6 lições essenciais que aprendemos nas aulas de Educação Física
Entre mortos de vergonha e feridos emocionalmente, todos sobreviveram.
O horário das aulas de Educação Física era alívio raro em meio a tanto tempo passado confinado, em uma carteira apertada dentro de uma sala quadrada. Para muita gente, porém, os momentos na quadra eram uma forma toda especial de tortura. Em meio à polêmica sobre o novo currículo do Ensino Médio no Brasil, relembramos os maravilhosos e desesperadores ensinamentos da Educação Física:
Formação de caráter
De pique-bandeira a beisebol, ser o último escolhido em todas as equipes, para todos os esportes, em qualquer posição (“será que não dá para jogar com um a menos, fessor?”) não foi ruim. Na realidade, nos ensinou a ser resilientes, a não procurar a aprovação dos outros e, sim, a encontrar validação em nós mesmos. Deve ser verdade, porque é o que a minha psicóloga me diz desde a 8ª série.
Biologia e sociologia
Em um ano, você está correndo feliz em direção à bola (ou no sentido oposto), em meio a várias crianças, que são todas como você. No ano seguinte, você “descobre” que elas não são – elas são meninas e meninos, com pelos (e peitos) crescendo, voz falhando, hormônios bombando. Você não está mais correndo feliz: a puberdade chegou e agora você é um saco fedido de suor que gasta uma lata de Axe por dia. Não é de todo ruim: educação física também era terreno fértil para seus primeiros testes (provavelmente muito atrapalhados) na arte de flertar.
Democracia (e apocalipse zumbi)
Se existia um momento democrático da aula de educação física, era a queimada. Todo mundo tinha algo a contribuir: era o único esporte, afinal, em que fugir da bola era uma vantagem! A bolada na cara deixava de ser exclusividade dos menos favorecidos esportivamente. A sala toda se unia em uma dança tribal agressiva – pelo menos até que a galera do “morto” começasse a jogar sério e a matar todo mundo. Quem diria que queimada era spoiler de The Walking Dead.
Psicologia (ou sonhar alto)
A aula de educação física inspirou os desejos olímpicos mais oníricos – atire a primeira bola de queimada quem nunca se imaginou na Seleção Brasileira, qualquer que fosse o esporte. A quadra te deixava voar tão alto quanto os seus sonhos – mas nunca mais alto que a maldita barra do salto em altura. Essa destruía até os sonhos de quem só queria passar um único dia sem pagar mico em público.
Estratégia (ou explorar a fraqueza do seu adversário)
E não estamos falando de sacar sempre em cima de quem tem mais medo da bola (ainda que isso rolasse também). O inimigo principal era o professor – e se você era menina, explorava sem dó o constrangimento dele sobre menstruação. Uma vaga alusão a “cólica” e uma caretinha de dor eram jeitos certeiros de ganhar passe livre para sair da quadra de tortura.
Mindfulness
Está na moda a técnica de esvaziar a mente e estar consciente de cada parte do seu corpo e do mundo à sua volta. Mal sabem os cientistas e gurus que já treinamos isso por anos nos exames de aptidão física. Lá pela terceira volta da corrida em círculos na quadra, sua mente já se esvaziava (de motivos para viver). Depois disso, você passava a perceber o valor do minimalismo: pra quê fazer mais do que um único abdominal ou flexão de braço se aqueles coletes encardidos já tinham sugado sua alegria?