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Arabia Saudita mata aldeões para limpar terreno da sua megacidade no deserto

O exército saudita está destruindo vilarejos da etnia Huwaitat, e autorizando o uso de força letal contra a população que resiste, para abrir caminho para a obra faraônica de 170 km.

Por Caio César Pereira
12 Maio 2024, 19h00

A Árabia Saudita pretende construir uma megacidade futurista no meio do deserto. E esse empreendimento faraônico já tropeça em alguns problemas sociais, como a população de certos povos nativos do local da construção, que se recusa a sair.

Em represália, a monarquia totalitária que governa o país, conhecida por violações dos direitos humanos, autorizou recentemente o uso de força letal para desocupar a região.

A chamada The Line é uma construção com 170 km de extensão, 200 metros de largura e 500 metros de altura. Vista de fora, tem a aparência de um imenso muro espelhado, com tamanho equivalente à distância entre Goiânia e Brasília. 

A ideia é que ela seja completamente autossuntável, não tenha carros e funcione inteiramente com uma matriz energética limpa. Ela faz parte de um plano que do governo saudita para diversificar a economia do país e o torná-lo independente do petróleo. 

No papel, parece muito bonito. Na prática, o desafio beira o impraticável. Os planos iniciais previam todos os 170 km da cidade construídos até 2030, o que não mais acontecerá. A realidade se mostrou bem mais modesta, e o plano até o final da década é que o local alcance apenas 2,4 km extensão. Isso sem falar nos problemas orçamentários. Estima-se que o governo Saudita investirá mais de US$ 500 bilhões nessa utopia.

O local onde será erguida a cidade é habitado por alguns povos nativos da região, como os Huweitats. E, de acordo com uma reportagem da BBC, o governo do país permitiu que os militares utilizassem força letal caso habitantes dessas regiões se negassem a abandonar suas casas. 

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Essa não é a primeira vez que o país é acusado de cometer violações contra os direitos humanos. Em um caso recente, o príncipe regente da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, foi acusado de envolvimento no assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi.

 

 

A construção da megacidade já realocou mais de 6 mil pessoas de acordo com estimativas do grupo de direitos humanos ALQST. A maior parte dessas pessoas pertencem às aldeias Huwaitat, tribos que habitam a região de Tabuk, no noroeste do país, há várias gerações.

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Por meio de imagens de satélite, é possível ver o avanço da força de desocupação. As aldeias de al-Khuraybah, Sharma e Gayal foram completamente demolidas; casas, escolas e hospitais foram destruídos.

Apesar das autoridades sauditas afirmarem que irão oferecer compensações para aqueles que se mudarem, a ALQST argumenta que o valor das indenizações é menor do que o que foi prometido.

As denúncias indicam que aqueles que se recusam a sair são retirados à força. 47 aldeões foram detidos após resistirem aos despejos, e pelo menos um indivíduo foi alvejado e morto por se recusar a permitir a presença do comitê de registros de terras do governo. 

“Quem continuasse a resistir [ao despejo] deveria ser morto, o governo autorizava o uso de força letal contra quem permanecesse em sua casa”, contou em entrevista à BBC o Coronel Rabih Alenezi, ex-integrante das forças armadas do país, agora exilado no Reino Unido. O governo justifica que parte das tribos Huwaitat era composta por muitos rebeldes.

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