Conheça a história de Narges Mohammadi, vencedora do Nobel da Paz de 2023
Ativista iraniana premiada atualmente se encontra presa por ações contra o sistema penal iraniano, além dos direitos das mulheres no país.
Zan – Zendegi – Azadi (Mulheres, Vida e Liberdade). Foi com essas palavras que o comitê norueguês anunciou, na manhã desta sexta-feira, o prêmio Nobel da Paz de 2023 para a ativista iraniana Narges Mohammadi. Ela foi laureada pelo seu esforço em nome da liberdade, sua luta pelo cumprimento dos direitos humanos, e principalmente contra a opressão das mulheres no Irã.
Para o comitê, conceder o prêmio a Mohammadi é uma forma de homenagear a luta pela liberdade e democracia no Irã, além de reconhecer as centenas de outras pessoas que passaram a manifestar contra o autoritarismo no país.
Para Narges Mohammadi, a luta não é de agora. Atualmente, ela se encontra detida na prisão de Evin, em Teerã, capital do Irã, mas desde a sua primeira prisão, em 2011, já foi presa 13 vezes e condenada outras cinco. Foi sentenciada a 31 anos de prisão, além de receber 154 chibatadas.
Conheça um pouco de sua história
Nascida em 21 de Abril de 1952, Narges Mohammadi passou a se destacar como uma das vozes em nome de mais igualdade durante a faculdade. Nos anos 90, enquanto ainda cursava Física na universidade, Mohammadi já se colocava como uma figura eminente sobre a igualdade e os direitos humanos das mulheres.
Após alguns anos trabalhando como engenheira, ela passou a se dedicar mais ao ativismo em 2003, quando começou a trabalhar no Centro de Defensores dos Direitos Humanos, em Teerã. A organização não governamental (ONG) foi criada pela também iraniana Shirin Ebadi, que em 2003 também foi agraciada com o prêmio da Paz.
A primeira prisão de Mohammadi foi em 2011, quando defendia melhores direitos para os ativistas presos e suas famílias. Foi liberada sob fiança dois anos depois, mas logo viria a ser presa novamente.
Em 2015, voltou ao cárcere por seu envolvimento na campanha contra a pena de morte no país. O Irã está entre os países que mais aplicam a pena de morte no mundo, e proporcionalmente, é o país que mais executa seus habitantes. Desde janeiro de 2022, mais de 860 prisioneiros foram condenados à morte no país.
Ela continua presa até hoje, mas isso não a impediu de conduzir manifestações contra o sistema recorrente de tortura e violência sexual que os prisioneiros politicos, principalmente as mulheres, recebem no país.
Essas manifestações resultaram em um livro chamado White Torture (“Tortura Branca”, em português). O livro conta o relato pessoal de Mohammadi na prisão, além de uma série de entrevistas com outras prisioneiras vítimas do regime.
Os manifestos pela Mulheres, Vida e Liberdade
Em setembro do ano passado, o Irã foi novamente palco de manifestações contra a opressão feminina. Mahsa Jina Amini, uma jovem curda de 22 anos foi morta pela chamada polícia da moralidade iraniana pelo uso “incorreto” do véu. O ato gerou um dos maiores protestos em décadas no país, com milhares de iranianos, tanto homens quanto mulheres, participando das manifestações.
A conduta foi duramente reprimida pelo regime. Mais de 500 pessoas foram mortas, com centenas de outras feridas. De acordo com Javaid Rehman, relator especialista da ONU sobre o Irã, as autoridades do regime podem ter cometido crimes contra a humanidade na repressão dos protestos.
Da prisão, Mohammadi passou a organizar ações de apoio junto com outras detentas. Mesmo com o regime impondo condições mais rígidas, ela conseguiu enviar um artigo para o New York Times, com os dizeres “Quanto mais de nós eles aprisionam, mais fortes nos tornamos”.
Foi durante esses protestos que o lema adotado pelos manifestantes (Mulher, Vida e Liberdade) ganhou força. Para o comitê, ele é o reflexo perfeito do trabalho realizada por Mohammadi.
“Mulher, por luta pelas mulheres contra a discriminação e a opressão sistemáticas, vida, pelo seu apoio ao direito das mulheres terem vidas plenas e dignas, e liberdade, pela liberdade de expressão e pelo direito à independência. As demandas por liberdade expressas pelos manifestantes se aplicam não apenas às mulheres, mas a toda a população.”
O prêmio veio justamente na semana em que houve mais um caso envolvendo a polícia da moralidade iraniana. No último domingo, dia 1, uma adolescente foi espancada no metrô de Teerã, por supostamente também não estar usando corretamente o hijab, o lenço islâmico.