Cientistas criam película que faz suor evaporar seis vezes mais rápido
Com alta capacidade de absorção, ela promete resolver o problema dos maus odores. Além disso, é capaz de transformar o suor em eletricidade – o que, no futuro, pode alimentar roupas inteligentes.
Apesar de indesejado e incômodo para muita gente, o suor é um recurso vital. Graças à transpiração, conseguimos regular a temperatura do corpo – suportando temperaturas bem mais altas do que nosso termômetro interno indica.
Funciona assim: ao perceber que está quente, o cérebro (mais especificamente, o hipotálamo) envia um sinal às glândulas sudoríparas – nosso organismo, afinal, precisa se manter na faixa dos 36,5ºC. Quando começamos a suar, a água rouba calor do corpo e, ao ser evaporada, deixa a superfície em que estava (a pele) mais fresquinha. Dessa forma, o calor interno se dissipa, e a gente não superaquece.
Agora, cientistas da Universidade Nacional de Singapura desenvolveram uma tecnologia que promete aperfeiçoar esse processo natural: uma película que, incorporada em roupas ou palmilhas de sapato, é capaz de absorver 15 vezes mais umidade que tecidos convencionais. Isso faz com que a evaporação do suor seja até seis vezes mais rápida que o normal, o que, em tese, aumentaria o conforto (e a sensação de frescor) ao praticar exercícios, por exemplo.
A película é composta, principalmente, por cloreto de cobalto e etanolamina, que são higroscópicos – ou seja, possuem alta afinidade com água, e conseguem absorvê-la no ambiente. É como aqueles sachês de sílica gel (outra substância higroscópica), que você coloca no armário para desumidificá-lo, só que em versão turbinada.
Conforme absorve o suor, a película muda de cor, de azul para rosa – quanto mais perto do rosa, mais úmida ela está. Além disso, quando exposta a luz solar, a água acumulada é liberada rapidamente, o que aumenta a vida útil do material. Segundo os pesquisadores, a película pode ser “regenerada” e reutilizada por mais de 100 vezes.
A energia que vem do suor
No teste, os cientistas colocaram a película entre membranas de politetrafluoroetileno (PTEE), mais conhecido como Teflon (sim, o material que reveste as suas panelas também é usado em roupas, para torná-las impermeáveis e resistentes a manchas). Depois, ele foi testado na região das axilas e em forros e palmilhas de sapatos. O protótipo da palmilha, vale dizer, foi feito em impressão 3D.
“A transpiração nas axilas é algo embaraçoso e frustrante”, disse em comunicado o professor Tan Swee Ching, que liderou o estudo, publicado no periódico Nano Energy. O mau odor, diga-se, não vem do suor em si, que não tem cheiro, mas do contato dele com as bactérias da pele – se as axilas e a roupa permanecerem úmidas por muito tempo, a situação só piora.
Quanto aos pés, para além dos maus odores, o acúmulo de umidade pode ocasionar problemas de saúde, como bolhas, calos e infecções por fungos – como micoses. Os pesquisadores, agora, esperam trabalhar com empresas para incorporar a tecnologia em novos produtos.
Mas resolver o problema do acúmulo de transpiração não é o único objetivo. A tecnologia desenvolvida também possui oito células eletroquímicas, que conseguem gerar 0,57 volt de eletricidade ao absorver umidade. A água armazenada na película funciona, então, como um eletrólito – soluções capazes de conduzir corrente elétrica.
Com isso, os cientistas esperam que, no futuro, a energia acumulada na película seja suficiente para abastecer os wearables – dispositivos eletrônicos vestíveis, como relógios e roupas inteligentes. Uma boa recompensa para depois de tanta suadeira.