Grupo secreto usa livro falso para conquistar adeptos nos EUA
Dentro de um exemplar velho de 'Tess of the d’Urbervilles', havia apenas registros de novos membros de um grupo fascista e racista
Um livro falso de uma sociedade secreta escondido na biblioteca de uma das universidades mais antigas e prestigiadas dos EUA poderia ser o início perfeito de uma história de detetives. Mas o que vem aí não é um caso de mistério, e sim de ódio: o livro escondia um registro de membros de um grupo de extrema direita, que tenta espalhar seus ideais pelas universidades do país.
Dentro do livro – um exemplar de Tess of the d’Urbervilles, de Thomas Hardy (romance inglês do século 19)-, não havia texto, e sim diversos envelopes com águias carimbadas. Cada envelope continha uma espécie de formulário de inscrição, com o título “tópicos de interesse”, no qual a pessoa precisava marcar os tópicos de que gostava: coisas como “pós democracia”, “nacionalismo” e “extrema direita”.
Havia, também, um tópico marcado como “HBD”, que significa “human biodiversity” (biodiversidade humana) – ou seja, a falsa ideia de que existem raças melhores e piores entre seres humanos (em outras palavras: racismo). Quem preenchia os formulários também precisava indicar sua disponibilidade e se queria ser colocado em “cargos de chefia”.
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O livro foi descoberto na Universidade Columbia, em Nova York, por um funcionário da biblioteca, que levou-o para a reitoria imediatamente. Aí, no mesmo dia, um grupo chamado Dark Enlightenment (algo como “iluminação obscura”) afirmou ser responsável pelo livro. O DarkEn, como é conhecido em fóruns na internet, teria ajudado a organizar trolls neonazistas em redes sociais neste ano, durante as eleições presidenciais nos EUA. Segundo o grupo, eles estão recrutando membros nas grandes universidades do país, embora ninguém saiba quem eles são: o DarkEn atua de forma secreta, principalmente pela internet – até a comunicação com a reitoria foi feita online.
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O Dark Enlightenment surgiu em 2010, em fóruns virtuais como o Reddit e o 8chan. Entre as ideias mais defendidas entre os membros do grupo, estão o fim da democracia e da ideologia liberal e o início de um regime autoritário, com o poder centralizado. Eles também acreditam em conceitos racistas e machistas – mas não se identificam como nazistas ou fascistas. Para o portal The Daily Beast, um representante do DarkEn de Columbia disse que “o Dark Enlightenment é oposto ao nazismo e ao fascismo. Associar a gente com eles é pura irresponsabilidade jornalística”.
O grupo começou como um tipo de fraternidade, só que de um jeito mais misterioso: no início, eles espalhavam cartazes pela universidade, dizendo “Você é politicamente incorreto? Nós também”. Junto com a mensagem, havia um número de telefone “seguro” para que os estudantes pudessem entrar em contato com o DarkEn. E não é só em Columbia: os militantes do grupo afirmaram ao The Daily Beast que têm ramos na NYU e em “outras universidades da Ivy League” (termo que se refere às oito universidades mais tradicionais dos EUA). Eles também não deram nenhuma prova da existência do grupo em outras universidades e não foram capazes de dizer o tamanho do Dark Enlightenment no país. Ou seja, isso tudo pode só ser uma grande brincadeira, mas não deixa de ser bizarro.