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Vacinação infantil está em queda no Brasil desde 2015, mostra relatório inédito

A cobertura vacinal está abaixo da meta em diversos estados brasileiros. Crianças estão deixando de tomar, principalmente, as segundas doses.

Por Eduardo Lima
17 jun 2025, 18h00

Na última década, os pais e mães do Brasil levaram menos os filhos para tomar vacina, especialmente quando a imunização requer segunda dose ou reforço. É isso que mostra o novo Anuário VacinaBR, organizado pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) com dados sobre vacinação de 2000 a 2023.

Mesmo com sinais de recuperação depois da pandemia, os dados de imunização infantil do país ainda estão, em sua maioria, piores do que dez anos atrás. Em 2023, o último ano analisado no relatório, 80% da população brasileira vivia em municípios que não haviam alcançado as metas de vacinação de crianças do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

O PNI foi formulado em 1973 para organizar as ações de vacinação no país, que até então eram episódicas e não alcançavam a cobertura necessária para erradicar doenças. Desde então, o país teve sucesso em campanhas de vacinação infantil, eliminando a poliomelite e controlando doenças como a caxumba e a coqueluche. Conscientizar a população sobre a importância das vacinas levou décadas, mas deu certo. Agora, essas conquistas parecem estar ameaçadas.

O anuário que mostra as quedas na cobertura vacinal infantil brasileira desde 2015 foi desenvolvido com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim). Dá para acessar o documento completo, com todos os dados organizados, aqui.

Bolsões de baixa cobertura

As bases oficiais de vacinação são enormes e complexas, de difícil navegação para leigos. Por isso, o IQC criou a plataforma VacinaBR, lançada em dezembro de 2023 com informações organizadas a partir dos dados brutos de bancos públicos de vacinação e dados populacionais do IBGE. O anuário organiza os dados mais importantes em um só documento, para ajudar a conscientizar a população e os tomadores de decisões sobre as necessidades do Brasil.

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Com os dados, dá para perceber que as taxas de cobertura vacinal cresciam de 2000 até 2015. A partir daí, várias delas começaram a cair. Em muitos casos, a pandemia de Covid-19 só piorou a situação, num misto de dificuldade de acessar os postos de saúde e desinformação sobre as vacinas.

Os índices começaram a se recuperar a partir de 2022, mas em 2023 nenhuma das vacinas infantis havia alcançado a meta de cobertura em todos os estados do Brasil. Um dos fatores responsáveis por isso é o abandono vacinal entre uma dose e outra.

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Algumas imunizações, como a tríplice viral (que garante proteção contra sarampo, rubéola e caxumba), precisam de duas doses para vingar. A queda entre os níveis de primeira e segunda dose é alta: a maioria dos estados em 2023 ficou abaixo de 50% da cobertura vacinal da segunda dose. São Paulo, o estado com a maior taxa, tem uma cobertura de só 70%. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, a cobertura chega a 100% na primeira dose e cai para 37,8% na segunda vacina.

A queda na cobertura não foi só culpa do abandono vacinal. Menos pessoas estão tomando a primeira dose. Em 2014, todos os estados do Brasil cumpriram a meta de 95% para primeira dose da tríplice viral; em 2023 só quatro unidades federativas alcançaram o objetivo.

Outra imunização que sofreu com o abandono vacinal a partir de 2015 foi a vacina pneumocócica 10-valente, que previne formas graves de pneumonia. Em 2023, só Tocantins e Roraima alcançaram a meta de 95% de cobertura para a primeira dose. O estado que teve a pior cobertura do reforço foi o Rio de Janeiro, que não atingiu nenhuma das metas de cobertura vacinal do PNI analisadas pelo anuário.

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Mesmo que um estado apresente uma média de cobertura vacinal satisfatória, novos problemas aparecem quando se presta atenção aos dados dos municípios. Em alguns estados, como Amazonas e Rio Grande do Sul, a cobertura pode variar de 95% em um município para menos de 50% no município vizinho. Isso cria bolsões de baixa cobertura, regiões vulneráveis ao ressurgimento de doenças antes eliminadas e que impedem a imunização coletiva da população. Vacinas só funcionam bem quando todo mundo toma.

Atualmente, o país corre o risco de ver o retorno de uma doença como a pólio, que teve o último caso registrado por aqui em 1989. Desde 2016, o Brasil não alcança a meta de 95% de cobertura vacinal contra a poliomelite. Em 2023, menos de 20% da população vivia em municípios que haviam cumprido essa meta. Entre 2001 e 2010, esse número variava entre 60% e 75%.

Até a BCG, que ajuda na prevenção da tuberculose e deixa uma marquinha no braço, teve uma queda significativa na cobertura a partir de 2019. Ela é aplicada como dose única logo depois do nascimento, o que facilitava os níveis altos de cobertura. No entanto, onze estados ficaram com índices abaixo dos 80%.

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Os piores números de cobertura de imunização se concentram na região Norte, com índices altos de abandono vacinal. É um problema que só vai ser resolvido com novas campanhas amplas de vacinação, que hoje devem vir acompanhadas de campanhas de combate à desinformação. O Brasil já foi craque de vacinação e de futebol. Estamos perdendo nos dois – mas só uma dessas derrotas coloca a vida das crianças em risco. Não dá para abrir mão desse título.

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