Decifrando a esfinge em computador
Um egiptólogo e um arquiteto, ambos americanos, conseguiram produzir em computador um retrato riquíssimo em detalhes do que deveria ter sido a esfinge originalmente.
Durante pelo menos quatro milênios, a Grande Esfinge do Egito, com sua cabeça de homem e seu corpo de leão, tem montado guarda às pirâmides de Gizé, nas proximidades do Cairo. Mas, ao longo dos séculos, a areia, o vento e a interferência humana maltrataram a misteriosa escultura encomendada pelo faraó Quéfren há 4500 anos – ou, segundo uma nova hipótese, erguida ainda há mais tempo. Recentemente, porém, um egiptólogo e um arquiteto, ambos americanos, trabalhando com computadores pessoais, conseguiram produzir um retrato riquíssimo em detalhes do que deveria ter sido a esfinge originalmente. A proeza abre um vasto campo de possibilidades para o estudo e a preservação de monumentos antigos.
Por mais de uma década, o pesquisador Mark Lehner, do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, mediu e mapeou a esfinge, casando o mais convencional dos recursos – uma fita métrica – com uma câmara fotográfica especial, que lhe permitiu obter imagens chamadas fotogramétricas da estrutura inteira. Depois, o arquiteto Thomas Jaggers, da firma Jerde Partnership, de Venice, Califórnia, digitalizou os mapas e desenhos feitos a mão, criando um minuncioso registro eletrônico do monumento no seu estado atual. Desenhos por computador não são propriamente novidade. Mas o que chama atenção nesse caso é o fato de ter sido utilizado um simples micro IBM e um programa comum, Autocad.
Resultou um wire-frame (equivalente a um desenho de curvas de nível de um terreno) tridimensional. Em seguida, os pesquisadores recorreram a um software chamado Quicksurf, usado, entre outras coisas, para mapear o fundo do oceano, a fim de revestir o modelo e lhe dar assim uma aparência mais realista. Em 20 segundos o programa criou uma “pele” para a esfinge. A partir daí, Lehner e Jaggers se puseram a recriam a face original do monumento, com nariz (decepado por vândalos nos século XV) e barba (desaparecida em data incerta). A reconstituição eletrônica baseou-se em esculturas existentes em museus. Para o rosto, utilizou-se uma estátua do faraó Quéfren. A peça foi fotografada, digitalizada e incorporada ao conjunto. As pesquisas também indicaram que uma máscara mortuária de um dos sucessores de Quéfren, o faraó Amenhotep II, provavelmente tinha sido acrescentada ao monumento, entre as patas do leão. Repetiu-se o processo: os pesquisadores digitalizaram a foto de uma estátua do faraó e ela passou a fazer parte da montagem eletrônica. A derradeira etapa consistiu em acrescentar textura e cor ao modelo. O resultado parece uma foto verdadeira, com sombras e sugestão de volumes.
O principal mérito do projeto, porém, não é mostrar como devia ter sido a esfinge no passado, mas contribuir para a conservação do monumento, como ele é hoje. A modelagem em computador permitirá acompanhar o efeito de erosão sobre a estátua e criar estruturas de proteção adequadas. “Claro que queremos entender o passado”, explica Lehner. “Mas a meta principal é congelar o presente”.