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Ter muitos pesadelos aumenta risco de demência na velhice

Estudo revela que pessoas de meia-idade que experimentam sonhos ruins toda semana têm quatro vezes mais chances de declínio cognitivo já na década seguinte.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 27 set 2022, 09h52 - Publicado em 26 set 2022, 18h59

Para Sigmund Freud, o pai da psicanálise, o sonho é um portal de acesso ao que temos escondido no inconsciente, algo que poderíamos decodificar em sessões de terapia. E cada sonho seria a realização (mental) de um desejo reprimido. Mesmo os pesadelos, já que eles seriam um disfarce desse desejo.

Agora, mais de um século depois dessas teorias, que o austríaco tirou basicamente do relato de seus pacientes e da análise dos próprios sonhos (um método nada científico), a verdade é que a neurociência ainda não tem certeza de por que sonhamos, como o cérebro cria sonhos e se eles têm alguma relação com a nossa saúde. 

Mas um novo estudo de Abidemi Otaiku, neurologista da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, traz revelações sobre as consequências do que sonhamos para nossa saúde mental quando atingimos uma idade avançada. Ele aponta que ter pesadelos com bastante frequência a partir da meia-idade pode estar associado a um risco maior de desenvolver demência senil. 

O pesquisador analisou dados de três grandes estudos americanos sobre saúde e envelhecimento, que incluíram mais de 600 pessoas com idades entre 35 e 64 anos e 2.600 pessoas com 79 anos ou mais.

Todos os participantes estavam livres de demência no início do estudo e foram acompanhados por cinco anos (os participantes mais velhos) a nove anos (o grupo de meia-idade).

No início do estudo, os voluntários preencheram uma série de questionários, dizendo, entre outras coisas, com que frequência costumavam ter pesadelos. Após o período de acompanhamento, eles passavam por exames de saúde mental.

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A conclusão foi de que os participantes de meia-idade que experimentavam pesadelos todas as semanas tinham quatro vezes mais chances de sofrer declínio cognitivo (um precursor da demência) na década seguinte, enquanto os participantes mais velhos com essa mesma frequência de sonhos ruins tinham duas vezes mais chances de serem diagnosticados com demência.

Pior para os homens

E outra descoberta: a conexão entre pesadelos e demência futura se mostrou muito mais forte para homens do que para mulheres. Homens mais velhos que tinham pesadelos toda semana eram cinco vezes mais propensos a desenvolver demência em comparação com aqueles que não lembravam de ter pesadelos. Já nas mulheres, o aumento do risco foi de apenas 41%. 

“Esses resultados sugerem que pesadelos frequentes podem ser um dos primeiros sinais de demência, que podem preceder o desenvolvimento de problemas de memória e pensamento em vários anos ou até décadas – especialmente em homens”, explicou o neurologista Otaiku. “Mas também é possível que ter pesadelos regularmente possa até ser uma causa de demência. Ainda não dá para ter certeza de qual dessas teorias está correta, embora eu suspeite que seja a primeira.”

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