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Vitamina A realmente ajuda a enxergar melhor?

O consumo de cenouras virou até propaganda de guerra contra os nazistas. Entenda como o retinol age na visão e na pele – e se você precisa de suplementos.

Por Bruno Carbinatto
19 jun 2025, 12h00
V

isão noturna pode significar vida ou morte. Coma cenouras e outros vegetais ricos em vitamina A”, diz um cartaz que retrata um soldado de capacete e segurando uma arma. Em outra ilustração, uma mãe atravessa uma rua escura com sua filha, segurando nas mãos uma sacola de mercado cheia de vegetais laranja. Sob a gravura, o texto: “Cenouras te deixam saudável e te ajudam a enxergar em apagões”.

Os cartazes (que podem ser vistos no Museu Mundial da Cenoura, um acervo online sobre, bem, cenouras) foram produzidos pelo governo britânico durante a 2a Guerra Mundial. As autoridades queriam incentivar o consumo do lanche do Pernalonga primeiramente porque, na onda de escassez causada pela guerra, era um dos poucos alimentos que podiam ser encontrados em grande quantidade.

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Mas não só. O Ministério da Defesa britânico divulgava que os militares comiam grandes quantidades de cenoura e que, por causa do pigmento betacaroteno presente nelas, enxergavam muito melhor no escuro do que os alemães. Isso explicaria o sucesso da Força Aérea Real (RAF) contra os nazistas, apesar da superioridade numérica da Luftwaffe.

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Se você se lembra das aulas de história, sabe que isso é balela. Os britânicos dominavam os ares porque foram os primeiros a dominar uma tecnologia inovadora: o radar, inventado por Sir Robert Watson-Watt em 1935. Na época, a tecnologia militar ainda era envolta de segredos (ainda que a inteligência alemã soubesse de sua existência, claro), então o governo divulgava que o sucesso era fruto da supervisão dos soldados-coelhos.

Se até hoje sua mãe aconselha você a comer cenouras para ver melhor, essa campanha é um dos motivos. Mas nem de longe o único: o papiro Ebers, escrito pelos egípcios há 3,5 mil anos e considerado o mais antigo tratado medicinal da humanidade, já recomendava o fígado de boi para tratar problemas de visão – sem nem saber que o ingrediente era rico em vitamina A. Isso porque a associação não está de toda errada. 

A vitamina A – que na verdade é um termo guarda-chuva para várias moléculas, sendo as principais o retinol, o retinal e o ácido retinóico – tem como uma das suas principais funções formar uma proteína chamada rodopsina. Esse pigmento está presente nos bastonetes, as células da retina responsáveis por detectar a luz sem diferenciar cores. Mais especificamente, a vitamina A dá origem a um composto químico chamado cis-11-retinal – que depois se une a uma proteína conhecida como opsina para formar a rodopsina. Quando as partículas de luz, chamadas de fótons, atingem a rodopsina, elas induzem o cis-11-retinal a mudar de forma: ele se torna um trans-11-retinal.

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Essa mudança desencadeia uma série de processos bioquímicos que culminam com o envio de um impulso elétrico até o nosso cérebro. É esse sinal que será interpretado como visão. Depois disso, a molécula trans é convertida de volta ao estado cis por ação de algumas enzimas, reiniciando o ciclo. A cada segundo, essa sequência de eventos se repete milhões de vezes nos bastonetes.

Como as rodopsinas são extremamente sensíveis à luz, elas possibilitam um bom grau de visão noturna – a capacidade de distinguir formatos e distâncias num quarto escuro, ainda que em preto e branco. Sem vitamina A, sem rodopsina – o resultado é uma condição conhecida como “cegueira noturna”.

Para pessoas com deficiência desse nutriente, o consumo de cenouras de fato ajuda (não só cenouras: basicamente tudo que é avermelhado e dá em árvore contém betacaroteno – molécula que, no nosso corpo, se torna vitamina A). Mas, se você já é saudável, entupir-se desse e de outros vegetais de cores quentes não dá superpoderes.

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A falta crítica do nutriente também pode causar cegueira total por causa do ressecamento da córnea. É que a vitamina A tem outra função central: manter o epitélio (os tecidos de revestimento no nosso corpo) saudável. Segundo a OMS, cerca de 250 mil crianças com desnutrição grave perdem a visão todos os anos por deficiência severa de vitamina A.

Justamente por sua atuação no epitélio, a vitamina A é famosa no mundo do skincare e na dermatologia. No universo traiçoeiro dos cosméticos, o retinol é um dos princípios ativos que mais têm evidências científicas a seu favor. Alguns derivados da vitamina A, como o ácido retinoico e a isotretinoína (o famoso Roacutan), só podem ser usados sob supervisão médica.

A suplementação dietética também tem riscos. Não há problema em aumentar a ingestão de cenouras, abóboras, pimentões e outros vegetais que contenham carotenoides, mas o uso de suplementos isolados, como cápsulas de óleo de fígado de bacalhau, não deve ser feito sem acompanhamento. A vitamina A, assim como todas as outras lipossolúveis, não é eliminada facilmente pelo xixi e se acumula no fígado. Em excesso, pode causar danos ao órgão e sintomas diversos – mais graves em mulheres grávidas.

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Tabela, em fundo bege, com quatro características do Retinol.

(Arte/Superinteressante)
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