Pirataria vira religião na Suécia
Suecos criam igreja para celebrar - e defender - o direito de baixar músicas, filmes e games livremente
Patrícia Machado
O ato de copiar é sagrado. Essa é a doutrina e único mandamento do kopimismo, movimento que acaba de ser reconhecido como religião pelo governo da Suécia. O nome é uma corruptela de copy me (copie-me, em inglês), e exprime bem a meta do grupo: defender o direito de compartilhar arquivos na internet. Mais de 5 mil pessoas já se associaram à Igreja Missionária do Kopimismo, que foi fundada pelo estudante de filosofia Isak Gerson. “O mundo é feito de cópias. E ele só evolui a partir do momento em que você utiliza as obras de outras pessoas para fazer algo melhor”, diz. Isak se inspirou na saga do The Pirate Bay, site sueco que é o centro da pirataria na internet – tanto que as autoridades internacionais vivem tentando tirá-lo do ar. A Suécia também é a casa do Partido Pirata, que defende a livre troca de arquivos e conquistou duas vagas no Parlamento Europeu em 2009.
O verdadeiro objetivo da religião kopimista é obter resguardo legal para os piratas e impedir que sejam processados. Mas eles ainda não conseguiram isso. “A aprovação significa apenas que eles podem discutir e incentivar o tema sem medo”, explica Pierre Liljefeldt, oficial da Embaixada da Suécia no Brasil. “Isso não significa que a legislação será flexível quanto à pirataria”, completa Bertil Kallner, diretor do Kammarkollegiet, órgão que registra os grupos religiosos do país. Para ter direito aos benefícios que a Suécia dá às religiões, como subsídios do governo, os kopimistas precisarão ser reconhecidos pela Justiça de lá, o que deverá ser difícil (os criadores do Pirate Bay acabaram de ser condenados a um ano de prisão). Por enquanto, a única vantagem obtida pela igreja kopimista é meio irônica: evitar que outro grupo pirateie seu nome.
Ilustração Elias Silveira