Derretimento de gelo pode abrir novas rotas no Oceano Ártico, indica estudo
Projeções de cientistas indicam que o aumento da temperatura do oceano pode abrir caminho para navios acima da Rota Marítima do Norte em 2035.
O derretimento de gelo no Oceano Ártico pode transformar o comércio internacional já na próxima década, abrindo novas rotas marítimas na região. Esta foi a conclusão de um novo estudo que analisou quatro cenários possíveis sobre o futuro das mudanças climáticas.
“A triste realidade é que o gelo já está recuando, essas rotas estão se abrindo e precisamos começar a pensar criticamente sobre as implicações legais, ambientais e geopolíticas [dessa situação]”, afirma Amanda Lynch, da Brown University (Estados Unidos), em comunicado.
A cientista estuda mudanças climáticas no Ártico há quase 30 anos e é autora principal do estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Ela e seus colegas projetaram quatro cenários de navegação, definidos por taxas maiores ou menores de emissão de gases do efeito estufa.
As projeções mostraram que as mudanças climáticas abrirão uma série de novas rotas marítimas em meados deste século, caso os líderes internacionais não consigam restringir o aquecimento global em 1,5 ºC pelos próximos 43 anos – cumprindo a meta do Acordo de Paris, firmado em 2015.
Em outros cenários, o derretimento do gelo – causado pelo aumento da temperatura do oceano – abriria caminho para navios acima da Rota Marítima do Norte por pelo menos um mês ao ano. Isso poderia acontecer já em 2035 ou em 2065, dependendo do controle das emissões de carbono.
O que isso significa
Atualmente, a Rota Marítima do Norte é uma das únicas maneiras pelas quais os navios podem passar pelo Ártico. Ela liga o oceano Atlântico ao Pacífico, e atravessa a zona econômica exclusiva da Rússia – uma faixa de 300 quilômetros de água a partir da costa do país. Essa rota é controlada pela Rússia, que tem taxas e restrições, e só é navegável com a ajuda de quebra-gelos.
Se as águas do Ártico aquecerem ao ponto de abrir caminho para os navios, a situação fica diferente. “A diversificação das rotas comerciais – especialmente considerando novas rotas que não podem ser bloqueadas, porque não são canais [como o Canal de Suez] – dá à infraestrutura de transporte global muito mais resiliência”, explica a cientista.
Segundo Lynch, as rotas do Ártico são 30% a 50% mais curtas do que as rotas do Canal de Suez e do Canal do Panamá – o que diminui o tempo de navegação em 14 ou 20 dias. Caso novas rotas se abram, mesmo que por apenas alguns meses, a Rússia perderia a soberania do tráfego pelo Ártico, pois os navios passariam a atravessar águas internacionais. As companhias de transporte economizariam tempo e dinheiro, e o cenário de rotas internacionais pode se tornar totalmente diferente.