E Se… Os continentes não tivessem se separado?
Em um mundo assim, pobre em biodiversidade, a vida é mais vulnerável - como há poucas espécies, aumentam as chances de que uma única tragédia destrua todas
A Pangea foi um imenso continente que existiu entre 280 e 180 milhões de anos atrás, numa época em que o mundo era habitado pelos dinossauros. Naquele tempo, quase toda a massa continental que hoje compõe as Américas, a Europa, a África, a Oceania, a Ásia e a Antártida estava grudada e formava uma imensa massa contínua de terra. Acontece que os continentes e os oceanos estão assentados numa fina casquinha que flutua ao sabor da correnteza de rocha derretida que recheia a Terra. Com o tempo, essa correnteza despedaçou a Pangea e jogou cada pedacinho para um lado, dando origem aos continentes que conhecemos hoje.
Se essa casquinha fosse mais resistente, ou a correnteza mais fraca, a Pangea continuaria unida até hoje e este seria um mundo bem diferente. O efeito mais imediato é que existiriam menos espécies animais e vegetais sobre a Terra. “O isolamento geográfico aumenta a diversidade biológica”, afirma o paleontólogo Reinaldo Bertini, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, interior de São Paulo.
Foi a separação dos continentes que fez com que grupos de animais e vegetais tomassem caminhos evolutivos diversos e começassem a se diferenciar. A enorme diversidade das Ilhas Galápagos (América do Sul) e de Madagáscar (África), que se separaram de seus respectivos continentes, são exemplos do efeito dessa divisão. Com a fragmentação da Pangea, o número de espécies de dinossauros cresceu. Os mamíferos, que, naquele tempo, não passavam de pequenos quadrúpedes mais insignificantes que os ratos modernos, também começaram a se diversificar.
O clima também mudaria radicalmente – seria muito mais seco. Hoje, com vários continentes pequenos, os ventos úmidos que sopram do mar levam chuva até o interior. Com a Pangea isso não aconteceria. Haveria uma massa de terra tão imensa que seu centro jamais seria tocado pelos ventos úmidos. Com toda a certeza, proliferariam os desertos e eles seriam muito maiores e mais inóspitos que o Saara. O Brasil, por exemplo, seria árido como o Afeganistão. As florestas, onde se concentra a maioria das espécies, seriam poucas e concentradas no litoral.
Em um mundo como esse, pobre em biodiversidade, a vida é mais vulnerável – como há poucas espécies, aumentam as chances de que uma única tragédia destrua todas. Seria essa Terra que, há 65 milhões de anos, se chocaria com um asteróide, levantando uma imensa nuvem de poeira que bloquearia o Sol e mataria boa parte das plantas. No mundo real, dividido em continentes, esse desastre cósmico foi suficiente para matar de fome os dinossauros, abrindo espaço para que os mamíferos crescessem e conquistassem os ecossistemas. Mas, nesse nosso mundo fictício, o da Pangea, a tragédia teria sido maior ainda. Os mamíferos, que seriam poucos, talvez se extinguissem inteiramente junto com os dinossauros. Com isso, seus descendentes – baleias, vacas, cachorros, macacos, humanos – jamais poderiam nascer.
Mas a tragédia dificilmente varreria toda a vida do planeta. “Sempre sobra alguma coisa”, diz Bertini. É pouco provável que os insetos se extinguissem – eles são pequenos, precisam de pouca comida e provavelmente se alimentariam dos cadáveres dos outros seres. Com o tempo, esses insetos dominariam o planeta e, sem a concorrência de mamíferos e dinossauros, iriam lentamente ganhar tamanho. Nesse cenário, a Terra chegaria aos dias de hoje dominada por formigas enormes, moscas imensas, baratas gigantes. Que bom que a Pangea se dividiu.