Wegovy em comprimido? Ensaio clínico sugere que semaglutida oral pode ajudar na perda de peso
Estudo foi financiado pela farmacêutica Novo Nordisk. Entenda.
Um comprimido diário que promete o mesmo efeito das famosas injeções para emagrecer pode mudar de vez o mercado global da obesidade. A Novo Nordisk, gigante farmacêutica dinamarquesa responsável pelo Ozempic e pelo Wegovy, divulgou resultados de um estudo com a semaglutida oral de 25 mg, publicada no New England Journal of Medicine. A promessa é perder tanto peso quanto com a aplicação semanal, sem a necessidade da agulha.
Tanto o Ozempic quanto o Wegovy tem com princípio ativo a semaglutida, mas eles têm dosagens e indicações diferentes. O Ozempic, apesar de ajudar na perda de peso, é aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2. Já o Wegovy foi desenvolvido diretamente para combater a obesidade.
O novo estudo da Novo Nordisk, batizado de OASIS 4, acompanhou 307 adultos com obesidade ou sobrepeso durante 64 semanas. Os participantes que tomaram o comprimido diariamente perderam, em média, 16,6% do peso corporal quando seguiram corretamente o tratamento, número comparável ao obtido com a versão injetável.
Mesmo entre aqueles que não foram totalmente fiéis às instruções, a redução ficou em 13,6%, contra apenas 2,2% no grupo placebo. Um terço chegou a eliminar 20% ou mais do peso.
O estudo também mostrou benefícios cardiovasculares e metabólicos. Participantes relataram maior facilidade em atividades do cotidiano, como caminhar, levantar-se ou dobrar-se, e houve melhora em fatores de risco como colesterol e glicemia.
A pesquisa foi conduzida e financiada pela própria Novo Nordisk – um ponto de atenção para possíveis conflitos de interesse em relação aos resultados do teste.
Vale ressaltar que o número de participantes (307) pode ser considerado baixo para um teste de fase 3 como o OASIS 4. Na jornada de aprovação de um novo medicamento, essa fase costuma contar com milhares de voluntários.
O anúncio do OASIS-4 fez as ações da Novo Nordisk dispararem mais de 5% na bolsa americana. Estimativas indicam que o mercado global de medicamentos contra obesidade pode movimentar até 150 bilhões de dólares na próxima década.
A Eli Lilly, principal concorrente da Novo, também se posiciona na disputa pelo segmento. Em agosto, a empresa anunciou resultados preliminares de seu comprimido experimental, o orforglipron, que em testes com quase 1.700 adultos mostrou reduções de peso e de glicemia comparáveis ou superiores às da semaglutida. O objetivo é disputar a dianteira de um setor onde a demanda é maior do que a capacidade de produção das injeções já disponíveis.
Outro atrativo do comprimido é logístico: diferente das injeções, que exigem cadeia de frio, a versão oral poderia chegar a países onde a falta de refrigeração é um obstáculo.
A semaglutida oral não elimina os efeitos colaterais que já marcam o tratamento injetável. Náuseas, vômitos e desconfortos gastrointestinais foram relatados por 74% dos pacientes, contra 42% no grupo placebo. Cerca de 7% abandonaram o estudo por conta desses sintomas, proporção próxima à do grupo de controle.
Segundo comunicado da empresa, a maioria dos eventos foi de intensidade leve a moderada e de caráter temporário. Ainda assim, não há clareza sobre os impactos do uso contínuo a longo prazo, nem sobre o que acontece após a suspensão do tratamento – em muitos casos, o peso retorna.
A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA equivalente à nossa Anvisa, já aceitou analisar o pedido da Novo Nordisk para aprovar a pílula. A decisão deve sair no último trimestre de 2025. Se confirmada, o comprimido será o primeiro GLP-1 oral autorizado para controle crônico de peso. A farmacêutica já iniciou a produção em suas fábricas nos Estados Unidos para garantir o fornecimento imediato.
Ainda não se sabe como será o impacto nos sistemas de saúde e no bolso dos pacientes. Nos EUA, apenas 2% das pessoas com obesidade usam medicamentos para emagrecer, e o custo elevado continua sendo uma barreira. Mesmo assim, a expectativa do mercado é que a pílula logo se torne um novo padrão de tratamento, especialmente entre os que evitam injeções.
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