Os planetas que jamais nascerão
Os embriões de outros mundos em torno de estrelas distantes vão ser torrados pela radiação ultravioleta.
Thereza Venturoli
Você já imaginou que o Cosmo pode estar cheio de planetas que nunca vão vingar? Pois saiba que o Universo é capaz de abortar embriões planetários. E você está assistindo a um desses abortos toda vez que olha para a Constelação de Órion, onde está a nebulosa de mesmo nome (veja no Mapa do Céu, ao lado). A uma distância de 1 500 anos-luz da Terra, o espetáculo só é visível por meio de potentes telescópios, como o Hubble (1 ano-luz mede 9,5 trilhões de quilômetros). Foi com ele que astrônomos da Universidade de Toronto estudaram a nuvem de gás e poeira existente em torno de jovens estrelas, do tamanho do nosso Sol, na região do Trapézio, em Órion. Em condições propícias, essa nuvem deveria se condensar até produzir uma ninhada de planetas. O nosso sistema solar, inclusive a Terra, surgiu assim. Só que o Trapézio não é um berçário dos mais seguros. Nas proximidades dos planetas-bebês e seus sóis há quatro estrelas muito pesadas e brilhantes. Os pesquisadores mediram o sopro de luz ultravioleta dessas superestrelas e concluíram que a radiação vai esquentar a beirada da nuvem até ela evaporar inteira, em apenas 1 milhão de anos. Como se calcula que são necessários até 10 milhões de anos para um planeta se formar, os cientistas afirmam que jamais aparecerão ali corpos gasosos gigantes, como Júpiter e Saturno. “Ainda é cedo para apostar nisso”, disse à SUPER Doug Johnstone, líder dos pesquisadores canadenses. ”Mas eu não descartaria a hipótese de surgirem planetas menores e sólidos, como a Terra, no centro da nuvem.” Johnstone explica: ali no centro, a maior concentração de material filtra a radiação. Assim protegido, pode ser que algum bebezinho consiga vingar.
Um sopro muito violento de luz
O berçário de planetas está dentro de uma tempestade energética
As quatro estrelas brilhantes do Trapézio (pontos brilhantes rosados, na foto), em Órion, estão a 1 500 anos-luz da Terra. Na área em destaque, os pequenos caroços esbranquiçados são jovens sóis imersos em gás e poeira que nunca vão virar sistemas solares.
Morrer de brisa
A imagem acima é um close do destaque da foto grande. O objeto maior é o embrião de um sistema solar. O jovem sol no centro é circundado por gás e poeira. A radiação ultravioleta das grandes estrelas aquece a nuvem a até 10 000 graus Celsius e evapora a nuvem, produzindo a “cauda” que você vê aqui.