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O que são os Jogos Mundiais Nômades, que homenageiam hunos e mongóis

Essas “Olimpíadas” alternativas celebram a cultura das comunidades nômades da estepe – com esportes que vão do tiro ao alvo em cavalos à caça com águias

Por Manuela Mourão
Atualizado em 26 set 2024, 16h52 - Publicado em 26 set 2024, 12h00

De dois em dois anos, o “Grande Encontro na Estepe” acontece na Ásia Central. O evento é uma competição no estilo olímpico, em que atletas e artistas se reunem para exaltar a identidade cultural de esportes tradicionais de seus antepassados nômades. Este ano, os Jogos Mundiais Nômades aconteceram em Astana, no Cazaquistão, entre os dias 8 a 13 de setembro e contaram com 21 modalidades. 

As raízes das tradições esportivas nômades estão profundamente ligadas às habilidades necessárias para sobreviver nas estepes, refletindo as excepcionais competências equinas que sustentaram séculos de impérios nômades, como os Hunos e os Mongóis. 

A competição é o resultado do casamento entre o festival Naadam, que celebra a cultura mongol com “os três jogos do homem” (luta livre mongol, arco e flecha e corrida de cavalos), e os Jogos Highlands, um festival celta que reúne eventos de força, música e dança. O Mundial Nômade vai além, e traz também eventos de técnica, paciência, gastronomia, vestuário típico e arte.

A cerimônia de abertura reuniu 3.000 atletas de 89 países. O show contou a história da estepe cazaque, desde os antigos guerreiros citas e os mercadores da Rota da Seda até a ascensão da Grande Horde e do canato cazaque no século XV. Os artistas recriaram cenas da vida dos antigos nômades, reunindo-se sob uma yurt (pequenas barracas em que se abrigavam), simbolizando as assembleias que eram realizadas periodicamente para coroar um novo governante.

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Vista da cerimônia de abertura dos 5º Jogos Mundiais Nômades com a participação de mais de 2 mil atletas em 21 esportes tradicionais de 89 países em Astana, Cazaquistão
Vista da cerimônia de abertura dos 5º Jogos Mundiais Nômades com a participação de mais de 2 mil atletas em 21 esportes tradicionais de 89 países em Astana, Cazaquistão (Anadolu / Getty Images/Reprodução)

Quem eram os Nômades de Estepe?

Os nômades de estepe eram povos que habitavam as vastas planícies da Eurásia, uma região que se estende da Hungria até a Manchúria. Adaptados a um ambiente inóspito para a agricultura, esses grupos desenvolviam uma vida itinerante, movendo-se constantemente em busca de pastagens para seus rebanhos. Com o cavalo como aliado indispensável, tornaram-se habilidosos cavaleiros e guerreiros, utilizando suas montarias tanto para a caça quanto para incursões militares.

Ao longo de milênios, esses nômades não só ameaçaram, destruíram e saquearam grandes civilizações, mas também foram responsáveis por trocas culturais, transportando mercadorias, invenções e idiomas ao longo de suas rotas comerciais – a mais conhecida sendo a Rota da Seda

A habilidade em manobrar com rapidez e eficiência no terreno árido tornou-os notáveis conquistadores. Figuras como Átila, o Huno, e Gengis Khan se destacaram na história.

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Os Jogos são uma maneira de honrar a história dos nômades, representando algumas situações que os guerreiros poderiam ter sofrido em formato de esporte. Confira algumas modalidades:

Audaryspak: a luta em cima de cavalos 

Neste estilo de luta, dois competidores tentam derrubar um ao outro de seus cavalos em uma arena circular. As lutas são organizadas por categorias de peso e os lutadores ganham pontos por puxar o adversário ao chão ou empurrá-lo para fora do círculo. Os cavalos que mordem também são penalizados.

Kusbegilik: caça nas alturas

O Kusbegilik envolve caçar animais com a ajuda de aves de rapina treinadas. Vale ressaltar que o processo para domar essas aves pode levar anos, tornando a prática uma das mais tradicionais dos Jogos. As competições incluem categorias com águias, falcões e gaviões, refletindo a herança de caça dos povos da Ásia Central.

Kokpar (ou Buzkashi): rouba bandeira ou rouba cabra?

Este esporte é talvez o mais inesperado do evento. A competição envolve duas equipes de sete cavaleiros que lutam para pegar e levar um objeto até a linha do adversário. Até aí, parece a nossa “bandeirinha”. A grande surpresa é que o objeto em questão é uma carcaça de cabra (ou uma réplica de borracha). O objetivo é derrubar o corpo em um anel ou círculo do lado oposto ao que os times começaram.

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Cavaleiros competem durante a competição Kokboru nos 5º Jogos Mundiais Nômades em Astana, Cazaquistão
Cavaleiros competem nos 5º Jogos Mundiais Nômades em Astana, Cazaquistão (Anadolu / Getty Images/Reprodução)

Tiro com arco: com emoção ou sem emoção?

O tiro com arco pode ser praticado tanto em pé quanto a cavalo. Usando arcos compostos e estribos de ferro, os arqueiros montados atiram no alvo em movimento, enquanto o cavalo percorre uma corrida de 100 metros. Já aqueles que escolheram a modalidade tradicional atiram de uma distância que varia entre 30 e 60 metros de distância do alvo.

Arqueiros dispostos em linha horizontal, há metros de distância de seus respectivos alvos.
Arqueiros dispostos em linha horizontal, há metros de distância de seus respectivos alvos. (Bradley Mayhew/Reprodução)

Togyzqumalaq: o xadrez nômade

Este é um jogo de tabuleiro tradicional que é praticado por dois oponentes. Cada um possui nove buraquinhos em seus respectivos lados e 81 pedras. O objetivo é mover as peças por esses buracos até que cheguem ao “kazan”, o espaço final em que as pedras podem ser coletadas. Os jogadores precisam de estratégia e habilidade para acumular o maior número possível de pedras em suas bases.

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Mas-wrestling: cabo de guerra de Gengis Khan

Aqui também competem dois atletas. Eles ficam sentados no chão de frente um para o outro, divididos por uma baixa tábua de madeira e segurando um bastão. Cada lutador deve apoiar seus pés em lados opostos da tábua e segurar ao mesmo tempo no bastão. A intenção é fazer força para o seu lado, tal como um cabo de guerra, tentando puxar o adversário por cima da tábua.

Dois homens, um de frente ao outro e sentados ao chçao, praticando esporte.
(Bradley Mayhew/Reprodução)

Os Jogos Mundiais dos Nômades vão além do esporte, promovendo uma rica experiência cultural. No centro do evento é possível aproveitar uma vila composta por yurts, barraquinhas de lojas de artesanato e restaurantes locais, onde as pessoas vestem-se como guerreiros medievais e músicos tocam canções folclóricas. 

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A música tradicional, especialmente as interpretadas por um akim (contador que recita poemas épicos), entretém os visitantes. Além disso, os jogos preservam as tradições artísticas e têxteis, oferecendo a participação de mestres artesãos que realizam exibições e aulas de artesanato tradicional.

Em 2024 os Jogos Mundiais Nômades completaram cinco edições. Eles devem retornar em 2026 no Quirguistão, país onde estreou. O evento celebra a cultura e visa preservar e proteger a herança nômade e da estepe, que enfrenta crescentes ameaças da globalização, modernização e mudanças climáticas.

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