantes – e separados dos filhos, enviados para abrigos supervisionados pelo governo. 

Isos gerou enorme polêmica nos EUA. A Academia Americana de Pediatria, o Colégio Americano de Medicina e a Associação Americana de Psiquiatria manifestaram preocupação e enviaram declarações escritas pedindo ao governo que reverta a medida o mais rápido possível. Mais de 9.000 profissionais e organizações de saúde mental também assinaram uma carta de repúdio. Isso porque há um consenso entre os médicos de que uma experiência como essa têm consequências permanentes no desenvolvimento do cérebro humano. 

Para as crianças, cujo cérebro ainda está em formação, ser fisicamente separado dos pais pode desencadear o que é conhecido como “estresse tóxico”. Quando isso acontece, o corpo responde aumentando a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e os níveis de hormônios ligados ao estresse, como o cortisol. Em um ambiente saudável, o estresse tóxico é temporário e não causa grandes danos. No entanto, quando a criança não encontra o apoio que precisa, as crises de estresse tóxico são prolongadas e podem resultar em sintomas físicos com consequências tão duradouras quanto àquelas experimentadas com o abuso físico e exposição à violência. Algumas nunca se recuperam do trauma.

O estresse tóxico na infância também aumenta o risco de doenças cardíacas, diabetes, depressão e abuso de substâncias e dificuldade de aprendizado na idade adulta. No caso das crianças imigrantes, vale lembrar que elas já sofreram um trauma: muitas estão fugindo de situações de pobreza ou violência em seu país, o que as torna mais suscetíveis. 

A política de tolerância zero continua, mas os EUA revogaram a decisão que separa pais e filhos. Agora, famílias que forem pegas cruzando a fronteira ilegalmente não serão presas, mas terão de se apresentar à Justiça. Mas a nova medida não inclui as 2.300 crianças que já foram separados dos seus pais e se encontram em abrigos. Ou seja, o problema está longe de ser resolvido. 

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