Os cavaleiros levam seus cavalos para as Olimpíadas? Eles vão de avião?
Sim para as duas perguntas. E os animais têm até passaporte.
Os atletas olímpicos devem levar seus próprios equipamentos aos Jogos. Dessa forma, os boxeadores levam suas luvas, os skatistas seus skates e os cavaleiros, claro, seus cavalos. Mas não se engane: levar um cavalo não é como viajar com seu cãozinho. Estes animais, que podem ultrapassar os 600 kg, são transportados em aviões exclusivos projetados para eles. E vale dizer que o voo dos atletas equinos é bem mais glamouroso que o de muito passageiro humano.
Enquanto 95% dos cavalos são transportados na chamada classe econômica, os competidores olímpicos têm suas vantagens e realizam a viagem de executiva. Eles são colocados dentro de contêineres com formatos de estábulo. Cabem até três cavalos por baia, mas os atletas de quatro patas têm privilégios e viajam somente em duplas. Eles ficam confortáveis e bem fresquinhos, já que o ar condicionado dentro da aeronave varia entre 14 ºC e 17 ºC – temperatura ideal, inclusive, para evitar transmissão de doenças.
Além de dividir espaço com cavalos adversários, veterinários e tratadores também acompanham os animais na viagem. Os bichões em geral reagem bem os rolês de avião, mas assim como os humanos, um ou outro ficam estressados no processo. Esses podem receber um sedativo considerado leve – uma versão equina do “toma um Dramin”. Cobertores de compressão também podem ser utilizados para reduzir a ansiedade.
(Ficou curioso para ver? O vídeo abaixo tem imagens.)
Mesmo assim, fique sabendo que o voo é mais tranquilo do que aquele que nós costumamos experimentar – o piloto faz uma aterrissagem mais longa para que os animais não enfrentem a desaceleração repentina.
A alimentação também é especial. Os cavalos recebem um feno conhecido como haylage ou pré-secado, que apresenta maior valor nutricional, além de muita água para garantir que os gigantes não fiquem desidratados. Se os tratadores perceberem que algum dos animais está suando, mas não está bebendo água, eles podem acrescentar um pouquinho de suco de maçã para atrair o animal.
E se você está se perguntando se os animais precisam de passaporte, a resposta é sim. O documento deve trazer informações como onde o cavalo nasceu, em quais locais já esteve, seu tamanho, histórico de saúde, quais vacinas tomou e se estão atualizadas etc. Os equinos também devem passar por uma quarentena antes de viajar, que é estipulada pelo país que vai receber o competidor. É importante ter este controle para evitar a transmissão de doenças entre os animais e garantir que zoonoses restritas a determinados locais não se espalhem para outros.
Para ir ao Japão, os animais enfrentaram uma quarentena de sete dias. Antes disso, tiveram que passar 60 dias sediados em um destes países: Argentina, Austrália, Bielo-Rússia, Canadá, Chile, Japão, Arábia Saudita, Nova Zelândia, Noruega, Qatar, Singapura, Suíça, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, EUA e todos os países-membros da União Europeia (UE). Ao chegar no Japão, os animais não foram acomodados na Vila Olímpica com os atletas, mas em outro alojamento. O transporte para os centros de competição é feito em caminhões climatizados.
Mais de 300 cavalos foram levados à Tóquio, 247 para as Olimpíadas e 78 para as Paraolimpíadas. A movimentação envolveu 19 aviões e 185 viagens de caminhão. O primeiro voo, feito em um Boeing 777-F SkyCargo da Emirates, transportou 36 cavalos, somando 22 toneladas. O avião partiu da Europa e levava competidores da Alemanha, Grã-Bretanha, Holanda, Dinamarca, Marrocos, Japão e Brasil. Além dos animais, veterinários e tratadores, foram levadas 13,5 toneladas de equipamentos, mais de 12 toneladas de ração e 40 litros de água por animal.
Os cavaleiros e amazonas podem competir em três categorias: adestramento, salto e CCE (concurso completo de equitação, com adestramento, corrida cross-country e saltos). O esporte envolvendo os animais não é o forte do Brasil. O país possui apenas três medalhas na história do hipismo, todas conquistadas na categoria salto. Duas delas são de bronze, obtidas em 1996 e 2000. A terceira é de ouro, angariada em 2004 pelo cavaleiro Rodrigo Pessoa e o cavalo Baloubet du Rouet.