Nas Ilhas Faroé, o Google usou ovelhas para mapear a região
A iniciativa começou com os moradores do pequeno arquipélago dinamarquês – e fez a região entrar no Google Street View.
No extremo norte do Oceano Atlântico, entre a Islândia e a Noruega, há um pequeno arquipélago, formado por 18 ilhas. São as Ilhas Faroé, um território autônomo da Dinamarca, onde vivem 54 mil pessoas.
Faroé é essencialmente rural, e sua principal atividade econômica é a pesca. Ela ganhou autonomia em 1948 e não participa da União Europeia – mas ainda não é totalmente independente, já que precisa dos subsídios enviados pelos dinamarqueses, que controlam a região desde o século 14.
Além das 18 ilhas principais, Faroé tem outras 757 ilhotas e rochedos. Você pode imaginar, então, que o seu relevo é bastante acidentado, composto por falésias (encostas íngremes) e fiordes (estreitos braços de mar que recortam morros e montanhas). Há muitos vilarejos – e poucas estradas que os conectam.
Dada a pequena população e as dificuldades logísticas, as Ilhas Faroé nunca estiveram entre as prioridades do Google no seu projeto de visualização de ruas, o Street View, lançado em 2007. A funcionalidade (alimentada por fotos tiradas, principalmente, com carros equipados com câmeras 360º), nasceu dois anos depois do Google Maps, que é de 2005 (no Brasil, o Street View começou em 2010).
Em 2016, o Street View já estava presente em boa parte dos cantos do mundo. A exceção eram zonas muito remotas e aquelas em que o Google foi impedido de atuar – na China, por exemplo, a plataforma só pode mostrar alguns pontos turísticos do país.
E nada das Ilhas Faroé. A exclusão frustrou o conselho de turismo da região, que decidiu resolver essa situação botando a mão na massa. Ou melhor, as patas.
Exército ovino
Há 80 mil ovelhas nas Ilhas Faroé (sim, mais do que o número de habitantes). Boa parte delas anda livremente por lá – e sozinhas. Sem predadores, a raça que evoluiu na região perdeu (ou nunca desenvolveu) a mentalidade de matilha; afinal, não havia perigo que justificasse andar em grandes grupos para se proteger.
Quem passeia por Faroé costuma encontrar ovelhas perambulando pelas ruas, sozinhas ou em grupinhos. Foi quando o conselho de turismo pensou: “por que não usá-las para mapear as ilhas?”. Os faroenses, então, equiparam os animais com câmeras 360º movidas a energia solar em suas costas. Veja abaixo o vídeo do projeto, intitulado “Sheep View” (“sheep”, em inglês, é “ovelha”):
A ideia pode parecer mais uma jogada de marketing do que uma medida realmente efetiva. Mas o rolê das ovelhas funcionou: os bichos capturaram ótimas imagens das ilhas. E cada registro tinha também informações precisas de latitude e longitude – e isso bastou para que elas pudessem entrar no Google Street View.
A iniciativa eventualmente chamou a atenção do Google. Um mês depois, a empresa forneceu um Trekker (uma mochila com a câmera do Street View) aos habitantes de Faroé. Até pouco tempo, vale dizer, havia um programa de empréstimos desse equipamento (a partir de 2020, o Google passou a aceitar uploads de câmeras pessoais de qualquer usuário).
Além disso, a empresa também mandou alguns funcionários às ilhas. Com isso, o conselho de turismo pôde mapear as ruas e diversos pontos geográficos de Faroé.
Uma passagem aérea para Faroé custa RS$ 11 mil, saindo do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Leva um dia inteiro (há uma demorada conexão em Paris no meio). Mais fácil passear pela simpática capital Tórshavn clicando aqui (as imagens são de setembro de 2016).
As Ilhas Faroé vivem um declínio populacional desde os anos 1990. A maior causa é a migração de jovens (a maioria deles, mulheres), que saem do território para estudar – e não voltam. Não dá para saber se a comunidade faroense vai continuar encolhendo – mas, graças às ovelhinhas (e ao esforço da comunidade), qualquer um pode dar um rolê por lá.